Estamos a quatro meses do dia em que se comemorará o centenário da revolução soviética, o 7 de novembro, que neste ano vai cair numa terça-feira.
Para quem quiser conhecer melhor a primeira experiência revolucionária vitoriosa inspirada pelas ideias de Karl Marx, postei abaixo um excelente documentário produzido em 2007 na Argentina pelo Instituto de Pensamiento Socialista Karl Marx e Grupo Contraimagen, contendo imagens, vídeos, músicas e trechos de filmes da época.
Na narração, são citados Leon Trotsky, Lênin, Rosa Luxemburgo, Maiakovski e outros autores fundamentais. Cobre não só as duas revoluções de 1917 (a burguesa de fevereiro e a socialista de outubro), como também o ensaio geral de 1905, quando a autocracia teve uma antevisão do que estava para acontecer, sendo, contudo, incapaz de alterar a marcha da História.
Recomendo a todos que assistam ao vibrante Eles se atreveram. Pois foi, realmente, um episódio fundamental do século passado, que abalou mesmo o mundo, embora não o transformasse tanto quanto gostaríamos. Esta, aliás, é a discussão para o qual o restante deste post tenta dar uma pequena contribuição.
O ATALHO QUE LEVOU
A UM BECO SEM SAÍDA
A UM BECO SEM SAÍDA
Em 1917 os movimentos revolucionários desviaram por atalho que acabou conduzindo a um beco sem saída.
O desvio foi decidido às vésperas da revolução soviética, quando o Partido Bolchevique discutiu dramaticamente se valia a pena tomar-se o poder num país atrasado, contrariando duas premissas marxistas: a da revolução internacional e a da construção do socialismo a partir das nações economicamente mais pujantes (e não o contrário!).
Trotsky comandou a tomada do poder... |
Quando o ardor revolucionário das massas arrefeceu – não dura indefinidamente, em meio à penúria –, a mobilização de esforços para superação do atraso econômico acabou se dando por meio da ditadura e do culto à personalidade.
A Alemanha nazista era o espantalho que impunha urgência: mais dia, menos dia haveria o grande confronto e a URSS precisava estar preparada. O stalinismo foi engendrado em circunstâncias dramáticas.
A república soviética acabou salvando o mundo do nazismo – foi ela que quebrou as pernas de Hitler, sem dúvida! –, mas perdeu sua alma: já não eram os trabalhadores que estavam no poder, mas sim uma odiosa nomenklatura.
Concretizara-se a profecia sinistra de Trotsky: primeiro, o partido substitui o proletariado; depois, o Comitê Central substitui o partido; finalmente, um tirano substitui o Comitê Central.
Com uma ou outra nuance, foi este o destino das revoluções que tentaram edificar o socialismo num só país: ficaram isoladas, tornaram-se autoritárias e não tiveram pujança econômica para competir com o mundo capitalista, acabando por sucumbir ou por se tornarem modelos híbridos (como o chinês, que mescla capitalismo na economia com stalinismo na política).
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E AGORA, JOSÉ?
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Agora, só nos resta voltarmos ao princípio de tudo: Marx.
Reassumirmos a tarefa de engendrar uma onda revolucionária que varrerá o mundo.
Reassumirmos a tarefa de engendrar uma onda revolucionária que varrerá o mundo.
Esquecermos a heresia de solapar o capitalismo a partir dos seus elos mais fracos, pois o velho barbudo estava certíssimo: as nações economicamente mais poderosas é que determinam a direção para a qual as demais seguirão, não o contrário.
Isto, claro, se tivermos como meta a condução da humanidade a um estágio superior de civilização. Pois o cerco das nações prósperas pelos rústicos e atrasados já vingou uma vez, quando Roma sucumbiu aos bárbaros... e o resultado foi um milênio de trevas.
Se, pelo contrário, quisermos cumprir as promessas originais do marxismo, as condições hoje são bem propícias do que um século atrás:
- o capitalismo já cumpriu seu papel histórico no desenvolvimento das forças produtivas e está tendo sobrevida cada vez mais parasitária, perniciosa e destrutiva – tanto que mantém a parcela pobre da humanidade sob o jugo da necessidade quando já estão criadas todas as premissas para o reino da liberdade, e o 1º mundo sob o jugo da competitividade obsessiva, estressante e neurótica, quando já estão criadas todas as premissas para uma existência fraternal, harmoniosa e criativa;
- os meios de comunicação que ele desenvolveu, como a internet, facilitam a disseminação e coordenação dos movimentos revolucionários em escala mundial, de forma que um novo 1968, p. ex., hoje seria muito mais abrangente (está longe de ser utópica, agora, a possibilidade de uma onda revolucionária varrer o mundo);
- a necessidade de adotarmos como prioridade máxima a colaboração dos homens para promover o bem comum, em lugar da ganância e da busca de diferenciação e privilégio, será dramatizada pelas consequências da crise econômica global para a qual o capitalismo se encaminha, das alterações climáticas e da má gestão dos recursos imprescindíveis à vida humana, tudo isso devendo gerar situações tão terríveis que só unidos e solidários eles conseguirão sobreviver.
Nem preciso dizer que a forte componente libertária original do marxismo tem de ser reassumida, pois os melhores seres humanos, aqueles dos quais precisamos, jamais nos acompanharão de outra forma (esta é uma das conclusões mais óbvias a serem tiradas dos acontecimentos das últimas décadas). O tempo do reformismo e do populismo passou definitivamente, e não deixará saudades.
Um século depois, o mundo está novamente prenhe de uma grande revolução. Torçamos para que não enverede por um desvio nefasto, como daquela vez. Até porque, como nunca na história da humanidade, é ela e só ela que poderá garantir a sobrevivência da nossa espécie.
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