quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

24 DE JANEIRO DE 2018: CRÔNICA DA DERROTA ANUNCIADA

Há vários meses eu vinha cantando a bola de que a direita, com a faca e o queijo na mão, impediria o terceiro mandato do Lula de qualquer jeito. 

A via judicial era o curinga que guardava na manga: caso não tivesse certeza de obter seu intento nas urnas, jogaria a carta da inelegibilidade.

Então, o espetáculo de Porto Alegre foi para mim um tédio só: que graça tem escutar todo aquele blablablá pomposo quando já se sabe o final?

Tentei alertar Lula da inutilidade de sua insistência, quando ele ainda poderia, quem sabe, permanecer fora da prisão.  Se admitisse fazer um anúncio público de que desistiria da política para dedicar-se à família, seria uma boa base para um acordo, a ser negociado nos bastidores. A vantagem para o inimigo: evitar a má repercussão no Brasil e no exterior da prisão de um ex-presidente.

Quando Lula preferiu travar um confronto destrambelhado com o mercado, os Poderes da República e a imprensa, todos ao mesmo tempo, percebi que não tinha mais salvação.
Será que ele nutria alguma esperança de que o desfecho viesse a ser diferente?

Ou aceitou sacrificar-se para que o PT não sofresse em 2018 esvaziamento comparável ao da eleição anterior?

Sempre o considerei uma âncora puxando a esquerda para as profundezas do seu passado geralmente populista e conciliador (as exceções foram poucas e duraram pouco, como a luta armada dos anos de chumbo).

Mas, incomodava-me saber que Lula era o menor culpado pelo papel histórico que desempenhou: o de um segundo pai dos pobres e mãe dos ricos (que, aliás, gosta de comparar-se com o primeiro, Getúlio Vargas, elogiando "as suas realizações sociais e econômicas e de projeto de país", como se o ditador de 1930/1945, que nutria evidente simpatia pelo nazi-fascismo, fosse um exemplo edificante. 

Nunca foi um revolucionário e os dirigentes do PT não tinham quaisquer ilusões a respeito. Mas, ávidos por aproveitar seu potencial como chamariz de votos, decidiram encher ao máximo a bola do Lula, certos de que o manteriam facilmente sob controle.

Os controladores, contudo, foram atingidos em cheio pelas investigações do mensalão e a criatura escapou do laboratório do dr. Frankenstein, passando a fazer tudo que lhe dava na telha. Foi o começo do fim.
Lula poderia até ser presidente da República do Brasil por algum partido de centro ou de direita moderada, mas nunca teve o perfil de um presidente de esquerda. O oportunismo de tal escolha nos saiu caríssimo.

E agora, com a viola em cacos, vamos continuar insistindo nos erros gritantes cometidos, principalmente, na atual década? Ou é o momento de partirmos em busca da identidade perdida?

Pois, ou existimos para dar um fim à exploração do homem pelo homem, ou não somos nada.

Enquanto nos limitamos a gerenciar o capitalismo para os capitalistas, fomos nada. É o que queremos ser indefinidamente?

Temos agora uma chance de começar de novo, ainda que seja do zero. 

Se este tiver sido o preço a pagar para voltarmos à trilha revolucionária da qual jamais deveríamos ter-nos desviado, sem dúvida compensou!

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