Quando me sentei na cadeira de secretário de Finanças do primeiro governo petista de uma capital, em Fortaleza (1986 a 1988), e pude constatar o que representava a nossa administração popular do ponto de vista financeiro, comecei a questionar a validade de ali estarmos.
A realidade financeira da prefeitura era caótica. Vínhamos de governos municipais (indicados pela ditadura militar) que haviam destroçado as finanças públicas; e a Constituição Federal que devolveria relativa autonomia financeira aos municípios só viria mais tarde, promulgada em 1988 e passando a vigorar no ano seguinte.
Diante de um quadro de receitas inferiores às despesas, fomos obrigados a ajustar as contas públicas, sob pena de marcharmos para um colapso financeiro (algo que os nossos adversários auguravam e pelo qual torciam ansiosamente).
— promover políticas habitacionais;
— melhorar as condições de atendimento nos postos de saúde;
— melhorar os salários dos professores e as condições das escolas públicas;
— promover o funcionamento e aumento da capacidade de acolhimento nas creches municipais;
— melhorar a coleta de lixo, principalmente nas favelas e locais de difícil acesso, que até então recebiam precariamente tais serviços;
— melhorar a pavimentação de ruas esburacadas e implementar a pavimentação de novas vias públicas;
— melhorar as condições de iluminação pública;
— promover melhorias na questão cultural, trazendo para os bairros pobres entretenimento cultural de qualidade;
— melhorar as precárias condições de trânsito (em Fortaleza, havia uma absurda concentração de ônibus no centro da cidade para beneficiar os lojistas em detrimento do correto fluxo de transeuntes e usuários de ônibus); e
— conservar logradouros públicos, entre outras inúmeras funções de serviços públicos sob a nossa incumbência.
Mas não havia condições financeiras para tal e, ainda por cima, nos eram cobrados os juros da dívida pública impagável (continua assim até hoje), com muito rigor; afinal, estávamos sob a égide do governo de José Sarney, a quem fazíamos oposição.
Mas não havia condições financeiras para tal e, ainda por cima, nos eram cobrados os juros da dívida pública impagável (continua assim até hoje), com muito rigor; afinal, estávamos sob a égide do governo de José Sarney, a quem fazíamos oposição.
Diante de todas as dificuldades que apontavam para uma situação de ingovernabilidade, a solução que a direção nacional do PT (e a direção do membros do PT local) nos apontava era a da conciliação com os eternos algozes do povo, como forma de minimamente assegurarmos a governabilidade. Ou seja, curvarmo-nos ao ou dá ou desce.
"José Dirceu veio comunicar o veto à minha candidatura" |
Preferimos a via do combate e enfrentamos todas as dificuldades. Veio-me, já naquele longínquo ano de 1986, a certeza de que nós não deveríamos concorrer aos cargos eletivos do sistema porque isto significa defender o próprio sistema, à medida que se evidenciava a impossibilidade de combatê-lo por dentro.
O PT acreditou na quimera de que poderia estabelecer uma relação esperta com os donos do PIB e sua elite política, que lhe permitiria fazer algumas concessões às demandas populares e, assim, perpetuar-se no poder acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo.
Mesmo sem guardar mágoa de ninguém, não posso deixar de me referir a um episódio que me afetou pessoalmente. Definida pelo grupo da prefeita Maria Luíza a minha condição de candidato a candidato dentro do PT, e como tínhamos condições de ganhar a disputa no âmbito municipal, tal pretensão foi vetada pela direção nacional por causa da minha postura (e do meu grupo) de combate à conciliação.
Foi José Dirceu o emissário da direção nacional que veio comunicar o veto à minha candidatura. Ele, pelo menos, nunca negou o que fez, dando a cara pra bater; Lula, pelo contrário, se esconderia sob argumentos fantasiosos, como se eu fosse um mero pau mandado da prefeita. Insistimos e fomos expulsos do PT.
Seminário em 2017: nem mesmo o impeachment dissipou as ilusões na democracia burguesa! |
O QUE É O ATO DE GOVERNAR SOB A ÉGIDE DO CAPITAL – Governar significa estabelecer uma relação direta com o capital. Nenhum governo pode opor-se ao capital a partir do exercício do ato de governar tendo como base os limites dos seus mesquinhos critérios segregacionistas.
Isto vale também para o chamado socialismo real, pois todas as experiências marxistas-leninistas-maoístas tradicionais, embora baseadas em revoluções armadas, não se desvencilharam da relação de produção capitalista (sistema produtor de mercadorias).
O grande capitalista passou a ser o próprio Estado, sem os novos dirigentes se aperceberem (ou se apercebendo e mantendo dita relação por oportunismo ou covardia) de que o poder reificador do fetiche da mercadoria submete a vontade política aos ditames ditatoriais da lógica de reprodução do capital.
O grande capitalista passou a ser o próprio Estado, sem os novos dirigentes se aperceberem (ou se apercebendo e mantendo dita relação por oportunismo ou covardia) de que o poder reificador do fetiche da mercadoria submete a vontade política aos ditames ditatoriais da lógica de reprodução do capital.
Slogan de campanha do PT em 2002. Bons tempos... |
Ora, isto significa que governar sob critérios das categorias capitalistas termina sempre na negação ao povo do acesso às riquezas abstratas produzidas pela trabalho abstrato e até das riquezas materiais existentes na natureza.
Governar sob a égide do capital significa fazer concessões (leia-se corrupção) para se participar com chances de êxito do oneroso jogo político.
A prática da corrupção (pela qual oPTou o Partido dos trabalhadores) torna vulnerável qualquer governo com tendência de esquerda aos olhos do sistema liberal democrático; e aí entra, como faca em melancia, o poder Judiciário, com a sua hipócrita pose de neutralidade.
Foram ingênuos os governantes petistas em acreditarem que poderiam confiar nos Delcídios do Amaral e até mesmo nos Antônios Paloccis da vida, este último de repugnante postura acovardada e de traição aos seus companheiros de maracutaias.
Por Dalton Rosado |
Acreditar no sistema capitalista, moldado e aperfeiçoado ao longo dos últimos cinco séculos, como algo que possa ser consertado por dentro, é como querer que o Pelé de hoje repita os chapéus que ele deu nos suecos ao fazer um dos gols mais bonitos de todas as Copas na final de 1958.
Acreditar em Papai Noel capitalista é nisso que dá!
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