Em discussões suscitadas nas redes sociais pelo meu artigo A novilíngua da Dilma: imposição e chantagem viraram "pactos políticos", houve quem alegasse que, como presidenta, Dilma Rousseff tinha de dizer exatamente o que disse.
Trata-se de uma questão importante, então quero deixar explicitado que não é bem assim, conforme expliquei aos comentaristas.
A condição de presidenta obriga Dilma Rousseff a respeitar a anistia imposta pelos tiranos em 1979, mas não a concordar com ela nos pronunciamentos que faz. Nada a obrigava a engrossar o coro dos jornalões e de todos os que, por terem então se vergado à lei do mais forte, hoje sufocam o espírito de justiça que, segundo Platão, têm também dentro de si.
Seria o mesmo que a presidenta vir dizer que Getúlio Vargas acertou ao não usar a prerrogativa que tinha de impugnar o envio de Olga Benário para as garras nazistas, apesar da autorização dada pelo Supremo Tribunal Federal. Colocado face ao mesmíssimo dilema, Luiz Inácio Lula da Silva tomou a decisão correta, preservando a própria honra e salvando a do Brasil.
De resto, não se trata apenas de uma querela do passado, mas sim de uma polêmica quanto a rumos de ação a serem adotados no presente.
Muitos (parece que até a Comissão da Verdade fará tal recomendação em seu relatório final) ainda tentam convencer o Executivo e o Legislativo da necessidade de revogação da Lei da Anistia, para que o Judiciário brasileiro finalmente deixe de ser manietado pelo casuísmo que uma ditadura impôs mediante chantagem, para garantir a impunidade eterna dos seus mais hediondos criminosos. E que uma democracia, indignamente, não removeu junto com os outros entulhos autoritários, permitindo que subsistisse até hoje, 34 anos depois, para nosso opróbrio e pesar.
Então, o que Dilma fez foi mais do que uma média com os inimigos e com os pusilâmines de outrora; foi sinalizar que baterá a porta na cara dos adeptos da Justiça, ainda que tardia.
Em nome do seu passado e de sua honra, espero que mude de ideia.
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