quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

NERO DO SÉCULO 21: O QUE FARÁ TRUMP ENQUANTO O MUNDO ARDE EM CHAMAS? TOCARÁ TROMPA?

DONALD TRUMP E A EVIDÊNCIA 
DO DESASTRE MUNDIAL
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"A verdade não resulta do número dos que nela creem"
(Galileu Galilei, físico italiano do século 17) 
Quando ruiu o muro de Berlim em 1989, a ideia era de que o capitalismo liberal finalmente havia trinfado sobre o socialismo real, colocando por terra a crítica marxista. Predominava, mais uma vez, a superficialidade coletiva sobre a natureza das relações sociais mercantis e sobre o conhecimento da teoria do próprio Marx pelos marxistas e seus opositores.  

Da mesma forma, setores majoritários (ou, no mínimo, bastante expressivos) da sociedade associam a vitória de Donald Trump ao triunfo do capitalismo, sentindo-se autorizados a contrariar qualquer defesa de posturas humanistas, tradicionalmente anticapitalistas, tais como a solidariedade social; a luta contra o aquecimento global e poluição do planeta; o acolhimento aos imigrantes fugidos da guerra, da fome e das falências dos estados nacionais; o apoio às greves dos trabalhadores empregados e movimento dos desempregados; a proteção dos direitos dos segmentos socialmente segregados como gays, negros, mulheres, etc. 
Queda do muro: fim do socialismo real e da guerra fria.

Estes dois acontecimentos recentes significam justamente o contrário do que aparentam ser. 

O muro de Berlim ruiu sem um tiro sequer, da mesma forma que a União Soviética se desintegrou, simplesmente porque o capitalismo de Estado impunha um critério de globalização da economia de mercado que não permitia a vida mercantil intramuros então praticada nessas regiões. 

Não é que o capitalismo liberal haja vencido o socialismo real (este último igualmente capitalista, tendo apenas uma feição política diferenciada), mas sim que ambos experimentam o fenômeno da convergência de comportamentos diante do limite interno da capacidade de expansão dos mercados sem a qual desaba todo o aparentemente sólido edifício capitalista. 

Donald Trump é a imagem de um país tradicionalmente orgulhoso de sua supremacia econômica, mas temeroso da realidade e que vê os seus empregos desaparecerem na globalização da produção de mercadorias, pois o capital migra em busca de trabalho abstrato barato para fazer face à concorrência de mercado sob a qual erigiu o seu edifício portentoso. Os Estados Unidos, um país endividado que se mantém pujante graças aos artificialismos da emissão de moeda sem lastro e do próprio endividamento, é uma bomba relógio prestes a explodir. 

Neste contexto, Donald Trump, com seu discurso xenófobo, racista, nacionalista e protecionista, representa uma fuga kamikaze pra frente. A economia mundial decadente, mais do que nunca, precisa da interação econômica entre as nações como forma de sobrevida, enquanto Trump vai na contramão desta necessidade; portanto, tudo leva a crer que logo os fatos demonstrarão a pequenez do discurso oportunista (desconfio que ignorante) com o qual seduziu um eleitorado igualmente desconhecedor da natureza da crise.
Assim, Trump, ao invés de significar o triunfo do capitalismo, representa justamente os últimos suspiros de um moribundo, que busca na irracionalidade desesperada uma saída que só aumenta o seu infortúnio, pois, como dizia Robert Kurz, “há uma contradição lógica e estrutural entre economia nacional e mercado mundial”. O discurso nacionalista de Trump é insustentável dentro da própria lógica capitalista.   

Mas a queda dos Estados Unidos é indesejada pelo mundo capitalista, aí incluída a China, detentora de reservas cambiais em dólar estadunidense e que tem nos EUA o seu maior comprador de mão única. O mundo capitalista não resistiria à falência de sua nação mais poderosa, razão pela qual dará sustentação a tal gigante de pés de barro por aparelhos. 

Mas esta sustentação artificial tem custos sociais elevados. O mundo assiste, perplexo, à progressão da crise econômica mundial: 
  • os Bric's, outrora ilhas de prosperidade, patinam (caso do Brasil e da Rússia, além da queda vertiginosa do crescimento do PIB da China);
  • vários estados africanos se dissolvem, transformando-se num turba de traficantes da guerra, de milícias étnicas, de máfias de bandidos (que agem com métodos primitivos os mais bárbaros) e de fundamentalistas religiosos.
Uma nova diáspora mundial está em curso em várias regiões e pelos mesmos motivos: a incapacidade de produção de mercadorias em níveis de produtividade compatíveis com a concorrência de mercado e a inviabilidade da vida social pela mediação do dinheiro.

O mercado agoniza, e com ele a política e o Estado capitalistas. Mas, infelizmente, predomina o medo do novo (no caso, um modo de produção que sepultasse de vez o mercado). É que tal transição significa a negação de tudo que está posto, afetando os interesses de quem detém as rédeas do poder econômico ou é a ele submisso.  

Que reação podemos esperar de um Donald Trump, se lhe dissermos que temos de doravante produzir para a satisfação das necessidades humanas e não para a maximização dos lucros empresariais? Pois bem, este homem vai comandar o maior arsenal bélico do mundo e, evidentemente, seu primeiro impulso será sempre usar a razão da força ao invés da força da razão. Defenderá seus interesses, que são intrinsecamente genocidas. 

Mas este confronto épico entre, de um lado, a irracionalidade do sistema produtor de mercadorias e seus defensores ora no poder, no ápice de suas contradições internas; e, do outro, a forma de produção que negue a riqueza abstrata concentrada em benefício da riqueza material socializada, está agendado. Teremos de enfrentá-lo, queiramos ou não. 
No Brasil vivemos a explicitação da crise política causada pela insustentabilidade econômica de um país periférico, o que assanha os interesses de políticos ansiosos por se servirem do estado; isto, ao invés de capacitar o Estado para cumprir suas funções estratégicas de salvação do sistema capitalista, torna-o frágil para tal desiderato. Sem o quererem, contribuem para o fim inevitável deles mesmos.  

No atual quadro de escassez, as instituições se digladiam na defesa de interesses corporativos, sem compreenderam a verdadeira natureza funcional da vida mercantil no seu estágio de inviabilidade de mediação social. Há furos por todos os lados, o barco faz água e surgem muitos pretendentes a heróis salvadores da pátria que não passam de pigmeus da vida social (que me perdoem os pigmeus de verdade, cuja estatura humana é bem maior...).         

Saberemos superar tudo isso sem que haja uma hecatombe bélica mundial? Esta é a pergunta que não quer calar. (por Dalton Rosado)

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