A
guerra localizada entre a Rússia e a Ucrânia tem grave repercussão numa
economia globalizada já em depressão mesmo antes da covid 19, vem se agudizando com este evento bélico genocida, fazendo os agentes da disputa
por hegemonia econômica capitalista de blocos ficarem sem saber se interveem, e
transformam tudo numa terceira guerra mundial nuclear, ou se são capazes de promover
a paz numa situação de terra arrasada na qual o lado invasor não aceita
desocupar as áreas invadidas.
O capitalismo é assim: uma eterna guerra concorrencial de mercado que não raro resvala para uma guerra bélica irracional, pois irracional é a sua lógica predatória da sociedade e da ecologia, principalmente neste momento de destrutibilidade da sua própria forma.
Há
uma urgente necessidade de convergência mundial dos segmentos desatrelados à
ordem jurídico-constitucional capitalista - a da política estatal dependente de
dinheiro -, movimentos sociais e pensadores críticos da economia política no
sentido de criar uma urgente convenção mundial que se contraponha
a este fenômeno nunca antes vivido, justamente porque conjumina depressão
econômica com o ecocídio do aquecimento global devastador.
Vi,
ainda ontem, no Brasil, a discussão estéril entre políticos e jornalistas sobre
baixar ou manter a alta dos juros Selic pelo Banco Central. Neste debate, todos os
lados têm alguma razão e todos estão completamente desfocados das causas e da realidade
subjacentes ao problema, tanto quanto estão equivocados.
Em
economia tudo tem efeito colateral e quando o remédio é apenas paliativo, sem
extirpar a infecção metastizada, qualquer medida objetivando conter o problema
é ineficaz; tudo tem efeito colateral justamente porque os remédios funcionam
apenas como antitérmicos para conter a febre no organismo, sem extirpar a
infecção, traduzida como descompasso entre a circulação da moeda, produção de
mercadorias e capacidade de consumo.
Se se baixa os juros para reanimar a economia, tal medida pode acelerar ainda mais a inflação -que é o maior confisco social de salário - por conta do aumento do consumo - graças à mercadológica lei da oferta e da procura -, numa situação sustentada artificialmente por dinheiro sem valor emitido para suprir a circulação monetária, falência estatal e a quebradeira bancária.
Se
se mantém a alta taxa de juros como a do Brasil, de 13,75% ao
ano, que vem sendo considerada a mais alta do mundo, com ganho real entre 6,5%
a 8%, após descontada a inflação, paralisa-se a economia por conta de juros insuportáveis
para o crédito empresarial e popular, e se promove a alegria dos rentistas, aqueles que ganham dinheiro com aplicações bancárias enquanto dormem em suas
confortáveis casas. Sem se falar no aumento da dívida pública, no nosso
caso com uma incidência de juros extorsiva.
Os
Estados Unidos têm inflação de 6,5% em 2022, e a União Europeia de 8,6% em
janeiro, sendo pela primeira vez na história maior que a brasileira, situada
em 0,5% no mesmo mês.
Tal
realidade deriva do fato de que desde 2008/2009, com a crise da bolha
imobiliária estadunidense do subprime, repercutida no mundo ocidental
financeiro de forma devastadora, convive-se com o binômio depressão econômica e
altas taxas de endividamento público e privado sem existir extração de mais
valia e lucro capazes de pagar os juros - chamados educadamente de serviço da
dívida - e sem perspectivas de se saldar a própria dívida.
Os
rentistas, que vivem a delícia de juros altos, num futuro próximo ver-se-ão privados não somente de suas rendas mensais ou anuais, mas
do próprio capital investido e este momento será o dia do juízo final
capitalista.
Não é demais explicar que a bolha imobiliária estadunidense foi criada simplesmente pelo fato do capital desempregado precisar se reproduzir na produção de mercadorias - valor válido, dentro de tal raciocínio -, e assim estimulou-se a construção civil com créditos bancários de financiamento popular para a aquisição da moradias, provocando a alta de preços de mercado destas unidades habitacionais até o dia em que se constatou a completa nulidade das garantias reais que davam sustentação aos créditos ofertados e celebrados pelos bancos diante de uma inadimplência generalizada, pois tais garantias tinham base em valores irreais e preços de mercado artificialmente elevados.
Dissemos,
quando do anúncio da falência do Silicon Valley Bank que aquilo era apenas o
prenuncio de algo maior.
Dito
e feito, veio a quebra do tradicional banco Credit Suisse, comprado pelo
banco UBS e que assim ficou com um ativo de US$ 1,7 trilhões, correspondente a
valores duas vezes maiores do que a produção econômica da Suíça, dando bem a
dimensão do que representa para o capitalismo o mundo financeiro bancário como
detentor de valores concentrados e o risco de um colapso caso haja graves
turbulências, de resto previsíveis e muito prováveis.
Nos
Estados Unidos, vários bancos menores tiveram o mesmo desfecho de falências,
como o First Republic Bank e outros que foram possíveis de serem cobertas por
bancos maiores como o JPMorgan Chase, Bank of América, Citigroup, entre outros,
provocando o mesmo fenômeno suíço de perigosa concentração bancária.
Mas
se isto tomar uma proporção que envolva valores destes grandes bancos, como se
prevê, como ficará a credibilidade das moedas ditas fortes que correspondem aos
seus patrimônios monetários?
No
Brasil, o quadro social é dantesco. Vivemos uma onda de ações e ameaças pelo
crime organizado, o qual planeja assassinatos de autoridades e amedronta estados, como no caso do Rio Grande do Norte, onde mais de trezentos ataques
vêm sendo perpetrados, inclusive com atentados ao abastecimento de água da empresa CAERN, se constituindo em possibilidade de genocídio.
O
estado paralelo do crime se contrapõe com força ao estado oficial opressor
decomposto e basta isto para constatarmos a falência da ordem capitalista a
nível local como forma social capaz de satisfazer necessidades coletivas de consumo
e estabelecer conceitos morais e éticos virtuosos.
Pari passu, a população precisa conviver com descompassos sociais como greves de transportes urbanos, como foi o caso vivido neste dia 23 de março em São Paulo.
Não
é catastrofismo o que denunciamos, mas apenas sintoma visível e perceptível de
uma sociedade doente, pois sua base de sustentação socioeconômica e
jurídica, além de opressora e escravista, tornou-se completamente obsoleta e
inviável.
Se
você quiser comprovar o que dizemos, não precisa sair às ruas - até porque você
pode não voltar ou ter que voltar à pé: basta ligar a televisão.
Por uma convenção transnacional revolucionária anticapitalista e antiestatal! (por Dalton Rosado)