O bom companheiro Valter Vicente Albachiare, leitor assíduo dos meus artigos, sugeriu no Facebook que eu fizesse "uma compilação dos que estão mostrando a verdadeira situação da Previdência... que ela não é deficitária coisa nenhuma, penso que um gritar daqui, outro dali, pode ser uma maneira de a verdade multiplicar-se".
Depois de postar a resposta, notei que ela resumia bem a diferença de enfoque entre a minoritária esquerda revolucionária e a majoritária esquerda reformista (a qual sempre me faz lembrar um dos sucessos do Chico Buarque, ao continuar insistindo até hoje nas lutas e posturas de um passado cada vez mais distante: "o tempo passou na janela e só Carolina não viu").
Então, decidi publicá-la aqui, na esperança de contribuir para a chegada do século 21 nos arraiais (e também nos saraus) da companheirada... (CL)
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Prezado Walter,
o austericídio é só o que podemos esperar do capitalismo neste momento em que suas contradições cada vez mais se aproximam do impasse definitivo.
Temo. contudo, que a Previdência, nos moldes atuais, marche mesmo para a insolvência em médio ou longo prazo.
Temo. contudo, que a Previdência, nos moldes atuais, marche mesmo para a insolvência em médio ou longo prazo.
Fazendo a conta como os chamados guarda-livros de outrora, ou seja, considerando apenas e tão somente se as receitas superam, equivalem ou são inferiores às despesas, não há dúvida de que a equação não poderá sustentar-se por muito tempo, já que existem cada vez menos trabalhadores ativos por beneficiário.
Temo também que os analistas a que você se refere estejam fazendo mais propaganda e proselitismo do que análise de viabilidade econômica séria.
A grande questão é a que eu e o Dalton Rosado colocamos o tempo todo: o que importa mais para nós, as contas baterem ou os seres humanos sobrevivermos? Se não dá para garantir-se a idosos e pessoas que se tornaram incapacitadas para o trabalho uma existência minimamente digna, isto não ocorre porque as contas estariam erradas ou porque corruptos saqueiam a Previdência, mas por um motivo bem maior, de ordem geral: a lógica do capitalismo é a lógica das coisas e não a lógica dos homens.
Então, a bandeira correta não é tentarmos evitar a reforma desumana da Previdência, pois o capitalismo acabará conseguindo mesmo impô-la, como vem impondo abominações similares em todo o planeta.
A luta a travarmos neste momento é contra o capitalismo em si, não porque seja a nossa preferência como revolucionários, mas porque o capitalismo hoje é o grande inimigo da felicidade humana e a barreira que se antepõe a todas as nossas tentativas de a concretizarmos.
Quem tenta salvar a Previdência atual é quem tenta provar que ainda dá para salvar o capitalismo. Não dá. Ele está nos estertores e, daqui em diante, vai se tornar cada vez mais perverso, destrutivo e nocivo aos seres humanos.
Há muito tempo deveríamos estar direcionando nossos esforços para a luta que realmente podemos ganhar, precisamos ganhar (até mesmo para garantirmos a sobrevivência da humanidade) e que compensa ganhar.
Não é colocando o dedo na rachadura que conseguiremos evitar que o dique se rompa e nos afogue a todos. Enquanto mantivermos este tipo de ilusão, continuaremos patinando sem sair do lugar.
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