quinta-feira, 30 de abril de 2015

AINDA SOBRE A RENÚNCIA DE DILMA

Submeter-se à direita foi o erro mais desastroso de Dilma
Por que posto no blogue e remeto para meu mailing artigos como Exorto Dilma a um gesto de grandeza: a renúncia? Sei, de antemão, que textos polêmicos como este me acarretarão alguma rejeição e dificilmente vão evitar os desastres que já se vislumbram mas os atores políticos teimam em ignorar.

Respondo com outra pergunta: de que adiantaria haver passado a vida adulta inteira aprendendo a projetar e analisar cenários futuros, se não tivesse coragem para expor minhas conclusões?

Quando eu tinha 18 anos e Carlos Lamarca vislumbrou em mim uma insuspeitada aptidão para ser o primeiro comandante de Inteligência da VPR, colocou-me num rumo do qual jamais sairia. O que comecei a fazer como dever revolucionário, depois continuei fazendo tanto na defesa dos meus ideais quanto na vida profissional (a carreira jornalística). 

Então, por menor que seja a chance de alterar o rumo dos acontecimentos, considero que valha a pena apostar nela, independentemente dos benefícios ou prejuízos que advenham para mim. 

[Sempre vi a causa como maior do que as pessoas. E, por piores que sejam as perseguições movidas contra mim pelas burocracias insensíveis, jamais equivalerão às agruras pelas quais passou, p. ex., o grande Trotsky, que comandou a tomada de poder em 1917 e garantiu a sobrevivência da URSS nos campos de batalha. Quando um jornalista indagou quais eram seus sentimentos diante da usurpação dos seus louros históricos e o assassinato de seguidores e parentes, ele respondeu secamente: "Não conheço nenhuma tragédia pessoal". É um dos exemplos que me inspiram.]
O que podemos esperar de Levy? Sopa dos pobres?

Dois companheiros que recebem meus textos há anos pediram para ser excluídos da lista, solicitação que eu sempre atendo numa boa. Infelizmente, fizeram-no com extrema deselegância, como é moeda corrente na internet. 

O fracasso retumbante do stalinismo não impede que muitos até hoje sejam stalinistas em espírito, acreditando que na esquerda haja uma única linha justa e que todos os adversários, inclusive os representantes de outras tendências do nosso campo, devam ser esmagados. Quanta estreiteza!

Felizmente, ainda existem os que sabem discutir civilizadamente, como um veterano companheiro que argumentou: Dilma acreditaria numa ordem mundial mais justa e teria o apoio dos Brics neste sentido, faltando-lhe, contudo, um ministério identificado com seus propósitos. Caso contrário poderia, p. ex., anunciar uma grande virada política neste 1º de maio. 

A resposta que lhe dei serve para aclarar um pouco mais meu posicionamento. Então, resolvi postá-la aqui (sem massificá-la), como mais uma contribuição para os que ainda ousam usar a cabeça para o que ela serve: pensar.

Sou marxista da velha guarda: para mim, a identidade dos governos é dada, em primeiro lugar, pela sua política econômica. A de Joaquim Levy é totalmente inaceitável para a esquerda. 
Quando Jango enfim se posicionou à esquerda, era tarde demais.
O que eu vejo é uma presidenta insegura, que tenta se salvar do impeachment seguindo à risca o receituário neoliberal para crises financeiras, exatamente como o João Goulart tentou salvar-se da destituição dando carta branca a ministros como San Tiago Dantas e Carvalho Pinto.

E, assim como a ala esquerda da base janguista (Brizola à frente) inviabilizou os ministros "burgueses", tudo leva a crer que, quando a recessão chegar ao auge, a esquerda do PT (Lula à frente) fará com que o Levy seja expelido. Ou seja, o governo atual está marchando para os mesmos ziguezagues que derrubaram o Jango.

Conheci pessoalmente a Dilma no comecinho da trajetória de nós ambos, em outubro/1969, no congresso de Teresópolis da VAR-Palmares. Não senti firmeza nela então, nem sinto agora. Vejo-a como uma ex-revolucionária que havia involuído para mera tecnoburocrata quando o Lula resolveu torná-la presidenta do Brasil. 

Então, concordo contigo que ela não tem um ministério que a respalde para fazer o que seria certo --trilhar um novo caminho, alternativo aos terríveis ajustes recessivos que não deixam pedra sobre pedra. E também não vejo ela própria com estatura política para encabeçar uma guinada destas. Temo que a Dilma vá seguir a ortodoxia capitalista até o mais amargo fim. E que, assim procedendo, ela se direcione irreversivelmente para a destituição.
Jogo sujo contra Marina redundou no fim de feira atual

Daí a minha tese de que seria melhor ela renunciar agora do que continuar esperneando e favorecendo a acumulação de forças por parte da direita. Caso contrário, lá por agosto os adversários acabarão impondo-lhe o impeachment e nossa perda vai ser total, pois eles terão se tornado fortes como nunca estiveram nas últimas décadas.

Se você se recordar dos meus textos antigos ou consultá-los no arquivo do blogue, perceberá que eu não só favorecia uma vitória da Marina Silva, mas também a substituição da Dilma pelo Lula como cabeça de chapa. Exatamente porque tinha certeza absoluta de que o segundo mandato da Dilma seria um convite ao golpe de Estado, podendo nos acarretar uma nova ditadura. E meu pesadelo cada vez se materializa mais. Ela é muito fraca e não aguentará o rojão, ainda mais em meio a uma recessão que vai atravessar, pelo menos, os anos de 2015 e 2016 inteiros. Simples assim.

3 comentários:

Edson Barreto disse...

Caro Celso,
Vc diz que as manifestações contrárias ao governo estão dando de goleada nas que o apoiam, mas, veja só. A Rede Globo mudando os horários dos jogos de futebol decisivos, o governo de SAMPA liberando as catracas do Metrô, o comercial gratuito, a convocação a toda hora pelas emissoras da Globo. Desigualdade, vc não acha?

celsolungaretti disse...

Edson,

não acredite em versões convenientes: a Rede Globo foi PREJUDICADA com a mudança do horário dos jogos, que ocorreu unicamente porque a PM não daria conta da realização de vários eventos potencialmente arriscados num mesmo momento.

Já trabalhei como jornalista no Palácio dos Bandeirantes e fiquei conhecendo muito bem as limitações da PM aos domingos. São do tipo "mais uma gota e o caldo entorna".

O "Cansei" também tinha esse tipo de apoio e foi um fiasco completo. O problema é que o PT conseguiu mesmo queimar o próprio filme e o filme da toda a esquerda aos olhos do cidadão comum.

Depois que ele for botinado do poder, levaremos uns 10 anos para resgatar a credibilidade da esquerda. Ela está no fundo do poço.

Anônimo disse...

enquanto tudo isso acontece o velho pmdb,partido de acordeiros,vai minando o governo e articulando-se,pelos bastidores para nos atolar de impostos e nos enfiar o neo liberalismo goela abaixo disfarçado de progresso,mas o pior è a perda de credibilidade da esquerda,isso vai demorar mesmo,ate porque essa esquerda que ai esta,fica muito dificil de aceitar,ainda mais com seu passado.

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