sábado, 17 de novembro de 2018

"PARECE QUE O BRASIL SOFREU LAVAGEM CEREBRAL COLETIVA", DIZ O RICARDO KOTSCHO. ACERTOU NA MOSCA!

 A ERA DA MEDIOCRIDADE EM MARCHA
Escrever sobre o Brasil neste momento não é só doloroso, é inútil.

Para dizer bem a verdade, não tenho mais nada de novo a escrever para vocês hoje.

Estamos sendo governados pelo piloto automático desgovernado deste trem fantasma chamado Brasil, rodando sem destino pelo sanatório.

Será que nada mais é capaz de nos causar espanto?

Já nem sei mais o que comentar sobre o presidente eleito.

Agora que vocês já o conhecem, depois de o eleger, entendam-se com ele.

Pensando bem, acho que nem sou mais daqui, não estou mais reconhecendo meu país.

Se tem um traço comum na cabine de comando desse trem fantasma é a mediocridade.

Há também claros sinais de insanidade patológica. 

Mas, o que mais me assusta no novo governo é a total ausência de um mínimo conhecimento sobre os reais problemas brasileiros.
Até para pilotar um caminhão, exige-se exame psicotécnico. Para governar o país, não.

Perto de alguns dos ministros nomeados, Cabo Daciolo até que é um sujeito bem equilibrado, quase normal, como escreveu Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo.

A Era da Mediocridade está em marcha acelerada no Brasil, como se pode notar não só nas declarações dos novos governantes, mas também nos comentários dos seus milicianos nas redes sociais, cada vez mais convictos e celerados.

Parece que o Brasil sofreu uma lavagem cerebral coletiva.

Só isso pode explicar a indicação desse místico bolso-trumpiano como chanceler de um país de 208 milhões de habitantes.

Disposto a ressuscitar a Guerra Fria, já é motivo de chacota na mídia global, mas por aqui até acham tudo muito bonito, muito natural, até pitoresco.

Ernesto Araújo é o nome dele, guardem bem este nome. Vocês ainda ouvirão falar muito nele.

Foi o cara escolhido pela família Bolsonaro, no terceiro escalão do Itamaraty, para declarar guerra ao mundo, começando por Cuba, um dos símbolos da Guerra Fria, que acabou faz tempo no resto do mundo.

“Bolsonaro com amor e com coragem”, escreveu ele na nota em que comunicou aos colegas a sua indicação para chefiar o Itamaraty.

É preciso mesmo muita coragem para nomear alguém como o embaixador Araújo, que se fantasiou de bolsominion durante a campanha para fazer campanha pelo capitão.

São as suas credenciais, sem falar no inacreditável blog em que atribui a globalização ao marxismo cultural.

As primeiras vítimas não são os 8,5 mil profissionais de saúde cubanos, que o capitão reformado prometeu expulsar do país, mas sim os seus pacientes, que nunca tinham visto um médico na vida nas nossas periferias e grotões.

Leio na coluna de Monica Bergamo que até 50 mil pessoas podem morrer precocemente, antes dos 70 anos, com a eventual paralisação do programa Mais Médicos e o congelamento dos recursos para a saúde.

Não se trata de um genocídio anunciado? A Confederação Nacional dos Municípios já prevê que a saída dos cubanos pode provocar um estado de calamidade pública na saúde.
Quem se preocupa com isso? Como já completei 70 anos, poderia dizer, se eu tivesse votado no capitão, que estou no lucro, ainda tenho plano de saúde, e nunca fui atendido por um médico cubano.

Mas, para pelo menos 24 milhões de brasileiros, a saída abrupta dos médicos cubanos pode provocar um apagão na saúde pública.

Azar dos prejudicados: foi assim que pensaram milhões de alemães, quando um militar de baixa patente, esquisito e obscuro, de bigodinho e topete, foi eleito para governar o país, e logo se transformou no Führer que declarou guerra ao mundo.

“Não é problema meu”, diziam seus seguidores, antes que ele começasse a quebrar tudo no próprio país, durante a tristemente célebre Noite dos Cristais (a estréia oficial do nazismo), que acaba de completar 80 anos.

A Era da Mediocridade não deixa espaço para dúvidas, receios, argumentos em contrário, alertas.

Qualquer crítica à nova ordem é recebida como mimimi dos que perderam a eleição.

Para a metade do eleitorado brasileiro que elegeu o capitão reformado, a guerra não acabou; ao contrário, está só começando.

Semana passada, no Rio, um ex-ministro dos governos petistas tomou um baita susto ao caminhar pela orla da praia.

Distraído, viu um marombado atiçar seu pitbull em cima dele, e sair dando gargalhadas.

Ele não sabe até agora se o dono do cachorro o reconheceu, ou se foi só por pura maldade contra um velhinho inofensivo

É assim que o horror se instala, aos poucos, sem muita sutileza.

Quando as pessoas se derem conta dos perigos que corremos, poderá ser tarde demais.

Anestesiada, a sociedade civil permanece em obsequioso silêncio só vendo o trem fantasma passar triunfante.

E assim começamos mais uma semana, na longa e angustiante espera da posse do presidente eleito.

Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)

4 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde Ricardo, Celso e a todos aqui.

Aqui é o Hebert, do Rio

Ultimamente devo dizer que me sinto meio que David Vincent.

https://www.youtube.com/watch?v=pnGb4K7T5qY

Esperando estar enganado, e desejando muitíssimo aquele tal
"jeitinho brasileiro" de se recuperar, se reinventar ( palavra da moda ),
como característica do país, abraço a todos.

celsolungaretti disse...

Eu nunca assisti a OS INVASORES mas, na SCI-FI, compararia o que está havendo no Brasil a este outro filme: https://youtu.be/fW1dgIfZ0Is

Uns alienígenas fdp estão trocando os brasileiros cordiais por bárbaros babando de ódio. Já conseguiram substituir 39% dos nossos eleitores...

De resto, o septuagenário Ricardo Kotscho é um dos maiores jornalistas brasileiros vivos e foi assessor da imprensa da Presidência da República no primeiro governo do Lula. Eu adoraria tê-lo como colaborador de blog. Mas, não é o caso.

Como nem sempre há algo novo para publicar do Dalton, do David, do Rui ou meu, eu aproveito também artigos alheios que tenham qualidade e interesse para os leitores do Náufrago. É o caso desse ótimo post do site Balaio do Kotscho.

Há 11 anos, quando comecei com os blogs, tinha pique para escrever posts todos os dias, muitas vezes longos. Mas, a passagem do tempo é implacável e hoje dou-me por feliz de ainda conseguir fazer os textos necessários no momento em que são necessários. Mas, a fase de matar leão todo dia ficou lá pra trás.

Abs. e ótimo domingo!

Marcia Gatto disse...

Não acredito que tenha havido lavagem cerebral: os eleitores do capitão-do-mato apenas revelaram o fantasma fascista que estava lá dentro deles louco pra se revelar.

celsolungaretti disse...

Uma parte talvez, mas que jamais atingiria 39% do eleitorado sem a manipulação científica dos humores do eleitorado, o estelionato eleitoral e o abuso de poder econômico.

A direita descobriu uma forma de ganhar eleições produzindo um estado de espírito momentâneo e que logo se dissipa. Mas, em seguida, revela sua falta de respostas para os desafios do nosso tempo.

Os ingleses estão procurando uma forma de esvaziar os efeitos mais nocivos do Brexit, já que não podem simplesmente anular o plebiscito; os estadunidenses já se decepcionaram com o Trump e jamais o elegeriam de novo; e a forma como está sendo constituído o ministério do Bolsonaro já revela quão desastroso seu governo será.

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