sábado, 19 de janeiro de 2019

"RASTEIRAS AMIGAS" NA DISPUTA PELO PODER: DILMA PRIVOU LULA DE RECUR$O$ PARA DISPUTAR A PRESIDÊNCIA EM 2014.

Nunca dei total crédito ao que o Antonio Palocci dizia e, na sua condição atual de faço-tudo-para-não-ficar-em-cana, a credibilidade que ele nunca teve diminuiu ainda mais. 

No entanto, os trechos que a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, divulgou da delação premiada do Palocci são peças que se encaixam perfeitamente no quebra-cabeças que eu já vinha montando das relações entre Dilma Rousseff e Lula, ponto de partida das terríveis desgraças que se abateram sobre o PT nos últimos anos, com fortes repercussões no restante da esquerda.

Então, mesmo com muitas ressalvas, vale a pena trazer tal informação para o blog, permitindo que cada leitor tire suas conclusões. 

Eis o que há de mais significativo no relato da Mônica Bergamo:
O diabo riu por último...
"Segundo Palocci, havia uma ruptura entre Lula e Dilma e dois grupos distintos tinham sido formados dentro do PT. Ele diz que a briga entre os dois começou com a indicação de Graça Foster para a presidência da Petrobras.
A nomeação de Graça (...) representava 'meios de Dilma inviabilizar o financiamento eleitoral dos projetos de Lula retornar à Presidência'.
...naquele momento, Dilma tentava se afastar do controle de Lula.  ​[o ex-presidente da estatal Sérgio] Gabrielli era íntimo de Lula, ao passo que Graça era íntima de Dilma. Não havia qualquer intimidade entre Lula e Graça e a relação entre Dilma e Gabrielli comportava permanentes atritos'. 
...O ex-ministro diz que chegou a perguntar ao ex-presidente: 'Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu tríplex?'. E que Lula teria respondido que um apartamento na praia não caberia em sua biografia".
Resumo da ópera: se tudo isto for verdade, a responsabilidade da Dilma nos nossos infortúnios atuais terá sido imensa.

Diretamente, por sua teimosia em retirar do baú de velharias, no primeiro mandato, o nacional-desenvolvimentismo  da década de 1950, acreditando que, por meio de receitas de mais de meio século atrás faria o carro da economia pegar no tranco. O que conseguiu foi incubar uma formidável recessão, que abriu caminho para seu impeachment e para a volta da extrema-direita à Presidência da República.
E indiretamente, porque sua disparatada pretensão de equiparar-se a Lula, descumprindo o combinado entre ambos quando ele a carregou nas costas para o Palácio do Planalto, teve consequências nefastas ao extremo: 
.
— a Presidência ficou praticamente acéfala durante o decisivo ano de 2015, ao fim do qual o grande capital desistiu de vez da Dilma e passou a apoiar sua deposição; e 
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— o abalo que tal situação de impotência deve ter provocado em Lula, o qual, a partir daí, começou a cometer erro após erro, até o mais amargo fim.

8 comentários:

SF disse...

***
Rindo muito.
Celso, você sabe como são estes grupelhos de poder. Uma briga de foice no escuro. Acreditar em algo mais nobre vindo das curriolas é ingenuidade.
Mesmo esta delação do Palocci faz parte de outra intriga na briga pelo controle do dinheiro pago pelos cidadãos.
Assim como as denúncias contra o filho do presidente.
Como se diz no nordeste "é tudo farinha do mesmo saco".

Henrique Nascimento disse...

Imagino que o clima devia estar mesmo tenso nessa época. Lembrar que a justificativa da Marta Suplicy, figura histórica dentro do PT, foi a imposição da Dilma em concorrer em 2014. Todos sabiam que o acerto foi a Dilma ceder ao Lula.

Ricardo Pires disse...

Dilma, aliada à sua arrogância, grosseria, carecia também de capacidade cognitiva política.

Em ministérios estratégicos cercou-se de personalidades frouxas e medíocres, porém, como acontece nestes casos, bajuladores. Seu chefe da Casa Civil [Mercadante] e o titular do Ministério da Justiça [ Zé Cardoso] não estiveram á altura do cargo.

Eu escrevi que carecia, mas carece da capacidade de entender a política. Foi candidatar-se a senadora por MG. Tivesse mais acuidade política seria candidata a deputada federal. Agora, sem imunidade parlamentar, corre o risco de tacarem-lhe um processo, caso faça muito marola.

No entanto, Lula tem sua culpa histórica no caso. Com 80% de aprovação ao deixar o governo não quis indicar um sucessor mais apto aos embates. Tinha receio que Tarso Genro, Jacques Wagner ou outros, se elegendo fariam um governo melhor que o dele.

Não existe saída para o nosso povo com guias vindo do lulismo, pois como li num artigo " o lulismo não é antídoto para o fascismo. Antes, o contrário, ele [o lulismo] entorpece o povo [mais ou menos isso; escrevo de memória].

celsolungaretti disse...

Ricardo,

desmentindo a sagacidade política que atribuem ao Lula mas ele raramente comprova na prática, ele escolheu o pior dos postes possíveis em 2010.

Confesso que, embora conhecesse a Dilma de outros carnavais (fomos companheiros na VAR-Palmares, mas antagonistas no famoso Congresso de Teresópolis, quando a organização rachou e saímos um para cada lado), fiquei surpreendido com a agressividade que ela demonstrou ao dar o chapéu no Lula em 2014.

Fico em dúvida sobre se foi por deslumbramento puro e simples pelo poder ou por ter tomado consciência da situação crítica em que se encontrava a economia brasileira e acreditar que poderia desfazer as lambaças num segundo mandato. Se queria salvar sua biografia, piorou-a consideravelmente.

celsolungaretti disse...

SF,

o perfil bufônico dos protagonistas poderia me fazer também "rir muito", mas aí eu penso em tudo que os brasileiros sofrerão durante essa comédia de humor negro e no que o Cesare já sofreu. Não dá para rir disso.

Henrique Nascimento disse...

Acho também que houve culpa do PT como um todo desde lá de atrás na década de 90. Esse processo degeneraftivo do partido não começou pós-Dilma, apenas se intensificou com as lambança da senhora e da lava-jato. O problema é que ninguém até hoje teve peito de encarar o Lula. Os poucos que resolveram bater de frente ou foram expulsos ou se demitiram.

Sinceramente essa Gleisi Hoffman não dá. Parece menina mimada.

celsolungaretti disse...

Ora, Henrique, já na década de 1990 eu tive a certeza de que o PT não era a força de esquerda da qual o Brasil precisava.

Como você já deve ter lido, quando da expulsão do Paulo de Tarso Venceslau eu já adverti, em artigo publicado no então prestigioso "Jornal da Tarde" (SP), que aquela péssima decisão tinha sinalizado um "liberou geral" da corrupção no partido e isto acabaria por destruir o PT.

Mas, sempre lutei para que outra força de esquerda tomasse o lugar do PT sem um terremoto desses. Queria uma transição civilizada, não um retrocesso caótico como esse.

E a grande culpada de a coisa ter fugido tanto ao controle, indiscutivelmente, foi a Dilma.

O Lula, por sua vez, foi o responsável pelos grandes erros cometidos na última eleição presidencial. Mas, a situação já estava tão deteriorada que não ouso afirmar que, sem a insistência na candidatura-fantasma e com o Ciro Gomes como candidato de uma frente de esquerda que incluísse o PT, teríamos evitado a catástrofe.

Minha única certeza é a de que a disputa teria sido muito mais equilibrada, com chances bem maiores de vitória do nosso lado do que aquelas que tivemos.

SF disse...

***
Você tem razão. Muito mesmo é a quantidade de energia existente no universo.
Não há como eu rir "muito" da credulidade, mesclada a um maucaratismo congênito, que aflige o povo.
Acreditar em político e propagandista, nunca querer fazer uma conta, não comer a carne que existe dentro do coco verde (só bebem a água), endeusarem a ingestão de cadáveres e partes deles, não saber dizer "não" e por a culpa de suas mazelas nos outros, não é coisa risível.
Expressei-me mal (ó o cacófato!).
Queria expressar um certo regojizo por saber que você e o Dalton estão certíssimos em descrer das pantomimas burguesas.
Mas, o capitalismo quer escravos sorridentes. E tome circo!
SF

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