quarta-feira, 21 de julho de 2010

FARC, O ESPANTALHO DA VEZ

Oscar de Melhor filme de 1967, mostra como o filósofo Thomas More abdicou do poder (e da própria vida) para permanecer fiel a suas convicções. Há quem faça a opção contrária...

Pois bem, o PT não é narcotraficante, mas está ligado às Farc, que o são -- dizem, em úníssono, José Serra e Índio da Costa.

E, tendo feito uma óbvia insinuação, de extrema gravidade, desobrigam-se de justificar suas alegações, pois "todo mundo sabe".

O Estado de S. Paulo vem socorrer a ambos, com um artiguete de Roberto Lameirinhas, que foi meu foca quando eu editava revistas musicais. Se arrependimento matasse...
Intitulado Grupo surgiu em 1964 para lutar por regime leninista, o texto tenta, ademais, ressuscitar o espectro favorito do Olavo de Carvalho, que não assusta mais ninguém: o Foro de São Paulo.

Só os dois parágrafos iniciais são relevantes:
"Mais antiga guerrilha esquerdista em atividade na América Latina, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) foram fundadas em 1964, como o braço armado do Partido Comunista Colombiano. No mesmo ano, iniciou sua campanha contra o Estado, com o objetivo de instalar no país um regime marxista-leninista. Em 46 anos, estima-se em mais de 200 mil os mortos do conflito.

"Como força política, as Farc mantiveram vínculos com partidos e movimentos de esquerda de várias partes do mundo. Os laços com o Partido dos Trabalhadores, do Brasil, tornaram-se mais claros em 1990, quando o PT lançou o chamado Foro de São Paulo - que reúne grupos esquerdistas de vários países da América Latina e Caribe. Uma carta do então líder das Farc, Pedro Antonio Marín, também conhecido como Manuel Marulanda ou Tirofijo ('Tiro Certeiro', em espanhol), foi lida na abertura do evento".
Ou seja, no primeiro parágrafo, o Lameirinhas esboça um retrato das Farc, mais horroroso que o de Dorian Gray.

No segundo, diz que o PT tinha laços com as Farc em 1990 -- e como depois muda o disco, passando a abordar a problemática especificamente colombiana, deixa subentendido que até hoje tais laços persistem.

Mas, na
Folha.com, Clóvis Rossi (PT, Farc, meia verdade e ambiguidade) preenche a lacuna, contando o que aconteceu depois:
"O que Serra não explicitou é que o PT cortou tais laços depois que chegou ao poder. Ou, pelo menos, a parte mais importante do partido [o fez].

"Já em 2005, a Folha informava que o PT vetara a participação do grupo colombiano na reunião que marcaria o 15º aniversário do Foro, realizado em São Paulo -- e com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Eis o que dizia então a
Folha: 'A tentativa frustrada [de participação no encontro de São Paulo] está registrada em e-mail atribuído a Raúl Reyes, obtido pela Folha, e foi confirmada pelo advogado colombiano Pietro Lora Alarcón. Professor da PUC-SP, Lora disse que foi procurado pelo padre Olivério Medina, então embaixador das Farc no Brasil. Porém, o pedido de Medina foi rejeitado pela secretaria executiva do Foro, que era dominada pelo PT'.

"Dois anos depois do veto, as Farc voltaram a ser marginalizadas no encontro realizado em San Salvador.

"Declararam à época: 'Cremos ser oportuno manifestar nossa inquietação e desagrado pela posição de alguns companheiros que, em forma e sob responsabilidade pessoal, publicamente dizem que as Farc não podem participar no Foro, por ser uma organização alçada em armas'.

"Quando o Foro de São Paulo foi criado, em 1990, só um dos partidos nele representados estava no poder [o Partido Comunista Cubano]. No encontro de San Salvador, já eram oito os países governados por partidos do Foro: além de Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Brasil, Uruguai e Argentina.

"Ou seja, em vez de o poder abrir portas para um sócio como as Farc, elas se fecharam".
Resumo da opereta: para o bem ou para o mal (cada leitor terá uma opinião a este respeito, mas não devemos dispersar o foco da discussão), o PT se distanciou das Farc, exatamente quando elas passaram a ter sua imagem insistentemente associada ao narcotráfico.

Então, utilizá-las como espantalho eleitoral contra a candidata petista é uma falácia, na linha das invencionices manipulatórias dos sites e correntes virtuais de extrema-direita.

Que um despreparado figurante, alçado subitamente a protagonista em plena campanha presidencial, recorra a essas práticas goebbelianas (martelar mentiras para ver se passam por verdades), dá até para compreendermos. Mas não aceitarmos, evidentemente.

O caso muda de figura quando é um Serra, com meio século de trajetória política nas costas, a utilizar tal expediente -- ele que, em tempos idos, já foi acusado de receber
ouro de Moscou para prestar serviço à conspiração comunista internacional.

Volta contra os adversários de hoje as práticas torpes que os inimigos de ontem utilizavam contra si.

Até onde estará disposto a ir, na sua marcha acelerada para a direita?

Se perder, vai apoiar uma virada de mesa, como a que o levou ao exílio?

É
assim que quer ser lembrado pelos pósteros?!

São perguntas que o Serra deveria formular a si mesmo, com a mão na consciência... se é que ainda a possui.

2 comentários:

José Luiz disse...

Não podemos esquecer da citação obscura e udenista de Serra: "República Sindicalista". Dá até calafrios !

VERA disse...

Certamente, não a possui! Pois, como disse o Ciro: "Serra é capaz de passar com um trator sobre sua própria mãe"!

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