quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

FILHOTE DA DITADURA? NÃO EXATAMENTE. MALUF ESTÁ MAIS PARA UM SAPO QUE OS MILITARES TIVERAM DE ENGOLIR.

Ascensão de Maluf teve o aval do ditador Figueiredo...
Tendo acompanhado a carreira de Maluf desde os primórdios, nunca o considerei exatamente um filhote da ditadura, conforme Leonel Brizola o qualificou em bate-boca memorável, durante um debate eleitoral de 1989.

Os  filhotes  paradigmáticos eram aqueles políticos inexpressivos e servis que  governaram São Paulo unicamente por terem o beneplácito dos ditadores, como Laudo Natel e Paulo Egydio Martins.

Maluf foi, isto sim, um sapo direitista que a ditadura ultradireitista teve de engolir. Com sorte e muita habilidade para corromper e cooptar seus pares, em três ocasiões ele conseguiu arrombar a festa.

Sua primeira chance surgiu quando Luiz Arroba Martins, escolhido pelo governador Abreu Sodré para ser nomeado prefeito de São Paulo, cometeu o deslize de criticar o poder central numa reunião política. Imediatamente os militares o vetaram e Sodré foi obrigado a aceitar a nomeação do pretendente alternativo, aquele dirigente da Associação Comercial de São Paulo que o ministro Delfim Netto protegia. Assim Maluf se tornou prefeito (1969-1971).
...por se tratar de um protegido do Delfim Netto

Fiel ao seu estilo de tocador de obras, o engenheiro Maluf fez muitas, como prefeito e como secretário dos Transportes do governo de Natel (1971-1975). E, claro, nelas a corrupção grassou solta, o que nunca foi novidade nestes tristes trópicos. Vide seu antecessor mais célebre em SP, o interventor federal, prefeito e governador Adhemar de Barros, popularmente conhecido como o  rouba-mas-faz.

Maluf agradeceria a Natel pelo trampolim disponibilizado para sua ascensão política... traindo-o e o derrotando de forma vexatória! 

Natel fora escolhido pelos militares para governar São Paulo pela terceira vez e pensou que os convencionais do partido situacionista, a Arena, bateriam continência; não deu a mínima para eles. 

Maluf visitou os 1.261, um por um e, com os argumentos sonantes  habituais, seduziu 617 e ganhou a convenção por diferença de 28 votos. Os fardados, surpreendidos e estupefatos, cogitaram virar a mesa, mas acabaram se conformando. 

Antes disso, muitas vezes haviam afastado arbitrariamente não só os políticos opositores, mas também aqueles que, mesmo tendo estado ao lado deles no momento da quartelada, depois passaram a defender a redemocratização do País. 
Aparentando humildade; depois, contudo, ele trairia Natel.
Hesitaram, contudo, em dar o mesmo tratamento àquele que era o maior dos seus puxa-sacos: Maluf só os contrariava no tocante a suas ambições pessoais, beijando-lhes abjetamente os coturnos em todo o resto.

A pior faceta de Maluf, o motivo que mais o fazia merecedor de repúdio,  foi, como governador (1979-1982), ter dado carta branca para a tropa de choque da Polícia Militar, a Rota, barbarizar os bairros pobres, atuando com truculência desmedida e exterminando marginais com sanha comparável à do antigo Esquadrão da Morte. Depois, em cada uma das quatro tentativas frustradas de voltar ao Palácio dos Bandeirantes, Maluf repetiria o bordão: "Vou botar a Rota na rua!".

Vale lembrar que, em Rota 66 - A polícia que mata, o repórter Caco Barcelos documentou 4.200 casos (totalizando cerca de 12 mil vítimas inocentes) de assassinatos cometidos pela Rota nas décadas de 1970 e 1980, tendo como alvos, quase sempre, jovens pobres, pardos e negros, muitas vezes sem antecedentes criminais. Os cidadãos honestos atingidos por engano seriam em maior número do que os verdadeiros criminosos – cuja condição, claro, não eximia os policiais do dever de entregá-los à Justiça, ao invés de simplesmente os abater como moscas.

VALORES DISTORCIDOS

Acesse outras frases polêmicas do Maluf aqui
Até hoje me indigna que Maluf haja se tornado um criminoso procurado pela Interpol em razão de crimes financeiros e não como patrono e incentivador de assassinos seriais, responsável último por uma infinidade de execuções maquiladas em resistência à prisão. Isto dá uma boa ideia da escala desumana de valores do sistema capitalista...

Nos estertores da ditadura, Maluf repetiu a proeza de conquistar os convencionais do partido governista, convencendo-os a não endossarem a candidatura oficial de Mário Andreazza. Mas, uma parte deles preferiu debandar e constituir o PFL, garantindo a própria permanência no poder, como aliados que foram do PMDB na eleição indireta que despachou os militares de volta para os quartéis..

Foi o fim do sonho presidencial de Maluf, que chegou perto mas não levou... felizmente! Ainda se elegeu prefeito de São Paulo (1993-1996), mas a tentativa de nova decolagem enguiçou quando o sucessor que escolheu e apoiou, Celso Pitta, teve gestão escandalosa e acabou sendo rejeitado como ruim ou péssimo por 83% dos paulistanos.

Desde então sua estrela se apagou e Maluf tem procurado apenas ficar longe das grades, aparentemente o motivo principal do seu empenho em manter a cadeira de deputado federal (já está no quarto mandato, os três últimos sucessivos). 

A condenação que deve determinar agora seu encarceramento remonta à sua segunda passagem pela Prefeitura paulistana, encerrada 21 anos atrás, num tempo em que Maluf parecia ser o único grande corrupto da cena política brasileira. Quanta ingenuidade a nossa!
Bateboca famoso: filhote da ditadura x desequilibrado.

Um comentário:

WILLIAM ORTH disse...

Caro Celso, não discuto Paulo Maluf. Este todos conhecemos. Mas na minha "seara" digo e repito Caco entende de Polícia como entende de tomates. 12000 (doze mil inocentes)????. Esta de brincadeira. 4200 casos???. Caco não entrevistou uma ÙNICA vítima de latrocidas,estupradores,assaltantes de banco. Na contra partida extremista o livro "matar ou morrer" entrevistou as vítimas dos meliantes e a verdade foi contada de forma bem diferente.
Já disse, a população mais humilde, que anda de ônibus e é assaltada nos pontos de ônibus e os mais abastados apoiam integralmente as ações da Rota nos dias atuais. Só intelectuais e membros da esquerda caviar a criticam (pois andam de carro blindado). O "POVÃO" ama a ROTA. Abraço e Feliz Natal que você merece.

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