Por Luís Francisco Carvalho Filho |
O cheque sem fundo desapareceu e o conto do vigário é ocorrência rara. A população está (no bom sentido) mais desconfiada: já não se vendem lotes residenciais no parque do Ibirapuera para vítimas espertas.
Leis foram editadas para a proteção da boa-fé, como a que pune a propaganda enganosa (por induzir o consumidor a erro) e a propaganda abusiva (por explorar medo e superstição).
No mundo da política, porém, a tolerância institucional é diferenciada. A trapaça é ideológica. O dano não é patrimonial.
Sem poderes de censura, a liberdade de expressão para amigos e inimigos, o choque desimpedido de opiniões e a informação jornalística ilimitada são os instrumentos capazes de desmascarar exageros e falsidades.
O panorama eleitoral de 2018 é ilusionista: mentiras e crenças subvertem a visão dos acontecimentos.
Entre os principais candidatos à Presidência da República, talvez Marina e Bolsonaro, cada um a seu modo, sejam genuinamente verdadeiros. Mas ela, ambientalista demais, não gera confiança, e ele, truculento demais, multiplica a rejeição.
Geraldo, cabeça e coração (!), é candidato dos pobres (!!). Aliado ao centrão, tenta se desvencilhar da imagem combalida de Michel Temer, como se o PSDB, do qual é presidente, não fosse um dos alicerces da ascensão do atual governo. Promete o fim do déficit fiscal em dois anos (!!!).
Ciro tem destreza verbal, como anota Sérgio Rodrigues na coluna Da arte de nomear bois, mas, além da verve coronelista, a fala é leviana e distribui notas de três reais. A imagem retocada de Kátia Abreu, candidata a vice, simboliza a arte de enganar. Promete limpar o nome dos devedores.
Símbolo do jogo sujo de 2014, o prato de comida subtraído do pobre é slogan do PT. O discurso da injustiça e a narrativa do golpe, obra do criacionismo religioso que mantém Lula no tabuleiro eleitoral, dissociam o partido do desastre econômico e político causado por Dilma Rousseff. O candidato é progressista, mas, às favas os escrúpulos de consciência, afaga Renan e Eunício, cangaceiros da política. Promete a volta da felicidade.
Ao dar eficácia imediata à anulação do registro de Lula, o Tribunal Superior Eleitoral poupa o país de uma fraude inconcebível: o nome e a foto do ex-presidente na urna eletrônica para o voto em outra pessoa —Haddad ou Andrade [como o candidato está sendo chamado por eleitores que não compreendem corretamente o seu sobrenome].
A fala franca, primitiva e às vezes repugnante do candidato fascista (que, estranhamente, desperta simpatia entre homens e mulheres, pobres e ricos) não esclarece o estúpido atentado de Juiz de Fora. O episódio remete o Brasil para os tempos da República Velha.
Beligerância extrema, messianismo, turbulência de mercados, vulnerabilidade dos simplórios e protagonistas moralmente deformados completam o enredo.
(trechos principais do artigo Estelionato, política e atentado, cujo autor,
Luís Francisco Carvalho Filho, é advogado criminal e presidiu a
Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos)
Um comentário:
O panorama eleitoral não vai mudar absolutamente nada com esta notícia e outras que porventura virão. O primeiro turno já está decidido com o insano e mais alguém (acredito mais na Marina).
As pessoas comportam-se de forma tresloucada e irresponsável com respeito aos seus respectivos mitos.
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