Na minha infância, ouvia muito falar nesta palavra alemã bunker, como eram chamados os abrigos subterrâneos, onde minha mãe se refugiava com a família, durante os bombardeios na Segunda Guerra Mundial. Eram lembranças muito tristes, que me marcaram para o resto da vida.
Setenta e um anos após o final da última grande guerra, esta palavra volta ao noticiário, agora no Brasil. Já certa da derrota na batalha do impeachment, Dilma começou a preparar o desembarque do Planalto e a montar um bunker da resistência no Alvorada, segundo relato dos repórteres Marina Dias e Valdo Cruz, na Folha de 3ª feira (3).
Pergunto: vai resistir para quê, resistir contra quem, quais são os seus planos?
Até onde sei, nenhuma força inimiga está preparando um bombardeio sobre o Palácio do Planalto.
Até onde sei, nenhuma força inimiga está preparando um bombardeio sobre o Palácio do Planalto.
Ensaiando para a descida da rampa? |
São ambiciosos os planos de Dilma para o período em que ficará afastada do poder central. Em nada lembram a retirada discreta de Fernando Collor, quando caiu em 1992, esperando em silêncio e resignação, isolado na Casa da Dinda, pelo julgamento final. A quase ex-presidente quer montar uma estrutura de 15 assessores, mais seguranças, carros oficiais e um avião da FAB, além de manter todas as mordomias do Palácio da Alvorada.
Ao contrário de Collor, que deixou o Planalto pela porta dos fundos acompanhado apenas pela mulher, Dilma está pensando num final grandioso para a despedida, programada para o próximo dia 12, segundo o cronograma do Senado. Quer descer a rampa solenemente ao lado do que restou do ministério de seu desastrado governo que quebrou o País.
Em seus atos de desespero nos últimos dias, a ainda presidente deixou claro que pretende cair atirando, para infernizar a vida do seu sucessor constitucional (e, por tabela, a de todos nós, que pagamos a conta), como fez no 1º de Maio, ao anunciar um pacote de bondades que aumenta as despesas e diminui a arrecadação, no apagar das luzes, deixando um rombo perto de R$ 100 bilhões nas contas públicas.
Mesmo que o possível governo Michel Temer fracasse em sua tentativa de ressuscitar a economia brasileira, é consenso no meio político, até no PT, que não há a menor chance de Dilma voltar ao cargo no final dos 180 dias de afastamento. Então, eu só gostaria de entender: para quê tudo isso? Para continuar repetindo ao Brasil e ao mundo que ela está sendo vítima de um "golpe", colocando em risco a estabilidade institucional?
Jânio e Jango também ficaram esperando que as multidões saíssem às ruas para pedir a volta deles. Morreram esperando.
Vida que segue.
* Um dos maiores jornalistas de sua geração, 4 vezes agraciado com o Prêmio Esso, Ricardo Kotscho foi secretário de Imprensa do Governo Lula.
Clique p/ assistir A queda - as últimas horas de Hitler em
versão dublada; se preferir legendada, basta acessar aqui.
versão dublada; se preferir legendada, basta acessar aqui.
7 comentários:
Grande,lúcido, realista,, este jornalista Kotsho. Mais pessoas iguais a ele fariam um Brasil melhor.
Parabéns pela lucidez e bom senso.
Cláudio,
agradeço. Este artigo, particularmente, é do Ricardo Kotscho, um dos maiores jornalistas da minha geração (ele é dois anos mais velho do que eu).
Mas, no todo, o blogue procura trazer uma informação diferenciada, seja nos artigos de minha autoria e dos colaboradores, seja nos que pinço da grande imprensa por considerar que serão úteis para os leitores.
A ideia básica é de tratar qualquer assunto com inteira liberdade, sem medo de criticar erros cometidos nem alinhamento incondicional com qualquer personagem, agrupamento ou partido político.
Seja bem-vindo!
Quanta amargura, um absurdo acontece neste país com Globo, FIESP , a quadrilha do Cunha , o fracassado Aecio ... e este senhor só mete pau na Dilma.
"Este senhor", que foi secretário de Imprensa do Governo Lula, nada mais faz do que tornar público o conceito que os lulistas têm da Dilma.
Começando pelo próprio Lula. Revistas de circulação nacional (Piauí, Época, IstoÉ, não pense que é só a Veja) já relataram como ele se referia à Dilma ao tratar com empresários e figurões: como personagem ridícula, motivo de zombarias.
E, quanto ao foco do seu artigo, o Kotscho está certíssimo: bem melhor seria a Dilma sair do palco discretamente como o Collor. O tal do "bunker da resistência" é uma piada de mau gosto.
Dilma não é Collor não cometeu crime de responsabilidade, tem apoio popular mesmo que os senhores não reconheçam.Ela vai cair de pé lutando !
Katiusca,
não creia piamente na propaganda governamental.
Maquilar ilegalmente as contas públicas para dar a impressão de que continuavam sob controle quando, na verdade, estavam um verdadeiro caos, é considerado crime de responsabilidade suficiente para justificar um impeachment.
Presidente cujo prestígio está na casa dos 10% tem apoio popular?
Se cair lutando, vai apenas facilitar as coisas para o Temer. Renunciando, ajudaria a fazermos uma última tentativa de evitar o governo dele, por meio de uma nova eleição presidencial. Empacando como uma mula, destrói nossa derradeira esperança.
Quanto a "senhores", informe-se melhor antes de querer me catalogar. Estive na mesmíssima guerra e até na mesma organização da Dilma, a VAR-Palmares. Quase morri e fui permanentemente lesionado em 1970.
Contra a Dilma está não apenas a direita, mas também a esquerda revolucionária, para a qual o governo do PT não passou de uma impostura: gerenciou o capitalismo para os capitalistas e, nos melhores tempos, apenas distribuiu para os coitadezas algumas migalhinhas a mais do banquete dos ricos.
Eu luto para que sejam os coitadezas a sentarem-se na mesa do banquete. Foi para isto que criamos o PT, mas, pelo caminho, ele foi jogando fora todas as suas bandeiras consequentes. Hoje já não faz a revolução avançar um milímetro sequer, não passa de um obstáculo a ela.
Postar um comentário