dalton rosado
A FACADA EM BOLSONARO, O POLITICAMENTE IGNARO
No sábado passado Bolsonaro prometeu "fuzilar a petralhada". O discurso de ódio se voltou contra ele |
A
rima do título do comentário sucinto que faço pode até ser pobre (aprofundarei adiante suas
propostas de governo em artigo específico da minha série sobre os candidatos), mas seu significado é consistente.
Diz-se que quem semeia vento, colhe
tempestade. O discurso do candidato Bolsonaro,
hoje, infelizmente, muito comum num mundo marcado pelo ódio gestado pela
absoluta incompatibilidade entre forma e conteúdo da mediação social
capitalista, empresta credibilidade à sabedoria popular expressa em tal ditado.
Não que Bolsonaro seja um incauto, sem discernimento para aquilatar qual poderia ser a consequência de suas pregações. Alguém que fez curso para oficial graduado na Academia Militar das Agulhas Negras tem
nível de escolaridade muito acima do de profissionais formados nas atuais fábricas de doutores do Brasil
(estas últimas se transformaram num rendoso negócio, com a educação virando
mercadoria).
Ele, como político já antigo que ora se
apresenta como anti-político (um pretenso outsider), é ignorante quanto ao que está
subjacente à prática de governar. Ou seja, pouco sabe sobre a ingovernabilidade, supondo (como muitos) que os nossos problemas se restringem ao combate à corrupção
e ao exercício da disciplina e da força.
O Bolsonaro que vem sendo alardeado como o Trump brasileiro está mais para um similar tupiniquim imperfeito. A diferença com relação ao produto original é tão grande quanto a que existe entre um pobretão brasileiro e um bilionário estadunidense.
O discurso de ódio em voga mundo afora
encontra guarida em dois segmentos sociais:
- pessoas cultas e ricas, mas perplexas com o fato de que a viabilidade social sob pressupostos que eram minimamente funcionais (a reprodução do valor pelo lucro e extração de mais-valia) já não serem mais tão factíveis como outrora, daí desejarem a restauração do statu quo ante a partir de premissas autoritárias; e
- pessoas com nível de escolaridade baixo, que engolem a pílula da solução dos seus problemas sociais por meio da força militar vinda da autoridade constituída, uma vez que nem de longe se apercebem das causas do que está em curso e faz crescer dia a dia as suas dificuldades.
Neste sentido, o atentado a Bolsonaro representa uma facada pelas costas no pensamento libertário, emancipacionista, que procura analisar as causas dos atuais infortúnios sociais ao invés de se fixar nas respostas superficiais de salvadores da pátria.
Isto porque o candidato Bolsonaro (que fatalmente veria despencar a sua popularidade à medida em que o debate sobre as causas da depressão econômica evidenciasse que o gerenciamento estatal sob tais condições é incompatível com as suas bravatas) agora encontra respaldo num componente emocional da campanha sucessória – a vitimização.
Bolsonaro poderá, enfim, vir a beneficiar-se do mesmo
sentimento que faz do Lula um potencial candidato preferido do eleitorado.
Pessoalmente, desejo a completa recuperação de sua saúde, por dois
motivos:
- pelo respeito que tenho pela vida de qualquer ser humano; e
- para que ele não se torne um mártir e venha a ser substituído por outro Bolsonaro de plantão no imaginário popular.
Existe, de fato, a possibilidade de que seus
pensamentos retrógrados passem agora a sensibilizar parte da grande faixa do
eleitorado que o rejeitava até ele sofrer o atentado e,
assim, possa chegar ao 2º turno das eleições. Vamos aguardar os
acontecimentos.
Não vote. Mas, se isto não for possível, vote
nulo. (por Dalton Rosado)
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