quarta-feira, 15 de março de 2023

OS RUÍDOS DO SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL

 


A falência do Silicon Valley Bank, um banco de porte médio dos Estados Unidos - 16º em valores em circulação entre os bancos do país, num total de US$ 209 bilhões de ativos -, que operava numa região onde predominam setores econômicos denominados startups área de tecnologia, antes de ser uma catástrofe como a crise do subprime de 2008/2009 é um indicativo de sintomas de debilidade da relação financeira da chamada economia real - produção  de mercadorias- e sistema financeiro, exposta sob a forma de inflação e altas taxas de juros.  

Inflação alta é sintoma de existência de circulação de dinheiro sem valor, ou seja, é a certidão passada pelos indicadores econômicos de que o sistema produtor de mercadorias não foi capaz, por si só, de promover e autorizar a emissão de valor válido, assim considerado quando advindo dessa produção.  

Os Estados Unidos, detentor da moeda de referência no mercado internacional desde o tratado de 1944, assinado em Bretton Woods, New Hampshire, USA, e que desde 1971 se tornou meramente fiduciária -baseada na credibilidade, sem lastro ouro-, representando hoje cerca de 60% de todas as reservas cambiais dos Bancos Centrais mundo afora, o que dá a dimensão econômico-financeira deste fato. 

Entretanto, o dólar não possui lastro que justifique tal credibilidade! 

Como viemos dizendo repetidamente, de há muito os Estados Unidos, mesmo sendo o detentor do maior PIB nominal do mundo capitalista, está longe de ter uma relação saudável entre o valor substancial de sua moeda e os números que ela representa para a economia mundial.  

A alta taxa de inflação dos Estados Unidos provocou uma alta dos juros pelo Federal Reserve - o Banco Central de lá - como forma de contê-la, mas como tudo em economia tem efeito colateral, eis que o Silicon Valley Bank (SVB), que mantinha cerca de 10% dos seus ativos com baixa taxa de remuneração anual - 1,79% quando o Tesouro dos Estados Unidos paga 3,9% -, se viu obrigado a vender títulos com prejuízos, por conta, também, e principalmente, da fuga de ativos deste banco pelas startups em resgate na busca de melhor remuneração de seus ativos.  

Tudo somado, as ações da SVB despencaram na bolsa, houve uma corrida de saques - que é o que vai acontecer futuramente em escala global- e os reguladores estadunidenses da Califórnia decretaram a intervenção e liquidação extrajudicial deste banco, provocando um estresse mundial por medo de que se repetisse a crise de 2008/2009.  

A crise do SVB, como dissemos, não tem a mesma dimensão da anterior, de 2008/2009, e foi possível de ser socorrida pelo sistema de seguros bancários dos Estados Unidos - FDIC  (Federal Deposit Insurance Corporation) -, mas tem a capacidade de denunciar que o mundo capitalista não sobrevive eternamente por meio de aparelhos artificiais como tem operado na questão da emissão de moedas sem lastro pelos BCs dos Estados Unidos e da União Europeia, mesmo exportando as ditas moedas  mundialmente, pois isto mais cedo ou mais tarde provoca inflação. 

 Inflação é a febre denunciadora da infecção no organismo capitalista econômico-financeiro de quem emite tais moedas, pois elas não passam de números - hoje nem são mais papel pintado impresso nas gráficas  dos BCs - lançados abstratamente como representação do valor sem qualquer correspondência.  

A crise do subprime, considerada como mera marolinha por Lula quando ainda era Presidente em seu segundo mandato, é a causa da inflação atual que corrói os salários dos trabalhadores no Brasil e no mundo passados apenas 15 anos deste evento que sacudiu a economia global.  

Se fosse possível se conviver com a emissão de moeda sem lastro e sem qualquer problema colateral, o capitalismo estava salvo e os governos todos seriam adorados pelo povo, pois bastava uma ordem ao Banco Central para que o povo fosse abastecido de dinheiro capaz de satisfazer todas as necessidades de consumo.  

É obvio não ser assim o funcionamento  do mundo da forma-valor, criada para promover a escravização indireta pelo trabalho abstrato assalariado produtor de valor que hoje escasseia em face da alta tecnologia aplicada à produção de mercadorias, matando a galinha dos ovos de ouro: o mesmo trabalho assalariado que Lula diz defender como cabeça de ponte da salvação trabalhista do capital e de todos.  

Do mesmo modo que a corrida de saques bancários pelos correntistas do SVB provocou a falência desta instituição bancária, imagine você o que acontecerá no dia em que  os países descobrirem serem suas reservas cambiais em dólares estadunidenses apenas números sem nenhum valor e sem nenhum poder de compra????   

Neste momento não haverá seguro bancário que dê suporte à constatação de ter o valor deixado de possuir força de compra, ou seja, que simplesmente deixou de valer, e o mundo terá de conviver com uma produção de bens e serviços  já não mais destinados aos mercados, como mercadorias, mas como simples e eficazes valores materiais aptos a satisfazerem necessidades de consumo.  

Neste dia poderemos ter a compreensão pragmática de que o valor dos objetos de consumo é material e não abstrato como hoje é estabelecido mediante as mercadorias, passando a dominar o valor de uso e não o famigerado valor de troca

Uma vaca vai valer pela sua capacidade de fornecer leite e carne - que me perdoem os veganos; uma galinha de pôr ovos; um pé de soja de alimentar gente e animais que alimentarão gente; um pé de milho, o de nos dar o milho para um gostoso cuscuz de mãe em Teresina, PI; e uma arvore frutífera de ser preservada por produzir frutas! 

Pari passu a uma ordem jurídica emancipada, atingiremos outro estágio da existência humana! (por Dalton Rosado

3 comentários:

Anônimo disse...

https://www.ihu.unisinos.br/627021-a-utopia-neoliberal-do-capitalismo-digital

https://www.ihu.unisinos.br/627037-da-fraude-contabil-nas-lojas-americanas-a-fraude-educacional-de-lemann-e-socios

Túlio disse...

Bravo ! Dalton.
Mais um bom texto para o deleite de seus leitores.
https://youtu.be/Bs8uA1PTn3w

Anônimo disse...

Bom é saber que temos leitores como você, sem os quais nossos escritos seriam como clamar no deserto. Vamos juntos.

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