segunda-feira, 1 de outubro de 2018

SEJA QUEM FOR O ELEITO, TEREMOS DE CONTINUAR RESISTINDO: SÓ EXISTE VIDA SAUDÁVEL FORA DA BOLHA CAPITALISTA!

dalton rosado
CAPITALISMO INSUSTENTÁVEL E
 INGOVERNABILIDADE POLÍTICA
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"Marx sublinhou, com razão, que uma transformação verdadeiramente revolucionária apenas progride na medida em que os seus começos
e fases de transição são criticados sem dó nem piedade, para os
superar e para repelir as suas meias-verdades, falácias
aberrações" (Robert Kurz, no seu artigo 
Não há revolução em lado nenhum)
Estamos diante da impossibilidade de o capitalismo se manter operacional sob quaisquer que sejam as condições político-eleitorais que estão dadas.  

Como na história do ovo de Colombo, há uma certa semelhança da presente situação social mundial com aquele desafio colocado para o navegante genovês como impossível de ser realizado: nós também precisamos colocar o ovo social em pé. 

Mas, como daquela vez, isto só seria possível a partir de pressupostos diferentes daqueles que nos estão sendo colocados. Assim, temos de fazer como Colombo, que amassou a ponta do ovo para formar a base que o sustentaria na posição vertical. 

O capitalismo já não é capaz de se manter de pé e suprir minimamente as relações sociais de consumo; isto ocorre por força da contradição inerente à dinâmica de sua lógica reprodutiva irracional, que agora atinge seu limite interno absoluto de expansão. 

Apesar das evidências, os seres humanos, submetidos à sua coerção tácita ou veladamente explícita, reproduzem-lhe a lógica e seguem irrefletidamente na direção do abismo.

Diante de tal impasse social histórico, embora devêssemos pensar fora da caixa, como fez Colombo, infelizmente somos induzidos a levar em conta apenas duas vertentes de posicionamentos, que se circunscrevem dentro do espectro capitalista formando uma falsa dicotomia. São elas:
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— há os que querem mantê-lo em pé a partir dos mesmos pressupostos, ainda que para isso tenham de recorrer à força militar; e
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— há o bloco dos que desejam mantê-lo em pé mas com uma ilusória feição humana, a partir de um modelo pretensamente anticapitalista que, contudo, é moldado com as mesmíssimas ferramentas capitalistas. São os ingênuos ou apenas oportunistas fisiológicos que sabem que o ovo, sem amassá-lo na base, sempre tombará de lado.  
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O primeiro bloco, reacionário às transformações sociais que se processam contra sua vontade, embora contribuam involuntariamente para essas transformações com suas práticas (como dizia Marx, o capitalismo cava a sua própria sepultura), quer manter o capitalismo pela força, ou seja, quer que o pé caiba dentro do sapato independentemente do tamanho de um e de outro.

Atualmente este bloco é representado mundo afora por ultradireitistas autoritários (legitimados pelo voto ou pelas baionetas) que implementam a perda dos direitos sociais e civilizatórios conquistados na fase de ascensão capitalista, mas que agora são negados pela imposição de uma lógica reificada que lhes dá ordens e que, como dissemos, encontrou o seu limite existencial expansionista. 

O segundo bloco, da esquerda legalista, ou é ingênuo ou oportunista fisiológico. Os ingênuos bem-intencionados de esquerda, por desconhecimento teórico, acreditam que as instituições do Estado estão acima ou equidistantes das relações sociais hoje existentes (que consideram imutáveis, mas passíveis de serem beneficamente reformáveis), implementadas naturalmente pela vontade pretensamente soberana dos indivíduos sociais, e que, como tais, podem servir ao bem ou ao mal, dependendo das ações humanas dos que as compõem. 
A esquerda legalista, um leão que mia...
Não compreendem que as instituições políticas do Estado, os poderes executivo, legislativo e judiciário, estão a serviço do capital e da mediação social que por ele foi e é estabelecida ditatorialmente (ou seja, pela força das armas, desde seu surgimento evolutivo em contraponto ao feudalismo, continuando até hoje a serem por ela tutelados); e que é impossível mudar os seus comportamentos, vez que estão submetidas ao objeto teleológico reificado da forma-valor (dinheiro e mercadorias). 

Os oportunistas fisiológicos de esquerda (em maior número nesse campo e composto por dirigentes político-partidários) querem um Estado forte, concentrador de riquezas abstratas (o capital), para administrá-las em seus interesses burocráticos, ainda que sob um discurso de proteção social dos explorados pelo capitalismo. 

Querem, em poucas palavras, mitigar o sofrimento dos explorados sociais pelo capitalismo, mas a partir dos seus comandos privilegiados sob a forma de capitalismo de Estado. Para esses, quando se fala em abolir o capital ao invés de administrá-lo, parece que se está dizendo uma heresia que deve ser rebatida de pronto; é quando se desmascaram, identificando-se com aqueles dos quais dizem ser o oposto.    

Mas, para infelicidade desses blocos que representam uma falsa dicotomia teleológica, o capitalismo vive momentos de uma insustentabilidade funcional que provoca a impossibilidade de manutenção dos seus projetos políticos, tudo caminhando para a evidência empírica de uma realidade revolucionária capaz de se contrapor seus interesses inconfessáveis.  

É graças a isso que vemos, nas diferentes unidades da federação brasileira, acordos políticos tão díspares como o que ocorre no Ceará, onde o governador do PT à reeleição, é, de fato, do PFG (Partido dos Ferreira Gomes), que apoia Ciro Gomes, que é do PDT de mentirinha, e numa coligação na qual um dos seus candidatos a senador é Eunício Oliveira, que é do MDB, partido que faz oposição federal ao candidato Ciro Gomes, e por aí vai. 

Tal aparente confusão decorre do fato de que tudo no processo eleitoral se circunscreve a um único desiderato: a detenção do poder burguês do Estado para a manutenção dos privilégios proporcionados por esse mesmo poder e para a manutenção dos benefícios aos que o administram. Tudo, por fim, tem um norte fundamental: a manutenção da lógica do capital, ainda que esta esteja caindo de podre e promovendo o agravamento da miséria social mundo afora. 

Neste sentido, é uma mentira ideológico-eleitoral o uso (tanto pelo PT, como pelo PC do B e outros partidos de esquerda) da estrela vermelha, que representou o sonho de uma sociedade emancipada do jugo capitalista e que em nome da qual tantos companheiros valorosos tombaram heroicamente.   
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A eleição presidencial e o futuro político brasileiro – o cenário político-eleitoral está praticamente definido. No 1º turno devem prevalecer o Boçalnaro ignaro, como representante do totalitarismo capitalista, de um lado; e do outro lado Fernando Haddad, o postiço (de poste e de governante por procuração), legítimo representante do segundo bloco político, do fisiologismo oportunista de Estado.
"Cada vez que abre a boca, evidencia seu despreparo"
Diante deste quadro, estamos fritos? Prefiro acreditar na tese de que as crises são a gestação do novo. Portanto, podemos amassar a base do ovo e colocá-lo em pé, como fez Colombo.

No quadro eleitoral atual tende a dar Haddad, o postiço, no 2º turno, até porque com os falantes e imprudentes aliados que tem o Boçalnaro, o ignaro, ele não precisa de inimigos. 

Aliás, cada vez que ele mesmo abre a boca (como na entrevista ao Datena) evidencia o seu despreparo para a difícil missão que o ilusório processo eleitoral democrático-burguês quer lhe conferir a partir de setores conservadores de um capitalismo decadente.

A evidência do seu despreparo tende a se tornar ainda mais acentuada nos debates do 2º turno e isso será fatal para a sua derrota prenunciada.  

O Estado capitalista atual, principalmente na periferia do capitalismo, somente pode ser mantido pela redução drástica das demandas sociais e da adequação dos direitos econômicos ainda existentes à realidade de falência do erário público, que vive a penúria decorrente da depressão capitalista.

Que os burgueses defendam o seu Estado acima de qualquer coisa (como na frase do Boçalnaro, o ignaro, segundo a qual o Brasil deve estar acima de tudo, imitando o slogan trumpiano America First), ou seja, que o Estado prevaleça sobre quaisquer interesses dos cidadãos, já é postura esperada  e à qual devemos nos opor contundentemente.

Mas também não é admissível o propósito da esquerda, pretensamente anticapitalista, de querer administrar essa falência estatal, decorrente da impraticabilidade de cobrança de impostos nos níveis financeiros necessários; pois não há mais o que arrancar de um povo economicamente exaurido pela extração de mais-valia (a qual, contudo, é cada vez mais reduzida, seja individualmente ou no seu volume global) e levado ao desespero pela depressão econômica irreversível. 

A esquerda, em tal cenário, comete uma traição aos interesses populares por ela historicamente defendidos e difundidos.  

A proposição de administração do Estado burguês pela esquerda é claramente oportunista, fisiológica e capitalista na sua essência mais profunda, terminando sempre por descredenciá-la perante o povo pela não realização dos seus demagógicos postulados (que induzem as pessoas comuns a acreditarem que seja possível dar ao Estado burguês, seja politicamente liberal ou ditatorial, uma função coadunada com o interesse popular). 

Mas, independentemente de quem seja o eleito, teremos de continuar resistindo e demonstrando que só pode haver vida saudável fora da bolha capitalista; isto significa negarmos todas as categorias econômicas e políticas que lhe dão sustentação.

Às turbulências que inevitavelmente virão, qualquer que seja o resultado eleitoral, devemos responder nas ruas com ações concretas que demonstrem a imensa força popular da conscientização.

Todas as nossas ações teóricas e empíricas de práticas sociais devem ter um norte emancipacionista, ou seja, de defesa de um modo de produção social (bens e serviços) fora da lógica da mercadoria e de uma organização social horizontalizada e departamentalizada na qual os indivíduos sociais, despidos das carcaças de cidadãos burgueses que lhes são impostas, possam vestir os mantos revolucionários da emancipação humana. (por Dalton Rosado)    

2 comentários:

SF disse...

***
Um dos meus amigos me fez pensar porque eu não estou a viajar para "conhecer" o mundo, coisa que ele faz frequentemente.
Enumerei mentalmente as minhas razões, sendo a primeira: eu não fui convidado e outras de natureza mais prática.
Porém, o cérebro continuou "rodando" esse questionamento e o que disse para ele foi "eu conheço o mundo". Disse-lhe que só sairia se fosse encontrar bondade e se todas as coisas que eu necessitaria fossem gratuítas, pois se for para ficar no rame-rame do toma-lá-cá o lugar onde estou tem tudo o que o "mundo" oferece, com a vantagem de eu não estar indo aonde não me chamaram e nem ter que comprar a falsa hospitalidade dos que com isso mercadejam.
Não apoio a ideia de heróis. Marx para mim foi um contador que aprendeu a falar difícil. Digamos que uma planilha do excel começasse a dizer que dois mais um não dá três e meio de jeito nenhum com aquela notação binária. Seriam milhares de zeros e uns que pareceriam incompreensíveis, mas ela estaria apenas expressando uma coisa corriqueira e de senso comum.
Como já disse, descartei o herói e passei a dedicar-me a entender valores, pois eles são mensuráveis e tem a ver com a lei de causa e efeito, que é o que realmente regula o todo restrito das sociedades.
Assim, quem tem valores tem critérios com os quais pode balizar e recalcular sua trajetória no sentido de uma felicidade relativa, de maneira bem mais real do que a utopia do herói a ser imitado ou do outro a ser mudado (ou eliminado).
Nesse sentido, sou muito mais Poincaré (Henri Poincaré) que trouxe a matemática que permite duas naves se acoplarem em pleno espaço. Ele disse de maneira elegante, como só a matemática pode ser, que não se podem fazer previsões estáticas de fenômenos futuros, mas sim reprogramar constantemente essas previsões com novos dados, salientando que, quanto mais próximo do evento, mais acertadas se tornam essas previsões. (Veja que o Kurz diz a mesma coisa, mas não cita a fonte)
Quanto ao ideal, bebi na fonte de Platão: Bom, Belo e Justo.
Se existe algum objetivo para os monstros que você displicentemente nomeia de seres humanos é aguentarem com paciência as consequências de seus atos até se tornarem bons, gerarem o belo e serem justos.
Nosso mundo não é bom e nem belo, mas é terrivelmente justo!
Os seres que aqui vivem, habitam o labirinto das construções animalescas de suas mentes ainda primitivas. São minotauros, frutos da cobiça e da lascívia, que se perpetuam sacrificando a juventude e a inocência.
Veja como a força moral perpetuou o povo grego.

Bem, até onde vejo, o copo sempre esteve meio cheio e o mundo é o que sempre foi. Ao evitarmos o contato com a nossa efemeridade acabamos construindo rituais, construções teóricas, criando heróis e mitos que nos deem a falsa impressão que estamos seguros, podemos saber antecipadamente o futuro e que errados são os outros. É muito doloroso entrar em contato com a realidade, mesmo que seja apenas na fantasia. E não devemos fazer isso (entrar em contato) de maneira açodada, basta saber que estamos sempre a um passo do caos, mas temos mantido o logos até agora. Pitágoras era bem otimista.

Henrique Nascimento disse...

O Haddad já disse a senha ontem: "é preciso reforma fiscal e tributária para sair da crise". Nada ingênuo esse rapaz.

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