É das mais preocupantes a entrevista que o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Paulo Rabello de Castro, concedeu à Folha de S. Paulo nesta 2ª feira (5).
A projeção atual é de que o PIB cresça apenas 1% em 2017, um percentual por ele reconhecido como "claramente insuficiente" para uma economia que vem se contraindo desde meados de 2014. Daí a conclusão desanimada de Rabello: "À medida que os meses de 2016 foram avançando, foi ficando claro que a reversão do processo recessivo será mais lenta e mais penosa, do ponto de vista do que mais nos interessa, que é a recuperação do emprego".
Pior ainda foi a impressão por ele deixada, de que a equipe econômica não sabe sequer como começar a desatar o nó:
Rabello: "Nós não conseguimos fazer esse time jogar bem" |
"Nós não conseguimos fazer esse time jogar bem. Veja a seleção brasileira, uma rearticulação na cabeça do técnico fez emergir, com os mesmos jogadores, um outro time.
Esse é o milagre que eu esperaria do governo. Não podemos trocar os jogadores. Algo há de errado na disposição desse time. As empresas entram mal em campo, as pessoas são desempregadas. Todos ficam desesperançados, a produtividade geral cai e o governo gasta demais, cobrando de todos para cobrir a gastança".
Com perspectivas tão desalentadoras no momento em que as empresas definem seus planos de atuação para o próximo exercício, o que podemos esperar delas, se não que continuem jogando na retranca e deixando os investimentos produtivos para dias melhores?
Movidas pela ganância, só a ganância e nada mais do que a ganância, nem lhes passa pela cabeça honrar a responsabilidade assumida ao favorecerem o impeachment de Dilma Rousseff. Pois até as pedras das ruas sabiam que o meramente mediano Michel Temer só conseguiria reverter o desastroso quadro atual se os pesos-pesados da economia cerrassem fileiras com ele e assumissem alguns prejuízos para tirar o Brasil do buraco.
Gilmar Mendes é o curinga que pode ou não ir para a mesa |
Negativo. Vão é continuar defendendo encarniçadamente suas fortunas e privilégios, sem darem a mínima para o que está sofrendo e venha a sofrer o povo brasileiro!
Como consequência da frustração geral, há uma semana vêm sendo ouvidos em vários círculos influentes os rumores sobre o descarte de Temer via TSE: no início de 2017 suas contas seriam impugnadas, provocando a eleição indireta do(a) novo(a) presidente-tampão.
A ex-presidente Dilma Rousseff defende a realização de uma campanha popular para que tal escolha se dê nas urnas, como se a esquerda tivesse hoje a mesma credibilidade e apelo popular que tinha em 1984, quando sensibilizou os melhores brasileiros com a campanha das diretas-já.
Talvez desse certo se ela houvesse renunciado tão logo a Câmara Federal aprovou o prosseguimento do seu processo de impeachment, em abril último. Mas, como Dilma preferiu teimosamente perder todas as batalhas até o mais amargo fim, agora é tarde e Inês é morta!
A HIPÓTESE DA 'ITAMARIZAÇÃO'
Como rainha da Inglaterra, Temer jamais conseguiria... |
Neste domingo (4), o analista político Vinícius Torres Freire revelou uma hipótese que estaria sendo discutida nos círculos tucanos: ao invés de assumirem explicitamente a cadeira presidencial com os votos dos parlamentares, expondo-se aos ônus e armadilhas da atual degringola econômica, fazerem-no de forma velada:
"Cruzar os braços (...) sem se afastar de Temer implica o risco de naufragar com o presidente. O grupo de Aécio se anima a recompor o governo, não apenas substituindo as cabeças cortadas do grupo do presidente, as de hoje (Geddel Vieira Lima) ou de amanhã (Eliseu Padilha).
Pretende levar assessores, economistas em particular, para ajudar no remendo...
Esses tucanos e gente ligada a FHC não acreditariam mais na solução TSE (condenação da chapa Dilma-Temer e convocação de eleição indireta), a princípio...
Em suma, seria melhor deixar Temer e o PMDB na linha de frente do tiroteio da impopularidade e trabalhar na retaguarda, sem assumir o governo".
...ser tão patético quanto Itamar Franco. |
Não ocorreu ao Torres Freire, mas seria uma manobra semelhante à executada no governo de Itamar Franco.
Alçado ao poder no final de 1992 com o defenestramento do Collor (do qual era vice), não passava de um presidente com cabeça de prefeito do Interior, mais apto a enriquecer o anedotário político do que a tirar o Brasil de uma crise econômica tão grave quanto a atual.
[Deixou como lembranças a exumação do fusca, que a Volkswagen, por sua insistência, relançou em pequena quantidade e, claro, foi recebido como carroça pelo mercado; a proibição de se asfaltarem as cidades históricas de Minas Gerais, mantendo nostalgicamente os paralelepípedos que danificavam os carros modernos e tanto desconforto causavam a motoristas e passageiros; e ter chamado para assistir um desfile carnavalesco a seu lado, no camarote presidencial, a modelo Lilian Ramos sem calcinha, em patética tentativa de desmentir as maledicências de Fernando Collor sobre sua orientação sexual...]
Pelo menos Itamar conhecia suas limitações: chamou FHC para cuidar da economia e foi se ocupar das ninharias e frivolidades para as quais seus talentos o qualificavam.
O astuto sociólogo, longe de se tornar peixe fora d'água numa Pasta com a qual não tinha nenhuma afinidade, soube reunir uma boa equipe e nela escudar-se. O Plano Real acabou sendo o único programa de estabilização econômica bem sucedido daquela fase. E o prestígio de salvador da pátria que FHC adquiriu (ofuscando Itamar) acabou lhe valendo dois mandatos presidenciais.
FHC deitou e rolou com o plano que não foi ele quem fez |
Enfim, a itamarização do Temer é uma possibilidade com boa chance de vingar, até porque tem tudo a ver com a forma dissimulada e maquiavélica de ser dos tucanos.
Trata-se de uma das muitas possibilidades que estão sendo cogitadas por aí, incluindo algumas autoritárias, que conseguiriam piorar o que já está péssimo.
O que não me parece mais plausível é o Brasil atravessar intermináveis dois anos com Temer como verdadeiro presidente. Já com Temer como rainha da Inglaterra, quem sabe?
Um comentário:
“O partido busca todo o poder pelo poder”, Orwell escreveu em 1984. “Não estamos interessados no bem dos outros; estamos interessados somente no poder. Não queremos riqueza ou luxo, vida longa ou felicidade; apenas poder, poder puro. O que poder puro significa você ainda vai entender. Nós somos diferentes das oligarquias do passado, já que sabemos o que estamos fazendo. Todos os outros, mesmo os que se pareciam conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos chegaram perto pelos seus métodos, mas eles nunca tiveram a coragem de reconhecer seus próprios motivos. Eles fizeram de conta, ou talvez tenham acreditado, que tomaram o poder sem querer e por um tempo limitado, e que logo adiante havia um paraíso em que os seres humanos seriam livres e iguais. Não somos assim. Sabemos que ninguém toma o poder com a intenção de entregá-lo. Poder não é um meio; é um fim. Ninguém promove uma ditadura com o objetivo de assegurar a revolução; se faz a revolução para assegurar a ditadura. O objeto da perseguição é perseguir. O objeto de torturar é a tortura. O objeto do poder é o poder”. GO (quem mais?)
Postar um comentário