terça-feira, 29 de novembro de 2016

O 'PRESIDENTE TEMERÁRIO' DIZ A QUE VEIO (E DE PÁRA-QUEDAS!)

"Quando o jornal exibia que o PMDB desembarcou
do governo e pessoas erguiam as mãos, eu disse:
 meu Deus do Céu! Essa é a alternativa de poder." 
(Luís Roberto Barroso, ministro do STF)
A frase “diga-me com quem andas e te direi quem és”, atribuída à Bíblia por analogia com passagens bíblicas de idêntico teor e adotada pelo vulgo como provérbio que encerra inquestionável verdade, tem lá os seus méritos como análise comportamental. 

Quem são os antigos amigos de Michel Temer? De quem ele foi assessor? De qual casa legislativa ele foi sempre um membro destacado e da qual foi presidente por vários mandatos? Qual a natureza ideológica da maioria dos membros do parlamento? 

A simples resposta a essa pergunta pode nos dar um perfil do quem seja o Presidente Temerário. Aceito como candidato a vice-presidente, não porque tivesse prestígio popular reconhecido, mas por representar um partido que (graças a seu  número de prefeitos e parlamentares, a maioria eleita nos grotões do Brasil profundo, onde o voto de cabresto impera) garantiria não apenas a elegibilidade, mas principalmente a governabilidade política. 
Belo salto! Mas... compensou?

Na hora em que os índices de popularidade da presidente Dilma despencaram com a crise econômica, quem lhe deveria das sustentação política foi tentado pelo canto de sereia que se ouvia amiúde na grande mídia e perguntou a si mesmo: “Por que não eu?”. Assim, a suposta sustentação política virou o seu contrário e, acossado pelo conjunto da sua obra, o Governo Dilma caiu e o Temerário assumiu. 

Em pouco mais de um semestre, seis dos seus ministros foram para a rua da amargura, acusados de corrupção. Alguns deles (e o próprio Presidente Temerário) até ontem participavam de decisões administrativas, indicações de ministros, aprovação de projetos de interesse do governo deposto, transformando-se depois em críticos implacáveis da presidente impedida e sua equipe, tão logo tomaram posse na administração seguinte. 

Agora, acompanham apreensivos os boatos sobre o teor das delações de empresários com os quais conviveram nos governos FHC, Lula, Dilma também no atual; com práticas dos próprios membros do Ministério atual, que insistem em manter tudo como dantes do quartel de Abrantes (vide incidente com Geddel Vieira Lima, um articulador político do Presidente Temerário e que foi por este endossado).
Dá pra reaproveitar: basta mudar nome e foto.
Não é de se admirar, portanto, que um governo com tal perfil, mesmo sendo apoiado pela grande mídia, tenha baixa popularidade no seu nascedouro e que os seus índices de aceitação se reduzam a cada dia.
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OS HUMORES DA ECONOMIA COMO
 TERMÔMETRO DA POPULARIDADE
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Sabemos que a opinião pública nacional se rege pelos humores da economia. O povo se conforma com pouco, pois está historicamente aculturado a se contentar com pão e circo, então qualquer coisa além disto é festa.

Os governos militares editaram o AI-5 no final de 1968, porque a insatisfação popular com a economia estava solapando sua popularidade. Aí veio o falso milagre brasileiro proporcionado pela entrada de recursos externos do capital internacional como forma de distensão da impopularidade e os brasileiros acreditaram “no ame-o ou deixe-o”.

Tudo durou até que o milagre se evidenciou como uma mera bolha de consumo, com a economia mundial começando a patinar por conta da terceira revolução industrial (da microeletrônica). Não sabendo mais o que fazer, os fardados resolveram devolver a batata quente para os civis. 
Presidente à beira de um ataque de nervos

O governo FHC, na esteira do sucesso da contenção da inflação absurda dos governos Sarney e Collor, passou 8 anos vendendo tudo que podia. Salvou o sistema bancário brasileiro da bancarrota por meio do Proer ( que estagnou a economia) e bateu às portas do FMI várias vezes. 

FHC durou até a insatisfação popular atingir níveis elevados e oportunizar a chegada ao poder de um governo com bandeiras vermelhas e estrela do socialismo. Repetiu, contudo, práticas de convivência com nossa tradicional corrupção e adotou medidas capitalistas liberais capazes de serem elogiadas pelos governos estadunidenses. 

Governou por mais de 13 anos, acabando tão desgastado que hoje até os conservadores brasileiros mais recalcitrantes ousam mostrar as suas unhas.

Foi assim que chegamos ao governo do Presidente Temerário, que, nos seus seis primeiros meses, apresenta os seguintes resultados econômicos:
A retomada do crescimento econômico parece distante
1) promessa ao empresariado de que o limite dos gastos públicos indexados à inflação traria de volta a confiança dos investidores, retomada do crescimento econômico e queda do desemprego. Mas o que se vê é um renitente déficit no Produto Interno Bruto, de 3,4% ao ano e uma taxa de desemprego crescente, que foi de 11,8% em setembro, com tendência a aumentar; 
2) taxa de juros Selic na casa de 14% ao ano, para uma inflação de 7,9%, que produz um ganho real de investimentos parasitários de 6,1 ao ano, estagnando a economia e provocando uma fuga de capitais do setor produtivo para o setor financeiro, via aumento do endividamento do Estado; 
3) perspectivas de retração nas vendas natalinas no comércio de 6% projetando uma redução da previsão do crescimento do PIB em 2017, cuja projeção agora é de apenas 1,1%; 
4) queda continuada na arrecadação de impostos (com exceção deste mês de outubro, por conta da entrada do dinheiro da sonegação fiscal vindo do exterior) e falência de estados e municípios, que mal conseguem pagar os salários do funcionalismo público e pensionistas.
A palavra de ordem é austeridade, conforme o receituário que os países ricos impõem aos países periféricos, enquanto eles próprios emitem moeda sem lastro e tentam alavancar a retomada do recrescimento, sem, entretanto, obter sucesso. 

O Presidente Temerário, que é um governante fragilizado politicamente, tende a se tornar ainda mais impopular. No fundo, não passa do obediente representante dos interesses de sobrevivência do capital em meio à mais grave crise desde 1929/1930, mas os poderosos da economia pouco fazem para lhe dar sustentação, daí estar sentindo o chão fugir dos seus pés.  

Como a ânsia de poder nunca cessa, já se fala em sua deposição, o que não seria difícil tendo em vista o processo de crime eleitoral em trâmite no Tribunal Superior Eleitoral. Os candidatos a presidente já se alvoroçam e tal fato deve conturbar a base de apoio ao presidente cuja ascensão ao governo foi sempre temerária.

Por Dalton Rosado
O problema é que, diferentemente de antes, o capitalismo internacional tem muitas feridas para curar ao mesmo tempo e talvez já não lhe seja possível salvar o governo desse paciente cuja economia está entre as 10 mais importantes do mundo, mas requer um montante de recursos (valor válido, advindo da produção de mercadorias) cada vez mais escassos na atual conjuntura. 

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