domingo, 15 de outubro de 2017

RECORDAR É VIVER: HÁ 10 ANOS O DÓRIA TENTOU BISAR A "MARCHA DA FAMÍLIA" DE 1964... E A PRAÇA DA SÉ FICOU ÀS MOSCAS!

Dória com o prefeito de Milão: incontinência verbal.
Ao ler no noticiário da Agência Ansa que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., foi deitar falação sobre Cesare Battisti em Milão, tomando o partido da Itália no tocante à extradição do escritor, meu primeiro pensamento foi o de que nossos mandatários atuais não têm a mais remota noção de que tais questões devem ser discutidas em casa. É feio ajudar estrangeiros a pressionarem o governo brasileiro, qualquer que seja o presidente da República.

E mais feio ainda fazer insinuações sobre um presidente anterior, por coincidência seu adversário político, sugerindo que Lula teria cometido algum deslize ao rechaçar o pedido italiano: "Agora temos um governo democrático no Brasil", afirmou Dória. Espero que, na primeira coletiva que der por aqui, algum repórter consciencioso lhe peça para discorrer sobre a existência ou não de um governo democrático em 2010.

Meu segundo pensamento foi o de que nada de melhor se poderia mesmo esperar de um sub-Trump desses, cuja primeira iniciativa politica mais ambiciosa, há pouco mais de 10 anos, foi articular uma pretensiosa reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade (episódio de acumulação de forças para o golpe de 1964), viajando gloriosamente na maionese...

Para reavivar as lembranças, eis alguns trechos do artigo que escrevi na ocasião:

"Tenham sido 2 mil ou 5 mil os cidadãos presentes ao ato público do Cansei na Praça da Sé, o certo é que, para uma metrópole como São Paulo, isto equivale a uma gota d’água no oceano.

Na verdade, as próprias lideranças do movimento não esperavam grande coisa depois que a OAB Nacional pulou fora, deixando a decisão de apoiá-lo ou ignorá-lo às seccionais. 

E o que se viu não deu nem para salvar as aparências. Outros enterros já tiveram participação mais expressiva.

O fracasso se deveu a muitas causas.

João Doria Jr. tentou transpor para a política as fórmulas publicitárias que costumam dar certo nas campanhas eleitorais. Então, face à comoção provocada pela tragédia de Congonhas [queda de um voo da TAM que não conseguiu aterrissar no aeroporto paulistano, matando 199 pessoas] , supôs mecanicamente que se tratasse da gota d’água para a classe média passar dos resmungos virtuais ao protesto aberto. A virulência dos posts na Internet deixava exatamente esta impressão.

E foi com visão de publicitário que ele estruturou seu projeto desde o título, mais próximo dos slogans propagandísticos do que das palavras-de-ordem políticas (e que acabou se revelando extremamente inadequado, pois propiciava piadas aos adversários, que cansaram de zombar do cansaço das elites) até o foco demasiadamente difuso: querendo atingir o máximo de consumidores...

Para piorar, a ideia foi prontamente apoiada pela extrema-direita golpista que faz proselitismo na Internet e pelas correntes que até hoje não se conformam com o fato de Lula haver escapado do impeachment. Com Brilhante Ustra, Olavo de Carvalho, o Partido Vergonha na Cara e o Fora Lula! apoiando o Cansei, ficou fácil para os governistas apontarem-no como uma nova Marcha da Família, com Deus, Pela Liberdade.

Afinal, além de ter todas essas ligações perigosas, o Cansei se voltava contra muitas iniquidades e não propunha solução para nenhuma delas.  Fazia sentido supor-se que sua verdadeira meta fosse, como em 1964, um golpe de Estado contra a subversão e a corrupção.

De quebra, o apoio da Fiesp, da Febraban e da Associação Comercial de São Paulo reforçou a suspeita de que se tratasse de uma conspiração dos endinheirados contra o presidente metalúrgico. E a OAB, respeitada por sua atuação exemplar durante os anos de chumbo, não acompanhou o presidente da seccional paulista [Luiz Flávio D'Urso] em sua aventura de amigo urso da democracia..."

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