Celso Lungaretti |
Nesta 5ª feira, 14, nem de longe pensava em postar algo nesta linha, mas às vezes o noticiário é tão chocho que encontro dificuldade para encontrar um assunto que valha a pena abordar, mantendo a promessa que fiz ao lançar este blog, de oferecer pelo menos um texto novo a cada dia.
Então, vou me socorrer da resposta que dei no Facebook ao velho companheiro Sílvio Poggi Nunes; sem querer, ela acabou sendo, em miniatura, algo como a Autobiografia precoce de Eugenio Evtuchenko, um dos livros mais determinantes na minha formação política.
Sílvio Poggi Nunes |
Aí a esquerda não mais encontrará operários, porque estarão na direita, onde encontraram segurança e promessa de abrigo.
Celso Lungaretti, gosto de ti admiro a tua coragem e lealdade, sofrestes na carne a violência e a bestialidade das botas mal lustradas, e a tentativa de desmoralização de uma esquerda desinformada, paranoica, desleal, má caráter, que te pegou de bode expiatório. SAI DESSA, OU BAIXA A POEIRA.
Celso Lungaretti |
Penso que alguns legados já estão definidos:
- minha contribuição para a salvação dos quatro de Salvador e de Cesare Battisti;
- o exemplo que deixo, de que um revolucionário injustiçado por seus companheiros não deve fazer acordos podres mas sim lutar para trazer a verdade à tona, nem que isto demore quase 35 anos e implique suportar estigmatização durante todo esse tempo;
- a de que revolucionário deve obedecer sempre à sua consciência, sem compactuar com erros desastrosos e práticas vergonhosas, mesmo que tenha de lutar sozinho contra tais distorções (devemos geralmente acompanhar nossa tribo, mas há momentos em que a única forma de mantermos a integridade e a coerência é termos a coragem de seguir adiante como lobos solitários!).
Mas, foi o máximo que eu pude fazer. Ainda assim, restou-me um sabor amargo na boca por, p. ex., assistir à terrível derrota de 2016 depois de todos os alertas que lancei desde a campanha eleitoral de 2014:
- de que Dilma não estava à altura da crise econômica que enfrentaria caso se reelegesse;
- de que governo de esquerda com ministro da Fazenda de direita (como o Joaquim Levy) acaba paralisado por esta contradição e se desconstruindo;
- de que o afastamento da Dilma se tornou irreversível quando a Câmara Federal autorizou o início do processo de impeachment e não adiantava percorrer todas as etapas fixadas na Constituição até o mais amargo fim, sendo preferível a renúncia imediata e o imediato lançamento de uma luta por diretas-já, uma bandeira que seria capaz de unir toda a esquerda;
- que ao invés de tentarmos derrubar Temer era mil vezes mais importante reagruparmos nossas fileiras sob perspectivas estratégicas e táticas bem diferentes, abandonando as ilusões democratico-burguesas e reconduzindo a esquerda aos trilhos revolucionários.
Então, persistirei até o fim da vida tentando contribuir para a gestação de uma nova esquerda, em substituição à que perdeu o rumo e a moral, jogou nossas bandeiras no chão e desistiu de lutar por uma transformação em profundidade da sociedade brasileira.
Se o possível já não basta para os explorados que temos a missão de representar, só nos resta redescobrirmos a ousadia dos jovens contestadores de 1968: "Sejamos realistas, exijamos o impossível!".
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