terça-feira, 16 de janeiro de 2018

FRAUDE OU NÃO FRAUDE, EIS A QUESTÃO

ELEIÇÃO SEM LULA É FRAUDE?
Eu gostaria de ver Lula concorrendo à Presidência da República e perdendo. Embora o Brasil seja um lugar sui generis, não creio que tenha ficado tão disfuncional a ponto de recolocar no cargo máximo do país o líder da legenda que acaba de provocar uma das maiores recessões da história —e sobre o qual ainda pesam graves suspeitas de corrupção.

Penso também que um pleito sem Lula deixaria um fio desencapado no processo político. Petistas passariam o resto dos tempos se queixando de que foram desclassificados no tapetão. Para reduzir o caráter de rixa que vem marcando as últimas corridas eleitorais, seria melhor que o capítulo Lula fosse encerrado por uma decisão das urnas e não dos tribunais.

Se, porém, o ex-presidente tiver sua condenação confirmada pelo TRF-4 na próxima 4ª feira (24), não vejo como deixar de aplicar a Lei da Ficha Limpa (LC nº 135/2010), que o excluiria da disputa. 

Confesso que nunca gostei muito dessa norma, contra a qual já escrevi algumas colunas. Mas, se o prejuízo de uma eleição sem Lula fica restrito ao campo das conveniências políticas, passar por cima da lei para admitir o petista no pleito causaria um dano de ordem institucional. 

E, a esta altura, tudo o que não podemos fazer é fragilizar ainda mais as instituições.

Nesse contexto, eu diria que, se há alguma ameaça de fraude no ar, ela está menos em tirar Lula da eleição —o PT e suas ideias, afinal, não estão sendo calados, já que o partido estaria apto a lançar outro candidato— do que em deixar deliberadamente de aplicar uma lei que foi quase universalmente apontada como virtuosa apenas porque o resultado não nos agrada.

Não há como não apontar a ironia de que a Ficha Limpa leva a assinatura de Luiz Inácio Lula da Silva, que foi quem a sancionou, sob o aplauso de petistas como Dilma Rousseff.

QUEM SE SUBMETE DOCILMENTE AO CAPITALISMO E À DEMOCRACIA BURGUESA
NÃO TEM MORAL PARA CHIAR
Até hoje os petistas insistem na narrativa do golpe, pois é bem mais fácil para eles se dizerem vítimas de uma ilegalidade do que admitirem que Dilma Rousseff cavou sozinha a sepultura do seu mandato, sob os olhares complacentes do partido, que viu o desastre se aproximando e não agiu incisivamente para evitar a pior derrota da esquerda brasileira desde 1964. 

Ou continuam grasnando foi golpe!, foi golpe!, ou terão de fazer a autocrítica obrigatória nessas situações, aquela autocrítica que eles estão nos devendo desde 31 de agosto de 2016, quando Dilma foi privada definitivamente do seu mandato.

Como o processo de impeachment cumpriu, uma por uma, todas as etapas que a Constituição determina, quem tantas velas acendeu no altar da democracia burguesa e dos valores republicanos foi simplesmente cínico ao arguir golpe como desculpa para esquivar-se de suas responsabilidades históricas. 

A situação se repete agora com a narrativa da fraude. É de um ridículo atroz defender a impunidade de candidatos que estejam bem situados nas pesquisas de intenção de voto. Quem sempre aceitou a Justiça que está aí —uma Justiça de classe, cujo objetivo último é eternizar a dominação burguesa e a imposição da desumanidade capitalista— não pode pular fora apenas porque uma de suas decisões lhe será inconveniente do ponto de vista eleitoral. 

Isto só nos faz lembrar a infinidade de decisões judiciais prejudicando os explorados que foram tomadas nas últimas décadas sem que os petistas jamais ousassem acusá-las de fraudulentas.
Ou seja: esse PT amansado que concorda em jogar o jogo no campo do inimigo e segundo as regras do inimigo, não tem direito legal nem moral de alegar golpe em 2016 ou fraude em 2018. 

Só os terá se e quando admitir que a Justiça e a democracia burguesas não passam de biombos para mascarar a supremacia absoluta do poder econômico, que é quem realmente manda e desmanda enquanto os incensados três Poderes não passam de satélites gravitando ao seu redor. 

Ocorre que tal admissão o obrigaria, por uma questão de coerência, a desistir imediatamente das ilusões eleitoreiras, da conciliação de classe, do reformismo e do populismo, reassumindo as bandeiras revolucionárias que atirou no chão ao longo da década de 1980.

E este é um passo que, definitivamente, o PT descaracterizado de hoje em dia não quer dar, daí preferir continuar adotando a moral da ambiguidade, nem que isto implique trocar as argumentações convincentes pelo panfletarismo barato, afugentando os cidadãos com um mínimo de espírito crítico.

6 comentários:

Unknown disse...

Celso,

O próprio processo eleitoral é suspeito.

Não há candidatos independentes.

As urnas eletrônicas são de um modelo que não permite auditoria.

A própria Justiça Eleitoral está falando do voto impresso.

Nos partidos, é indicado quem o dono da sigla mandar que seja.

Não há sanções a quem promete uma coisa e faz outra depois de eleito.

É preciso ser muito Polliana para ver futuro num processo desses.

Afinal, é a "parte que nos cabe neste latifúndio". Já dizia o João.

Mas, apesar dos pesares, ainda rende acaloradas discussões.

É divertido.

Anônimo disse...

Celso, você está sabendo que o famoro triplex do Guarujá foi penhorado pela justiça em Brasília? E como bem da OAS, para ressarcir credores da construtora? Está sabendo disto?
Interessante não? A prova do crime do Lula, na vara do Moro, e considerada propriedade da OAS por uma juíza.

celsolungaretti disse...

Jorge,

como eu digo no artigo, o PT se dispôs a respeitar a democracia burguesa e respectiva Justiça, então que vá se entender com ela!

Se tivesse continuado revolucionário (como na declaração de princípios de 1980), poderia alegar parcialidade do Judiciário, fraude, etc. Mas, como optou por ser bom menino, perdeu o direito de chiar quando é colocado de castigo.

Abs.

Anônimo disse...

Você está enganado Lungaretti, o PT nunca foi um partido revolucionário, não consta isso em nenhum documento do partido desde a fundação.

Outra coisa, esta CARTA DE PRINCÍPIOS do partido é de 1º de maio de 1979, bem anterior à fundação do partido em fevereiro de 1980, quando foi lançado o manifesto.

Você tem a mania de "chutar" e não de checar as informações (como faz todo jornalista bem formado). Releia o documento e verá que o partido desde sua fundação defendeu a democracia e não a ditadura do proletariado.

Aqui o endereço jornalista http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/03/cartadeprincipios.pdf

celsolungaretti disse...

Puxa, anônimo, vc teve sorte de não haver colocado o nome, assim não passou vexame. A afirmação que eu fiz se baseia no MANIFESTO DE FUNDAÇÃO DO PT, que é de 10 DE FEVEREIRO DE 1980, foi aprovado pelo Movimento Pró-PT durante encontro realizado no Colégio Sion (SP) e
publicado no Diário Oficial da União de 21 DE OUTUBRO DE 1980.

Dele constam os seguintes trechos:

"As riquezas nacionais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem estar da coletividade...

"O PT lutará por todas as liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela democratização da sociedade em todos os níveis...

"...O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir UMA SOCIEDADE IGUALITÁRIA, ONDE NÃO HAJA EXPLORADOS NEM EXPLORADORES. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo"

Eis o link:
http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/04/manifestodefundacaopt.pdf

Anônimo disse...

Embora não seja nem um pouco petista, sempre tive a "convicção" de GOLPE, e, por isso mesmo, li o texto com muita atenção. Contudo, como sempre vem ocorrendo, não encontrei nele ARGUMENTAÇÃO, mas apenas OPINIÃO, que, diga-se, cada um tem a sua, e sempre deve ser respeitada acima de tudo.

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