Há um pessoal secundarista no Facebook convocando uma manifestação Morra Temer para o próximo dia 30, às 17 horas, no Largo da Batata (SP, capital).
Postei um comentário na página da moçada, desaconselhando veementemente o slogan do ato de protesto. É brincar com fogo. Eis o que escrevi:
Companheiros,
fui um dos líderes da Frente Estudantil Secundarista em 1968 e oito de nós, da zona Leste paulistana, ingressamos na Vanguarda Popular Revolucionária em 1969. O saldo foi trágico: dois assassinados pela repressão, cinco capturados com vida e bestialmente torturados, uma que escapou teoricamente ilesa mas ficou paranoica pelo resto da vida.
Secundarista baleado na batalha da Maria Antônia, em 68. |
Ou seja, senti na pele o que é travar uma luta radicalizada, passei muito perto da morte e convivo desde 1970 com uma lesão permanente, lembrança dos porões da ditadura.
Vim só pra lhes dar este toque: clamar pela morte de um mero civil é uma péssima ideia. Na guerrilha, depois de dois justiçamentos com más consequências políticas, decidimos que nossos alvos seriam unicamente notórios torturadores e assassinos da repressão, por quem nenhuma pessoa civilizada pudesse sentir qualquer simpatia.
Matar o Temer seria algo como o que as Brigadas Vermelhas fizeram ao matarem o Aldo Moro: colocaram a Itália inteira contra si e propiciaram uma terrível caça às bruxas.
Se até contra o John Lennon e o papa João Paulo II atentaram, vocês não podem ignorar a possibilidade de que algum mentecapto tome ao pé da letra o slogan, abrindo as portas para o caos.
Vivemos uma situação muito dramática, atravessando a pior recessão das últimas décadas. Muita coisa ruim pode ocorrer. Não brinquem de cavaleiros do apocalipse!
É o conselho de quem permanece revolucionário até hoje, totalmente contrário ao capitalismo, ao Estado e à democracia burguesa, mas que detesta crises que tornam mais sacrificada ainda a vida dos explorados e dos coitadezas.
É o conselho de quem permanece revolucionário até hoje, totalmente contrário ao capitalismo, ao Estado e à democracia burguesa, mas que detesta crises que tornam mais sacrificada ainda a vida dos explorados e dos coitadezas.
2 comentários:
Sensata lembrança. Os estudantes não podem esquecer do papel insuflador e depois traidor do famigerado Cabo Anselmo. Muitos foram torturados e mortos por confiarem nessa pústula, Cabo Anselmo, que está vivo e vive não sei do quê. Pensão do exército?
Digo isso porque recentemente um capitão de exército, da área de inteligência, infiltrou-se numa rede de relacionamento para conhecer a moçada das manifestações.
Tudo pode acontecer de ruim daqui para a frente. Essa manifestação MORRA TEMER, provocativa, pode muito bem ter dedo da extrema direita.
Não fui tão longe, mas, na página desse pessoal no Facebook, lembrei as provocações do cabo Anselmo, apontando o risco de cumprirem inadvertidamente papel semelhante.
Aliás, nunca perdoarei o Anselmo pelas mortes do José Raimundo da Costa e da Heleny Guariba. Houve um tempo em que veria com muita satisfação uma oportunidade para um acerto de contas pessoal. Depois, quando decidi ser pai idoso, não pensei mais nisso. O dever com os vivos fala mais alto.
Enfim, no caso presente, devem ser apenas jovens que foram atrás de uma palavra-de-ordem bombástica como "Não vai ter Copa". Mas, expõem-se a serem moralmente (e talvez até criminalmente) responsabilizados por qualquer violência que ocorra, tanto contra o Temer quanto com qualquer outro figurão ligado ao impeachment.
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