domingo, 28 de agosto de 2016

FERREIRA GULLAR VIAJA NA MAIONESE. PRECISA TOMAR CUIDADO, OU VIRARÁ UM REINALDO AZEVEDO QUALQUER!

Gente desiludida é um bicho mais complicado ainda...
O poeta Ferreira Gullar, às vezes, é um observador sagaz da cena política. Mas, quando deita falação sobre assuntos sobre que ultrapassam em muito seus vãos conhecimentos, viaja (com fardão e tudo!) na maionese....

Um exemplo é esta conversa que ele diz ter mantido "com uma jovem universitária a propósito de um jornal que seu grupo editava na faculdade" e relembrou (mais uma vez!) em sua coluna dominical:
– O que esse jornal afirma –disse-lhe eu– dá a entender que o comunismo não acabou.
– E não acabou mesmo –respondeu ela. O que acabou não era o comunismo verdadeiro.
Ou seja, como ela necessitava acreditar no sonho marxista, tudo o que ocorreu, desde a revolução soviética de 1917 até hoje, era falso comunismo. Nem Lênin, nem Stalin, nem Mao Tsé-tung, nem Fidel Castro: nenhum deles era comunista de verdade. Só ela e seu pequeno grupo de universitários.
Por isso, digo que gente é bicho complicado. Claro que nem todo mundo chega ao exagero dessa jovem carioca, mas cada qual à sua maneira inventa uma realidade que só existe em sua mente.
Livros para principiantes há aos montes
Para encurtar o assunto:
  • Gullar ignora que, de acordo com Marx, comunismo seria a etapa final da edificação revolucionária, quando já não existiriam classes nem nações e os homens colaborariam fraternalmente para a felicidade geral, priorizando o bem comum. Então, comunistas de verdade só viriam a existir na sociedade comunista do futuro, não agora. Alguém que conhecesse o bê-a-bá do marxismo saberia que nem Lênin, nem Stalin, nem Mao, nem Fidel, nem o pequeno grupo de universitários a que pertencia a jovem carioca, nenhum deles seria considerado comunista de verdade pelo velho barbudo;
  • Gullar ignora que, de acordo com Marx, o socialismo (não o distante comunismo) chegaria com a superação do capitalismo, começando pelas nações economicamente mais desenvolvidas, que arrastariam as restantes na sua esteira, pois são as pujantes que determinam a direção para a qual se encaminham as demais. Então, longe de ser uma realidade que só existe na sua (da jovem carioca) cabeça, faz todo sentido falarmos que a URSS de Stalin, a China de Mao e a Cuba de Fidel não eram socialistas de verdade, pois nelas a revolução precisou cumprir uma etapa anterior (eram tão atrasadas que os revolucionários precisaram, antes, criar, ou tentar criar, a infra-estrutura básica de uma economia moderna), e tendo de fazê-lo sob ataques militares, bloqueios, embargos e ameaças terríveis dos gigantes capitalistas, acabaram por resvalar inexoravelmente para o totalitarismo.
Fiquemos por aqui, para não esticar demais o post (aos interessados num aprofundamento da questão, sugiro este texto). 

O certo é que o capitalismo teve a oportunidade de instalar-se plenamente e construir uma sociedade à sua imagem e semelhança: o inferno pamonha que está aí, na definição ferina do Paulo Francis.
Não se iguale aos anticomunistas profissionais, Gullar!

Até agora as tentativas de construção do socialismo se deram nos países que Marx considerava os mais inadequados para tanto, havendo um abismo entre o sonho marxista do advento do reino da liberdade, para além da necessidade e as toscas ditaduras que invocaram o nome do velho profeta em vão.

Recomendo ao Gullar que passe a opinar apenas sobre aquilo de que realmente entende. Se não, acabará se igualando a qualquer Reinaldo Azevedo da vida. 

[Aquele que já papagaiou centenas de vezes que os resistentes armados não queriam libertar o Brasil da ditadura, mas apenas instalar outra ditadura, como se tais intenções remotas tivessem qualquer importância no contexto das lutas contra o despotismo e o terrorismo de estado, nas quais a regra de ouro, segundo o entendimento civilizado, é que os cidadãos têm o direito e até o dever de pegarem em armas contra uma tirania, pouco importando qual o desenho de sociedade ideal que trazem nas mentes.]

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