sexta-feira, 29 de junho de 2018

O IMPERIALISMO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

O capital é que é o grande imperialista. Os Estados (e a política) que exercem o controle monetário sãos apenas um seu serviçal. 

Destarte, num estágio globalizado da economia, os Estados ditos ricos estão a serviço do sistema financeiro internacional, seja como emissor de moeda, seja no controle do câmbio, mas sempre como serviçais do capital.

Essa é a principal função dos Estados, juntamente com outras funções importantes como a manutenção do status quo sistêmico pela via das instituições estatais (os três poderes do Estado) e pela via da força militar, todas subsidiadas pelos indivíduos sociais transformados em cidadãos pagadores de impostos. 

Os Bancos Centrais dos Estados de moedas fortes (dólar estadunidense, moeda universal, e o euro na União Europeia) podem emitir moedas sem lastro, que são por todos aceitas sem que isto cause inflação interna nesses países (exportadores de moedas sem valor), enquanto as nações da periferia do capitalismo, com suas moedas fracas, não podem emitir moedas sem lastro, sob pena de isto causar hiperinflações insuportáveis. 

Esse é o primeiro e grande sintoma do imperialismo do sistema financeiro internacional.
Ebenezer Scrooge, símbolo dos banqueiros

Como os detentores de capitais mundo afora, sejam eles grandes ou pequenos investidores, procuram sempre a garantia das moedas fortes e dos títulos públicos dos países de moedas fortes, disto decorre uma sustentação artificial baseada na credibilidade das moedas e títulos dessas nações, ainda que não tenham uma produção de valor condizente com seu status de ricos.

Mas, o castelo de cartas tem data de validade; quando desmoronar, deveremos ter uma verdadeira catástrofe financeira que transformará os ricos investidores em credores falidos dos bancos insolventes. Atingido tal estágio, como já ocorreu em alguns países durante as duas grandes guerras, só a riqueza material, concreta, terá validade.  

E, até que chegue a hora da verdade, o ônus dessa manipulação financeira continuará sendo transferido para os Estados da periferia do capitalismo; trata-se de uma das principais causas das desintegrações econômicas e políticas em curso nesses últimos.  

A resultante mais visível desse fenômeno é o impressionante processo de migração dos habitantes dos países da periferia capitalista para os grandes centros, que, não podendo absorver a todos (somente aos cidadãos endinheirados), retiram suas máscaras humanitárias e deportam as pessoas que consideram de segunda classe. 

O segundo sintoma do imperialismo financeiro internacional é a cobrança diferenciada das taxas de juros. Cada pais tem uma taxa referencial de juros; esta baliza os juros dos títulos públicos e transações bancárias do sistema financeiro, seja internacional ou interno em cada país. 
"juros altos impõem sacrifícios inauditos ao povo"

Os Estados Unidos têm o maior PIB do mundo e detêm a moeda internacional. A decisão do Banco Central dos EUA, que aumentou recentemente as taxas de juros, fixando o Prime anual em 2% ao ano, é que vem causando as atuais turbulências no mercado financeiro, pois, com taxa mais alta, atrai capitais em circulação pelo mundo, desestabilizando as moedas nacionais dos países periféricos, carentes de recursos financeiros.

O Libor inglês se situa na faixa de 0,5% ao ano; na zona do Euro a taxa de juros é de 0.0% ao ano; e no Japão temos taxa negativa, chegando a -0,10% ao ano. Enquanto isso, a nossa Selic (sistema especial de liquidação e custódia) se situa em torno de 6,4% acumulados nos últimos 12 meses. 

Se levarmos em conta que o Brasil, apesar de ser um país periférico, tem uma economia representativa por seu volume global do PIB (não o é pelo PIB per capita), podemos deduzir o que acontece com as taxas de juros das economias pouco representativas, como as africanas e as de muitos países asiáticos. 

A diferenciação para maior das taxas de juros internacionais oferecidas para os países periféricos significa que são os países pobres que financiam, em grande parte, o combalido sistema financeiro internacional. Entretanto, a dívida pública e privada de todos os países (ricos e pobres) é cada vez mais impagável, o que prenuncia um colapso futuro. 

No caso dos países desenvolvidos, as dívidas públicas e privadas somente se mantêm renegociáveis graças às taxas de juros baixas ou negativas.    
"colapso inevitável de todo sistema financeiro"
Já nos países periféricos, os juros decorrentes de taxas elevadas impõem sacrifícios inauditos ao povo, uma vez que o Estado carreia boa parte dos recursos dos impostos para o pagamento dos juros, aumentando o déficit das contas públicas desses países e retirando valores que deveriam ser utilizados na satisfação das demandas sociais. 

O déficit previdenciário a ser financiado com juros altos é, também, forte fator de sacrifício para as finanças das contas públicas, principalmente para os países periféricos, que se veem forçados a cortar preferencialmente os gastos com demandas sociais, e menos com a já precária infraestrutura da produção.

Ora, com juros altos destinados à produção de mercadorias, os países periféricos, já em dificuldades de aumento da produtividade graças ao difícil acesso às tecnologias da microeletrônica aplicada à essa mesma produção, veem-se sem qualquer chance de vitória na guerra concorrencial de mercado.

Os juros decorrentes do financiamento da produção, mesmo em países que conseguiram alavancar a sua produção graças aos salários miseráveis dos seus trabalhadores e condições insalubres de instalações fabris, estão enredados numa crescente dívida pública e privada, como é o caso da China, que tem uma dívida de 235% do PIB nacional. 

O famigerado Fundo Monetário Internacional, órgão que funciona como termômetro do equilíbrio financeiro estatal em defesa da estabilidade financeira do capitalismo, já alertou que estaria em curso um perigoso crescimento da dívida pública e privada chinesas.
"desintegração econômica e política dos países periféricos"

O embargo às importações chinesas pelos Estados Unidos com taxações protecionistas de impostos agrava este problema e pode implicar o risco de ambos morrerem abraçados no colapso do sistema financeiro internacional.

Vale notar que o acúmulo de moeda estadunidense no saldo da balança comercial chinesa, mas que é inferior à sua dívida pública e privada, torna esse país refém da credibilidade de uma moeda que, mais dia, menos dia, evidenciará a sua artificialidade.

Há hoje no mundo capitalista uma enorme circulação de dinheiro sem valor, ou seja, dinheiro dissociado da produção de mercadorias, posto que é esta a única forma de produção de valor válido (aquele que surge dessa mesma produção de mercadorias).

Quando se analisa a configuração dos PIBs dos países desenvolvidos, vê-se que os setores primário (agricultura e agronegócio) e secundário (produção industrial), são bem inferiores ao setor terciário (serviços), que não produz valor mas, apenas, transfere valor já existente.

Tal defasagem é financiada pela emissão de dinheiro sem lastro, o que nos leva à certeza de que, hoje, o montante de riqueza abstrata (dinheiro) em circulação tem pouca correspondência com a produção de mercadorias  
"Os países protegidos pelo imperialismo financeiro sentem-se confortáveis, como os músicos do Titanic!" 
Confirma-se, portanto, a tese de que a abstração valor se tornou ainda mais abstrata a partir de uma correlação de emissão monetária artificial, prenunciando um colapso futuro inevitável de todo o sistema financeiro mundial.

A artificialidade do sistema financeiro, cujas cifras astronômicas são destituídas de consistência que justifique a sua credibilidade financeira, tende a virar pó num futuro que talvez já esteja próximo.

Entretanto, antes que tudo vire fumaça, como quase aconteceu em 2008 com a crise do sub-prime estadunidense (a bolha do sistema financeiro imobiliário), são os países periféricos aqueles chamados ao sacrifício financeiro pela via do pagamento dos juros escorchantes de suas dívidas, na verdade impagáveis.
Por Dalton Rosado
A imigração forçada pela desintegração econômica e política dos países periféricos do capitalismo é prenuncio de que as labaredas dos incêndios que queimam os empobrecidos pela lógica do capital estejam cada vez mais próximas das salas de estar dos países protegidos pelo imperialismo financeiro... os quais ainda sentem-se ilusoriamente confortáveis, como os músicos do Titanic! 

9 comentários:

Unknown disse...

Quantas já vaticinaram o fim do mundo?
Ou que o sistema financeiro iria quebrar?
Só quem não opera diretamente nos mercados alimenta tais visões.
O fato é que negociamos a milhares de anos e o sistema só se aperfeiçoa, diversamente do que prognosticavam os profetas do caos.
Aconselharia a informar-me sobre a adesão da Índia à SCO (Organização que reúne China e Rússia).
Ou o banco do BRICS.
Os centros de poder estão mudando e nós saberemos negoceiar neste novo cenário porque não somos dogmáticos.

celsolungaretti disse...

RESPOSTA ENVIADA POR E-MAIL PELO DALTON:

Caro leitor,

O planeta Terra (ou o mundo) já teve dinossauros que foram extintos, e nem por isso se acabou. Nós, os hominídeos, somos seus habitantes mais recentes (calcula-se que há apenas 3 milhões de anos), e se nos extinguirmos de alguma forma, o mundo deverá continuar existindo.

Mas é necessário dizer que a forma-valor, à qual está intrinsecamente ligado o sistema financeiro, não é um dado ontológico da humanidade, mas histórico (e muito recente, há pouco mais de 1 milênio), e como tudo que é histórico, tem começo, meio e fim.

Os sintomas do fim do sistema financeiro mundial já são sentidos por falta de substância existencial graças à redução cada vez mais acentuada trabalho abstrato produtor de valor, e vive um processo sustentação artificial e de autodestruição por contradições internas pouco compreendidas até por seus operadores.

Entendo que quem está metido no cassino do mercado financeiro internacional não tem mesmo tempo (e interesse) para conhecer cientificamente a substância do valor materializada no dinheiro (mercadoria abstrata por excelência) ou nas mercadorias sensíveis, que apesar de serem capazes de satisfazer necessidades humanas (valor de uso) tem também seu lado meramente abstrato (o abominável valor de troca). Não compreendem que o dinheiro sem valor, hoje em circulação, tem tempo de validade para continuar existindo.

Acreditar na eternidade do dinheiro e do seu sistema financeiro é que é ser dogmático; é querer que a vontade se sobreponha à realidade. É o mesmo que acreditar que um totem de pedra pode servir como intervenção divina para fazer chover, ou seja, é cultuar o fetichismo da “modernidade” devotando crença a um Deus abstrato contraditório (o valor) que tem na volúpia tautológica da própria reprodução um irracional e vazio sentido social que está levando a humanidade ao desespero.

Grato pelo questionamento que me oportuniza esse esclarecimento teórico-filosófico e empírico.

Dalton Rosado.

Unknown disse...

O dinheiro, de fato, não tem valor.
E dinossauros, assim como socialistas, foram devidamente extintos por sua inadequabilidade ao meio circundante.
Mas, o que move os seres é o mais empedernido egoísmo. Por isso, a verticalidade social sempre triunfa. Consubstanciada em dinheiro ou cocares.
As sociedades acabam criando e justificando suas desigualdades, por serem estas reflexo da soma de interesses e caráteres do seus componentes.
Responda: por que os mais sinceros idealistas se submetem tão facilmente ao apelo da riqueza e traem imediatamente seus "companheiros" na primeira oportunidade de ficarem ricos?

celsolungaretti disse...

RESPOSTA ENVIADA POR E-MAIL PELO DALTON:

Caro leitor,

o dinheiro é a expressão numérica do valor, tanto é assim que os Banco Centrais somente se podem (ou devem) emitir moeda em consonância com a sinalização da produção de mercadorias, sob pena de causar inflação. Esse conceito é o bê-a-bá da economia, aceito por todos os capitalistas.

Entretanto, os países de moedas fortes, emitem suas moedas e títulos públicos sem causar inflação porque elas são exportadas por aceitação mundo afora e, assim, transferem inflação e miséria para a periferia do capitalismo.

Dinheiro sem representação de valor é a mais descarada manipulação dos países dominantes capitalistas, mas é, também, a expressão mais bem acabada do desespero de um modo de relação social que se exauriu a si mesmo e que sobrevive por esse tipo de aparelho e mecanismo que têm vida curta do ponto de vista histórico.

O erro histórico dos socialistas foi considerar que poderiam manter as categorias capitalistas a partir de um estado pretensamente proletário (inclusive com extração de mais valia por empresas estatais), mas que deverá ser corrigido historicamente por todos aqueles que não se deixaram corromper pelo cantilena da riqueza abstrata e mantêm a sensibilidade contra a injustiça social.

São muitos os que conseguiram manter a dignidade diante do canto de sereia do capital, inclusive dando as suas próprias vidas em defesa da realização de um contrato social justo. São esses revolucionários os verdadeiros aliados da emancipação humana.

Dalton Rosado

Em tempo: o SCO, referido na intervenção anterior, é a sigla de Organização para a Cooperação de Shangai, é uma organização asiática, capitalista, que funciona como simbiose de organismo financeiro, como FMI); pretensamente humanitário como a ONU; e de análise e estímulo ao desenvolvimento econômico como a OCDE. Ou seja, é mais uma reprodução de métodos capitalistas (agora asiático) de se contrapor ao ocidente, dentro da imanência do capital. Está fadado ao mesmo insucesso dos seus congêneres.

celsolungaretti disse...

Ao leitor desconhecido,

quero dar uma pequena contribuição à sua troca de ideias com o Dalton.

Quando lancei meu livro "Náufrago da Utopia", recebi muitos convites para fazer palestras em faculdades e até nas escolas do curso médio, sobre a ditadura militar e os movimentos que a ela resistiram.

Era o tempo em que o mensalão estava muito presente no noticiário. Então, quando começava a responder às indagações dos presentes, já sabia que, inevitavelmente, alguém perguntaria se nós, os militantes da geração 68, éramos todos iguais àqueles que estavam sendo denunciados por corrupção, como o Zé Dirceu.

Ora, como eu conhecia muito bem esse universo, sabia que, afora os que foram assassinados pela ditadura e os que dela saíram tão traumatizados que nunca mais quiseram envolver-se com políticas, a grande maioria permanecera idealista e ganhando a vida com dignidade.

Mas, como só se lia na imprensa sobre os que se tornaram ou eram acusados de se terem tornado corruptos, fica a falsa impressão de que todos éramos assim. Mesmo porque a imprensa burguesa não tinha interesse nenhum em levantar a bola dos incorruptíveis.

Enfim, passei o resto da vida tendo prejuízos de todos os tipos em função dos ideais, inclusive o de estar vivendo desde 1970 com a audição muito prejudicada pelas torturas, pois tive um tímpano estourado e as três cirurgias a que me submeti apenas minoraram meu problema.

Cansei de perder oportunidades profissionais e empregos por não querer me colocar a serviço da desumanidade, ajudando a enganar leitores (como jornalista) e consumidores (quando atuava em comunicação empresarial).

E conheci muitos, muitos veteranos da resistência à ditadura com idêntico perfil, ainda carregando sequelas da passagem pelos porões e lutando com muita dificuldade para sobreviverem sem se prostituírem aos poderosos da atual sociedade.

Não te culpo por acreditar no que a imprensa e a indústria cultural como um todo martelam dia e noite para seus públicos. Mas, recomendo que busque outras fontes de informação e tente ouvir os dois lados, antes de fazer generalizações tão ofensivas para os idealistas honestos, que existem e são muitos.

Abs.

Unknown disse...

Negociantes sabem que existem tendências e as pessoas honestas e dignas são pontos que não alteram a sua inclinação. Tanto que são fragorosamente derrotadas quampndo tentam melhorar a sociedade. O predomínio da patifaria é inconteste.
Porém, por conhecer algumas delas, sei que não conseguiriam ser de outra maneira. E quase todas são bem felizes sendo como são: honestas.
As mais pragmáticas, não esperando nada de bom dos seres humanos, são, o mais das vezes, bem sucedidas.
O que não se pode endossar é a lorota de que se possa esperar algo melhor do que o capitalismo do conjunto da humanidade.

Henrique Nascimento disse...

Permita-me expressar minha opinião. Países capitalistas nos quais a justiça social, a ética e a moral dominam, de fato não precisam mudar nada. Os países europeus nórdicos (Suécia, Finlândia, Noruega) e muitos outros ao redor do mundo (Nova Zelândia, Austrália, Canadá,etc etc) necessitam mesmo de uma revolução para que o Estado do bem estar social seja implantado ? Se Marx disse que a revolução socialista tem que começar por tais países com alta "riqueza abstrata", me parece que seja complicado convencer os seus habitantes à mudanças.

Nesses países não existe patifarias por parte de comerciantes e o Estado não é corrupto: cobra da sociedade mas sabe muito bem retribuir.

Amélia Nunes disse...

Caro Henrique, nesses países mencionados, o sistema de patifarias é exógeno. É feito por suecos, noruegueses e tais em outros país da África, da América, etc. No Brasil temos muitos exemplos de empresas nórdicas explorando as riquezas brasileiras para proporcionar bem estar barato lá, e fortuna para os capitalistas.

Henrique Nascimento disse...

Prezada Amélia: esse discurso de culpar alguns países pelas mazelas de outros paises é o mesmo que você culpar outras pessoas por suas próprias escolhas que deram errado na sua vida. Isso para mim chama-se auto-piedade. Se empresas de países ricos exploram riquezas naturais de paises menos abastados, é porque estes últimos são no mínimo incompetentes. Para piorar a situação, além de incompetentes são corruptos.

Não sei se você sabe, esses países abastados souberam muito bem fazer uma revolução interna, principalmente através da taxação altíssima de grandes fortunas para diminuir a desigualdade social ao longo do tempo. Afirmar que tais países conseguiram atingir alta justiça social porque são exploradores de outros paises é muito simplista e ingênuo. Nesses países juiz não tem auxílio-moradia, auxilio-paletó. Um deputado ou um senador custa menos da metade do que um deputado ou senador de um país pouco abastado como o Brasil.

O PT perdeu a grande oportunidade de fazer uma verdadeira revolução nos dois governos do Lula, mas cederam ao capital. O máximo que conseguiram foi distribuir, aproveitando o boom das comodoties, uma esmola de 100 e poucos reais a uma parcela da população que hoje garante os 30% de voto ao Lula.

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