quinta-feira, 26 de maio de 2016

DALTON ROSADO: "UMA ANÁLISE DO CAOS NA VENEZUELA"

"Marx, nos Grundrisse, chega a vislumbrar 
momento em que o avanço dos métodos 
capitalistas de produção tornariam 
tempo de trabalho uma base miserável 
para a valorização da imensa massa de 
valor que deverá funcionar como capital."
(Luiz Gonzaga Belluzzo, na introdução do livro 
de Isaac Rubin, A teoria marxista do valor, 1987)
O povo venezuelano vive uma situação de caos político e de miséria material; e não poderia ser diferente. 

Não porque o capitalismo seja a solução dos problemas (na verdade ele é a sua causa primária), mas porque o chamado socialismo bolivariano nada mais é do que uma forma híbrida e indefinida de capitalismo de estado com capitalismo liberal. 

Ambas as formas atingiram um estágio limite e essa forma híbrida venezuelana é a pior delas, pois sua dupla personalidade faz com que uma tendência anule a outra e o caos se estabeleça, de modo que nem a força militar poderá conter a insatisfação popular. 

A solução não está na hegemonia de nenhuma das duas formas de relação social político-econômica em disputa na Venezuela, pois qualquer uma que prevaleça não conseguirá emancipar verdadeiramente o seu povo. 

A Venezuela teve na venda de petróleo pela estatal PDVSA – Petróleo de Venezuela S/A, a sua base de sustentação econômica. Tal fato, por si só, já denuncia a dependência à ordem econômica internacional e, portanto, capitalista na sua essência constitutiva (e pior, tendo como seu principal comprador de petróleo o proclamado inimigo, os Estados Unidos). 

Agora, que o preço do barril de petróleo está em queda no mercado mundial (e, se a humanidade tiver juízo, superará o seu consumo que provoca a emissão de gás carbônico na atmosfera, substituindo-o por fontes de energias limpas como a hidráulica, eólica, solar, etc.), sua principal fonte de recursos reduziu-se drasticamente, e o país está mergulhado no caos do abastecimento, desemprego, falência estatal, endividamento público, a mais alta inflação do mundo, etc. 

As suas dificuldades são econômicas, como está demonstrado, porque são aferidas pela lógica e funcionamento da economia e suas consequências, e somente a superação da própria economia, coisa que não se discute e nem se defende na Venezuela (e em quase todo o mundo), poderá reverter essa situação convenientemente.

O quadro internacional é de depressão econômica que impõe sacrifícios à classe trabalhadora (principalmente nos países periféricos do capitalismo, nos quais a devastação é total e onde se observa famílias inteiras obrigadas ao risco de morte numa emigração indesejada). 

A França, país membro da reduzidíssima cúpula dos ricos da econômica mundial, está hoje com seus trabalhadores do setor petrolífero e nuclear em greve por não aceitarem as reduções de direitos trabalhistas propostas pelo governo socialista do premiê François Hollande; seria a mesma coisa se quem estivesse no governo fosse seu antecessor, o conservador Nicolas Sarkozy. 

A Grécia acabou de ser beneficiada com um empréstimo de 10 bilhões de euros para pagar dívidas vencidas (ou seja, nada mais é do que uma rolagem contábil de dívida) como prêmio por medidas de arrochos fiscais patrocinadas pelo seu primeiro ministro, o até ontem radical esquerdista Alexis Tsípras.

É que o receituário econômico é sempre o mesmo (vide as últimas medidas do governo do presidente Temerário no Brasil, que seriam as mesmas se a presidenta Dilma estivesse no comando político brasileiro.
Aliás, as medidas propostas pelo ministro Meirelles estão muito próximas daquelas propostas por Nelson Barbosa, seu antecessor), pois obedece à lógica fetichista do sistema produtor de mercadorias este, sim, aquilo que deve ser superado como forma de se extirpar o atual cenário de retrocesso civilizatório mundial.    

Defender o presidente que está caindo de Maduro na Venezuela, como assim se se estivesse sendo anticapitalista, é desconhecer a natureza da relação social patrocinada pelo sistema produtor de mercadorias; é um atestado de ignorância sobre a natureza daquilo que se diz combater; é desconhecer a teoria marxiana da crítica à forma-valor; é querer humanizar o capitalismo. 

Posicionar-se a favor de um regime democrático liberal burguês na Venezuela é caminhar na contramão da história, por ignorância ou por um vil e mesquinho interesse capitalista. 

O que deve estar na pauta dos movimentos emancipacionistas, no mundo como um todo e na Venezuela em particular, é:
a) a superação da própria economia e não o seu aperfeiçoamento por meio de medidas periféricas e inócuas como o combate à corrupção estatal, a liberdade e melhoria da qualidade do voto, o ajuste da receita fiscal às despesas estatais, a promoção do empreendedorismo privado de pequenos empresários (como está a ocorrer em Cuba), etc.;  
b) a discussão de como chegarmos a um modo de produção mundialmente integrado, visando à satisfação das necessidades coletivas e destravando o restritivo mecanismo da viabilidade econômica do fazer (que está fazendo é aumentar a fome no mundo...), o que implicaria transcendermos o conceito de nação criado pela lógica capitalista; 
c) a plena incorporação do saber tecnológico adquirido pela humanidade ao processo produtivo, para, a partir disso, podermos promover uma distribuição planejada de bens indispensáveis à vida, de modo racional e ecologicamente sustentável, observando-se as vocações regionais e tendo-se em vista o interesse transnacional.
O povo venezuelano, como de resto os povos dos demais países periféricos do capitalismo, padecem as agruras do próprio capitalismo, e não o seu contrário. O socialismo bolivariano se baseia em categorias capitalistas para o pretenso combate ao capitalismo, algo assim como querer apagar o incêndio com gasolina; e tudo isso acontece por ignorância da natureza constitutiva do capital, ou por manipulação política inadmissível, o que seria um desvio de intenção abominável.

A primeira hipótese de ação política seria temerária e inócua, apenas fortalecendo politicamente os capitalistas liberais no longo prazo, quando a débâcle capitalista bater à porta; a segunda seria desonesta. 
Prefiro acreditar que o governo imaturo do socialismo bolivariano se situe na primeira hipótese, por acreditar na equivocada intenção dos que pensam afrontar o capitalismo, ainda que com armas inadequadas.  (por Dalton Rosado) 

2 comentários:

Anônimo disse...

que conversinha ,kkkk,vai se instruir melhor

Unknown disse...

Concordo que é um Governo imaturo. Sem Planejamento. Nem sequer da condições ao plantio. e... terá que colher o NADA que Plantou!

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