De tudo que li neste domingo, 27, desde que retomei o leme desta nave que teima em aventurar-se por caminhos diferentes dos convencionais no campo da esquerda, o texto mais polêmico, disparado, foi este abaixo, do poeta Ferreira Gullar.
Convido todos a lerem-no atentamente, não como a um oráculo que estaria sempre certo, mas como a um articulista que ousa levantar discussões interessantes, sem medo de tabus e de caras feias.
Eu discordo dele, p. ex., na equiparação de Brasil e Argentina à Venezuela e Bolívia; avalio esses processos históricos como bem diferentes, tanto que até houve tentativas para aproveitar nas grandes nações certas lições das duas pequenas --as quais, claro, fracassaram.
E concordo com ele quanto ao fato de estarmos assistindo ao ruir de muitos valores que vinham sendo cultivados pela esquerda; e de que temos de reinventar o futuro, se quisermos permanecer como vanguarda da sociedade.
Principalmente no Brasil: quando o PT ganha eleições na bacia das almas e graças, sobretudo, aos grotões; e quando conta com o Senado para evitar o impeachment de sua desastrosa presidente da República, ao preço de atropelar a autonomia da Câmara Federal, algo de muito errado está acontecendo.
Pois grotões e Senado sempre foram os últimos bastiões dos governos impopulares e reacionários, prestes a serem varridos para a lixeira da História. Assim se deu nos estertores da ditadura militar e é para o mesmo final inglório que marcha o petismo, mais uma estrela que se apagou no céu da revolução.
Eu discordo dele, p. ex., na equiparação de Brasil e Argentina à Venezuela e Bolívia; avalio esses processos históricos como bem diferentes, tanto que até houve tentativas para aproveitar nas grandes nações certas lições das duas pequenas --as quais, claro, fracassaram.
E concordo com ele quanto ao fato de estarmos assistindo ao ruir de muitos valores que vinham sendo cultivados pela esquerda; e de que temos de reinventar o futuro, se quisermos permanecer como vanguarda da sociedade.
Principalmente no Brasil: quando o PT ganha eleições na bacia das almas e graças, sobretudo, aos grotões; e quando conta com o Senado para evitar o impeachment de sua desastrosa presidente da República, ao preço de atropelar a autonomia da Câmara Federal, algo de muito errado está acontecendo.
Pois grotões e Senado sempre foram os últimos bastiões dos governos impopulares e reacionários, prestes a serem varridos para a lixeira da História. Assim se deu nos estertores da ditadura militar e é para o mesmo final inglório que marcha o petismo, mais uma estrela que se apagou no céu da revolução.
Para que se possa entender o que se passa no Brasil, política e economicamente, creio ser necessário levar em conta o tipo de populismo que aqui se implantou, a partir do governo Lula, e se agravou com o governo Dilma.
O populismo não é uma novidade, nem aqui nem em outros países latino-americanos, mas, de algumas décadas para cá, implantou-se em alguns deles um tipo especial de populismo que, para distingui-lo do anterior, costumo chamá-lo de "populismo de esquerda".
Claro que de esquerda mesmo ele não é. Trata-se, na verdade, de uma esperteza ideológica que manipulou as aspirações revolucionárias, surgidas na região a partir da Revolução Cubana, após a década de 1960.
Essas aventuras guerrilheiras contribuíram involuntariamente para as ditaduras militares que se espalharam pelo continente. O fim dessas ditaduras, por sua vez, abriu caminho para esse novo populismo, que se apresentou como o oposto dos regimes militares, anticomunistas por definição.
Sucede que o final daquelas ditaduras coincidiu com a derrocada dos regimes comunistas, tornando anacrônica a pregação do revolucionarismo marxista. Em seu lugar, inventou-se o socialismo bolivariano, um dos nomes desse populismo, que já não pregava a ditadura do proletariado e, sim, o resgate da pobreza por meio de programas assistencialistas.
Não fala mais em revolução, porque se trata agora de uma aliança com parte do empresariado que só tem a lucrar com o assistencialismo oficial. Está aí a origem das licitações fajutas, dos contratos de gaveta, fontes de propinas bilionárias.
E claro que esse populismo tem particularidades específicas nos diferentes países onde se implantou. Na Argentina, por exemplo, tem raízes em certa ala do peronismo, enquanto na Venezuela inclui até as Forças Armadas. Já no Brasil, tendo como figura central um operário metalúrgico, esse populismo contou com o apoio de centrais sindicais e de parte da intelectualidade de esquerda, que ainda sonhava com um regime proletário.
Além disso, em cada um deles, adota procedimentos específicos de modo a ajustar-se às condições econômicas e sociais para alcançar seus objetivos. Não obstante, todos eles têm um mesmo propósito: usar o poder político –a máquina do Estado– para garantir o apoio dos setores menos favorecidos da sociedade e se manter para sempre no poder.
Na Venezuela e na Bolívia, os governos populistas lograram mudar a Constituição do país para se reelegerem indefinidamente. No Brasil, como isso não seria possível, o populismo investiu pesadamente nos programas assistencialistas e num modelo econômico inviável que conduziu o país à situação crítica em que se encontra hoje.
A ascensão do populismo, como sucessor dos governos militares –e seu contrário–, conquistou a confiança de grande parte da opinião pública, inclusive por oferecer melhoria de vida a setores mais pobres da população. No Brasil, por exemplo, sobretudo no primeiro governo Lula, essa melhoria veio consubstanciar a sua popularidade, possibilitando sua própria reeleição e a eleição de sua sucessora.
Não obstante, também aqui o populismo, esgotadas as qualidades, caminha para encerrar sua aventura. Na Argentina, ao que tudo indica, isso já começou a acontecer com a derrota do kirchnerismo, que também empurrou o país para o impasse econômico, por contrariar as necessidades objetivas do contexto sócio-econômico.
Aliás, um elemento comum a todos esses regimes é o antiamericanismo, que só contribuiu para agravar a situação deles. No mesmo caminho seguiu a Venezuela que, com a derrota recente de Maduro, começa a fazer água. No Brasil, Lula e Dilma têm seu discurso abafado pelas paneladas e, enquanto isso, Cuba estende a mão aos norte-americanos.
Não resta dúvida, portanto, de que vivemos o fim de uma etapa da história latino-americana, que coincide, em escala internacional, com o esgotamento da utopia socialista, iniciada na Revolução Russa de 1917. Se isso, por um lado, significou a sobrevivência do regime democrático na maioria dos países, por outro exige que reinventemos o futuro.
2 comentários:
Eram vozes isoladas, mas vem firmando-se entre os autênticos esquerdistas a compreensão de que somente o impedimento ou a renuncia de Dilma evitará maior dano à organização futura da classe trabalhadora.
Quanto mais cedo ela caia e as investigações cheguem até ás negociatas de Lula, incriminando-o, acabando com esse falso mito, conseguirá interromper essa descrença que atinge também a esquerda revolucionária.
Como acreditavam que o Lula fosse esquerdista, o trabalhador menos esclarecido, ante a crise, coloca toda esquerda no mesmo saco de gatos do PT.
Somente o que a administração de Lula fez com a PETROBRAS, com a roubalheira, os erros estratégicos,os desvios, afundando a nossa maior empresa deveria ele ser processado e condenado se for o caso.
Não bastasse, dado sua falta de visão de estadista, de seu egocentrismo, impôs uma sucessora que está sendo uma calamidade administrativa, poucas vezes observado em Brasília.
O professor Reinaldo Gonçalves, ex petista, professor da UFRJ, em recente artigo analisa o que está sendo o governo e a própria pessoa de Dilma:
"...Além do déficit de governança há a nulidade de Dilma. Na realidade Dilma é "um figurante supérfluo" dentro do Estado brasileiro.
O figurante supérfluo tem desempenho desastroso, CONDUTA GROTESCA E DEFICIÊNCIA COGNITIVA.
Não há como recuperar a credibilidade do Estado brasileiro com Dilma na presidência".
Dias piores virão e, pior, os trabalhadores, completamente desorganizados, por culpa desse partido há 13 anos no poder, para resistir aos ataques dos seus direitos duramente conquistados.
sim,Celso,
e é bom lembrar
- concorde-se ou não, isso é secundário a meu ver -
que ele escreveu contra o impeachment,
preservando independência intelectual do PPS
de quem é próximo, talvez filiado,
o que nem sempre há diferença.
saudações,
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