quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O "MANIFESTO PARA RECONSTRUIR O BRASIL" E A FALTA QUE FAZ UMA OPÇÃO VERDADEIRAMENTE DE ESQUERDA

Por David Emanuel Coelho
A decadência do lulopetismo é um fato amplamente observado e analisado. Porém, pouco se tem falado sobre tal decadência não estar apenas circunscrita ao Partido dos Trabalhadores. Na verdade, toda a esquerda pós-ditadura, moldada em padrões similares ao lulopetismo, está em decadência. 

Não poderia ser diferente, se atentarmos para o fato de praticamente toda esta esquerda ter se originado no PT. Exceção feita aos agrupamentos surgidos a partir da desagregação do antigo PCB e alguns herdeiros do velho trabalhismo. 

As crias do PCB e do trabalhismo já passaram desta pra melhor há tempos. Hoje não possuem a menor pretensão de lutar por nada que não sejam cargos, à medida que trazem na bagagem punhado a mais de votos para a formação das bancadas. 

Porém, os filhotes do petismo ainda buscavam expressar ideais ideológicos, posicionando-se enquanto oposição à esquerda do governo petista. 

Esta oposição, no entanto, comportava-se como uma espécie de duplo do lulpetismo. Embora denunciasse o desengano do PT e clamasse por outro caminho, o fazia a partir de uma perspectiva lulopetista. Isto é, a oposição destes partidos era uma oposição lulopetista ao lulopetismo. Uma oposição de esquerda, bem entendido, mas a qual, em momento algum, rompia com a lógica fundamental do lulopetismo. 

Qual era o principal elemento de crítica destes agrupamentos ao petismo? Era de que o petismo teria perdido sua pureza ideológica, vendendo-se à burguesia e à direita política. A lógica, portanto, seria de se contraporem a um desvio histórico do Partido dos Trabalhadores. O projeto petista originário, contudo, seria factível de realização.

No momento, porém, de esgotamento histórico do PT, tais agrupamentos estariam se movendo para, ao mesmo tempo que enterram o partido, salvar o projeto lulopetista, o qual agora trocaria de mãos. 

Isto explicaria porque tais agrupamentos passaram a defender tão ostensivamente Lula e o governo derrocado de Dilma. Na verdade, mais do que defender Lula e Dilma enquanto figuras de carne e osso, a meta seria defendê-los enquanto figuras politicamente simbólicas. 

Certamente, o partido vetor deste movimento é o PSOL. Último a se descolar do PT, o PSOL possui em seu interior uma direção fortemente lulopetista, propensa a tentar repetir o projeto petista em um novo patamar. 

O primeiro sinal disto foi a saída do PSTU do agrupamento autodenominado Mais, o qual rapidamente buscou abrigo no Psol, indo ali reforçar os interesses da direção psolista e ajudar no isolamento dos agrupamentos radicais do MES. 

O segundo sinal é a recente imposição (sem debate interno) do nome de Guilherme Boulos como candidato à presidência pelo partido. Com Boulos será possível acessar a máquina de militância do MTST e, assim, ter um agrupamento popular de massas análogo ao MST. Para a direção do PSOL, isto significa retirar o partido da condição de um agrupamento de classe média, tornando-o um partido com inserção em parte da classe trabalhadora, de forma a alavancar a capacidade eleitoral psolista. 
Em 2012, na eleição municipal de Belém, o Psol já começava a tentar ocupar o espaço eleitoral do PT
Em paralelo, o PSOL incorpora o discurso lulopetista sobre o golpe e contra a Operação Lava-Jato, o que lhe permite herdar a militância e o eleitorado mais fiel ao petismo. 

Qual seria o projeto? Basicamente, o mesmo que o do PT, talvez com uma coloração ideologicamente mais verborrágica. O tal Manifesto para reconstruir o Brasil é praticamente um raio X das ideias da direção psolista, defensora entusiasmada do desenvolvimentismo ali expresso. 

Gilberto Maringoni, um dos principais expoentes ideológicos da direção psolista, já deixou claro tempos atrás que sua única diferença frente ao PT seria a política econômica, considerada por ele neoliberal e não nacionalista

Porém, o complicador deste projeto é o fato da história dificilmente se repetir. Quando ela se repete, já ensinava Marx, é sempre como farsa.
Boulos quer herdar a militância e o eleitorado do petismo
Neste momento, é pouco provável que projetos como este vinguem, justamente pelo fato de estarmos em um momento de radicalização da luta de classes, no qual a burguesia claramente desdenha de um governo de coalização com a classe trabalhadora. 

E a própria classe trabalhadora também não busca mais uma política de acomodação, mostrando isto seja em seu rechaço completo ao regime político, seja embarcando em posições nitidamente de extrema-direita. 

A tentativa de reeditar a experiência esgotada do lulopetismo apenas mostra a própria decadência destes agrupamentos, os quais não possuem qualquer alternativa viável para constituir-se enquanto opção verdadeiramente de esquerda. 

Analisam o mundo social a partir dos pressupostos lulopetistas e não conseguem entender a dinâmica atual e formular respostas à altura do momento histórico. 

Impossibilitados de mudar, pois presos ao velho, apenas conseguem propor uma retomada do que já se foi. É a expressão cabal de sua falência política.

2 comentários:

Valmir disse...

verdadeira esquerda???? tenho urticaria com essa verdadeira alguma coisa...quando falam de verdadeiro cristianismo para descartar a pedofilia e corrupção da igreja como sendo uma coisa a parte, introduzida, eppaaa... pelo diabo.
ou a "verdadeira" educação...ou a verdadeira democracia.
então com perdão da expressão...verdadeira qqr coisa de cu é rola...

David Emanuel disse...

De fato, falar em "verdadeira" qualquer coisa fica parecendo um tom metafísico, como se houvesse um modelo absoluto de algo e o resto seria o falso. Porém, aqui apenas me refiro aos princípios de esquerda realmente comprometidos com valores éticos e humanistas.

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