quarta-feira, 18 de julho de 2018

DALTON ROSADO ACUSA: O CAPITALISMO TRANSFORMA O ELEITOR NUM INOCENTE ÚTIL – 2

(continuação deste post)
A EQUIVOCADA BIPOLARIZAÇÃO DO ATUAL EMBATE POLÍTICO – Estamos diante da debacle capitalista e da inconsciência social sobre a natureza desse fenômeno que aflige a maior parte da população mundial. Ao invés de nos debruçarmos sobre a sua dinâmica, estudando-a cientificamente, há um consenso unânime (e, portanto, burro, como diria Nelson Rodrigues), de que só a política pode resolver os nossos problemas sociais. 

Isto se dá porque clarear e desvendar o conteúdo do quarto escuro no qual estão guardados os segredos da subjugação social é tema tabu, sendo qualquer tentativa de seu entendimento vista como uma heresia, um sacrilégio.

É mais cômodo mudar o local da cama, tirando-a de baixo da goteira, do que consertá-la definitivamente.

Destarte, verificamos a existência de uma falsa dicotomia. Face à falência sistêmica e à perspectiva de um colapso do modelo político-econômico atual, de um lado se colocam os Bolsonaro, Trump e Hitler da vida, que transferem culpas e aferram-se a falsos moralismos, insistindo na manutenção: 
— de uma disciplina comportamental e hierárquica, sob a égide da obediência cega a fundamentos equivocados; 
— de uma disciplina comportamental que aprisiona o pensar;
— de uma obediência hierárquica cega, segundo a qual ordens são ordens e não cabe aos subalternos quaisquer questionamentos sobre seus conteúdos;
— do respeito a valores e virtudes morais hipocritamente consagradas; 
"Elegemos a pessoa que obedecerá àqueles que mandam"
— do respeito as direito de propriedade acima de tudo e sem qualquer hipoteca social; e
— de uma alta eficiência produtiva de mercadorias, entre outras baboseiras conservadoras cuja superficialidade hipócrita a História já nos demonstrou e sob a qual se disfarça a mesquinhez humana. 

Do outro lado estão os defensores do Estado de Direito, consistente em princípios republicanos burgueses ou sociais-democratas que desconhecem a hipossuficiência da política na capacidade de superação dos males do capitalismo.  

Tal corrente de pensamento e postura social se traduz no respeito às instituições do Estado e na crença de que seja possível chegar-se ao bom discernimento político sobre a condução dos negócios estatais, deixando que a vida mercantil seja regulada pelos pretensamente virtuosos mecanismos de mercado.

Esses acreditam na capacidade de contenção dos eventuais abusos pela interveniência política estatal, como se isso fosse possível; acreditam que a boa política seja capaz de expressar a síntese da verdade social da justa distribuição do dinheiro; e, sem o saber, defendem a tese capitalista pela via de uma suposta antítese social socialista. 
O processo eleitoral é o mecanismo jurídico-constitucional de legitimação do acesso ao poder político estatal submisso ao poder econômico e, portanto, sem soberania de vontade. 

Quando o poder econômico sente-se ameaçado em face de sua decomposição como modo de mediação social minimamente eficaz, como agora ocorre, as salvaguardas estatais jurídicas e militares estão sempre à disposição para a restauração da ordem ameaçada. 

É graças a isto que cada vez mais se acentuam as descrenças no processo eleitoral, corporificadas na abstenção ao ato de votar, na anulação do voto e no voto em branco.  

A inconsciência social sobre os mecanismos de dominação é a causa primária da aceitação da dominação patrocinada por um modo de mediação social segregacionista e que agora se inviabiliza por seus próprios fundamentos. 

Mas um dos mecanismos de quebra desse estágio de inconsciência social pode ser a negação do voto. Mesmo porque a ditadura (que sempre impõe o silêncio das baionetas à pretensamente livre manifestação popular nas urnas) não é a única consequência à negação do dito cujo.

Não se pode conceber que apenas uma ou outra coisa sejam possíveis, que a participação social nos nossos destinos apenas possa ocorrer dentro do processo eleitoral capitalista.

Pelo contrário, tal participação hoje é ilusória e só se tornará real quando estivermos sob um modo de produção social no qual os indivíduos sociais se reconheçam como seus condutores, e não como meros artífices de uma produção que não lhes pertence (como ocorre no capitalismo). 

É o modo de produção social que define o caráter da sociedade e molda o seu arcabouço jurídico-constitucional; no caso da produção social capitalista, a política é apenas o canal de legitimação formatador do poder do Estado a serviço do capital. 

O eleitor é feito de inocente útil pelo capital. Mude-se o modo de produção social e restará modificada toda forma de mediação e organização social. 

A atual forma de participação política resume-se à escolha de algo que já foi anteriormente escolhido de forma impositiva. É como se comer num restaurante no qual o cardápio é restrito e fixo, na base do aproveite e coma, enquanto ainda você ainda pode se servir.
Por Dalton Rosado

O livre pensar social não pode ficar adstrito a uma camisa de força eleitoral que mais não é do que a resultante político-jurídica de um contrato social injusto.

Qualquer que seja o voto, sob o capitalismo ele é, de modo prévio e intrínseco, equivocado. Não vote!

4 comentários:

Unknown disse...

Textão sem coerência.
Afinal, não devemos votar porque assim seremos inocentes úteis?
Mas qual argumento decisivo e cabal nos apresenta Dalton?
Sim, o sistema que criou a possibilidade de o ser humano se libertar do trabalho escravo é mau!
Na opinião do articulista, óbvio.
Que se a gente votar, então o trabalho e a construção de quem de quem faz não será entregue a quem nada fez e nem quis?
Ou então um preço deixará de ser definido por um burocrata, pois o mercado não é digno?
Menos, está bem?

celsolungaretti disse...

Caro Abdias,

primeiramente não é o objeto teleológico do sistema capitalista que criou a possibilidade do ser humano se libertar do trabalho escravo, mas a dinâmica de suas contradições internas.

O capitalismo é escravista indireto (diferentemente do feudalismo, que era escravista direto), mas, como todo regime de submissão, ele traz no seu cerne algo que é o aspecto mais precioso da racionalidade humana: a capacidade de se insurgir contra a opressão.

Você confunde trabalho abstrato, produtor de valor, com a ontológica interação metabólica do ser humano com a natureza para obter a satisfação de suas necessidades. Não trabalhar, ou seja, não positivar a categoria capitalista trabalho, não significa deixar de produzir socialmente.

A questão que se coloca não é quem vai definir o preço (que é dinheiro especulativo de mercado, algo diferente de valor, ainda que expresse valor), mas superar as categorias capitalistas valor e preço. Você não entendeu que se pode viver sem valor econômico, daí a ontologização que você faz de uma forma de relação social apenas histórica e que agora entrou na fase de sua inviabilidade como modo de mediação social.

A incoerência que você afirma existir do meu texto deriva da sua própria incompreensão sobre a matéria em discussão. Não se trata de incoerência de conceitos, mas de desconhecimento científico dos conceitos em apreciação de sua parte.

Um abraço e espero que você estude a crítica economia política bem fundamentada e, assim, compreenda as razões pelas quais vivemos tão miseravelmente.

Dalton Rosado

Unknown disse...

Digitando no meu tablet bugado fica difícil desenvolver argumentos sólidos.
Seu texto é incoerente na medida em que baseia-se numa sociedade que não existe e nunca existiu.
Ou seja, não sabendo como viver bem nesta sociedade então inventa outra!
Vou-me embora para Pasárgada. Já dizia o Manoel.
Nós, os antigòes, sabemos como viver bem e honestamente, mesmo num esgoto moral e social com o nosso.
Conscientes das limitações, entedemos o verdadeiro sentido da vida, do amor e do trabalho.
Lemos o Grande Livro da Natureza, que é prenhe de Sabedoria.
Para uma vida feliz, basta conhecer e praticar os 10 mandamentos.
Dos Salmos, basta ler e observar o número 01 e terá boa caminhada entre as gentes.
E de Confúcio a máxima: pagar o Bem com Bem e o mau com Justiça (que também é um bem).
A vida é boa e breve, para quem sabe ver a bondade e a brevidade desse minúsculo instante de consciência no Cosmos.
Assim, a vida é bela, para quem tem olhos para ver a beleza que existe nela.
Parece que ainda não possuis tal olhar, por isso achas que vivemos miseravelmente.
Retribuo o forte abraço.

celsolungaretti disse...

Caro Abdias,

é necessário se compreender que as sociedades mediadas pela forma-valor (dinheiro e mercadorias) nem sempre existiram. Aliás, aqui no Brasil, até a chegada dos portugueses há 518 anos apenas, viviam milhões de índios que desconheciam o dinheiro, e viviam bem, segundo relato de Pero Vaz de Caminha para o Rei de Portugal, no qual afirma existirem “belas índias com suas vergonhas desnudas”. Imagine se eles tivesses o conhecimento que hoje temos!

Numa sociedade que você mesmo afirma ser um esgoto moral e social, não pode haver vida saudável. Será que termos 21.000 assassinatos só nos cinco primeiros meses de 2018; grande parte da população vivendo em favelas sem as mínimas condições de habitabilidade urbana aceitável; 13,7 milhões de desempregados e outros tantos subempregados; sem educação e atendimento médico eficiente; entre outras tantas mazelas sociais tão evidentes não é viver miseravelmente?

A sociedade que almejo deverá ter consciência sobre si mesma e usar todo o conhecimento adquirido pela humanidade em seu próprio proveito, e não para beneficiar apenas uma pequena parte dela (percentualmente falando).

Deus não poderia ser sádico.

Um abraço, Dalton Rosado

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