domingo, 29 de julho de 2018

AMARGANDO O DESALENTO DE UMA DÉCADA PERDIDA, FERIDO PELAS PESSOAS OCAS QUE O CAPITALISMO ENGENDRA

"Às vezes eu me sinto tão sem inspiração/ Às vezes eu sinto vontade de desistir / Às vezes me sinto tão cansado/ Às vezes me sinto como se já houvesse tido o suficiente/ Às vezes você sente-se como se tivesse sido contratado/ Às vezes você sente-se como se tivesse sido comprado/ Às vezes você sente que seu quarto foi mudado/ Às vezes você sente como se tivesse sido apanhado..."

É como um dia sentiu-se Steve Winwood, o brilhante tecladista e letrista do conjunto inglês Traffic. E é como me sinto neste domingo em que mais uma vez saí ferido na convivência inescapável com as pessoas ocas que a sociedade de consumo engendra, incapazes de superar o narcisismo infantil, tentando encontrar no que o dinheiro compra a felicidade que só a complementação amorosa, despojada e desinteressada com outros seres humanos proporciona.   

Mas, a 10 dias de completar 10 anos de existência, este blog deveria manter a tradição de trazer pelo menos um post novo a cada novo dia. E, por acaso, dei de cara com o texto abaixo, do início da campanha eleitoral de 2010, que dá uma boa noção de que estamos numa década perdida: tirando detalhes factuais, serve perfeitamente para a campanha eleitoral atual e a mídia atual. Leiam e constatem.
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O INFERNO PAMONHA E O MAFUÁ DA MÍDIA
O capitalismo putrefato consegue ser o pior dos mundos possíveis: à imoral desigualdade, às muitas injustiças e ao criminoso desperdício do potencial hoje existente para assegurar-se uma existência digna a cada habitante do planeta acrescenta a crassa boçalidade induzida pela indústria cultural.

Daí o rótulo definitivo, antológico, que Paulo Francis lhe pespegou.

Pois é mesmo num inferno pamonha que nos debatemos, sem encontrarmos a saída.

E fica mais pamonha ainda nas campanhas eleitorais.

Assim, leio que a Folha de S. Paulo considera informação pertinente os comentários de costureiros (é o que são, embora a mídia os trate pernosticamente como estilistas) sobre como se vestem Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.

Que importância tem isso para o desempenho do cargo a que aspiram? Nenhuma.

Mas, derrubam-se árvores para a impressão de tolices como a de que não há expressão nos trajes de Serra e Dilma.

Lula teria orientado Dilma a "adotar a sobriedade dos looks clássicos e das cores neutras". Melhor faria orientando-a a informar-se melhor sobre política internacional, antes de deitar falação sobre as armas nucleares que o Irã possuiria.

Serra ficaria melhor com "ombros estruturados" como os de Obama, diz um Walter Rodrigues qualquer. Eu acho que seus ombros continuarão encurvados enquanto carregarem o peso da aliança com os demoníacos herdeiros da Arena, o partido que dizia amém aos genocídios e atrocidades da ditadura militar.

Dilma também se viu obrigada a reformular suas declarações a respeito de credo. Antes da campanha se dizia em dúvida sobre a existência de Deus e negava ter uma religião específica, agora se apresenta como "antes de tudo, cristã" e "num segundo momento, católica".

Trata-se, claro, de uma questão de foro íntimo, que jamais deveria ser exposta à bisbilhotice alheia.
Só que, quando Boris Casoy colocou tal casca de banana no caminho de Fernando Henrique Cardoso, este deu uma resposta digna e perdeu a eleição para prefeito de São Paulo.

Resultado: desde então, nenhum candidato se atreveu mais a replicar que esta questão simplesmente não vem ao caso.

Há que se querer muito a Presidência da República para sujeitar-se ao assédio da mediocridade agressiva.

O mafuá da mídia está cada dia mais repulsivo.

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