"O vento virou novamente. Encurralado por um Congresso reacionário e fisiológico dominado pelo centrão bolsonarista, em que tem minoria absoluta (menos de cem deputados no colegiado de 513), esta semana Lula saiu das cordas para voltar às origens do PT, na luta por justiça social e na defesa do que resta do seu mandato em busca da reeleição.
Após a acachapante derrota na votação que derrubou a mudança no IOF na semana anterior, Lula despertou para a realidade: sem poder contar com a frágil base aliada e despencando nas pesquisas, se ficasse parado, não teria mais como governar. Foi ao ataque e recorreu ao STF contra a decisão do Congresso, uma iniciativa de alto risco.
O governo Lula acabou, já proclamavam os líderes da oposição e amplos setores da mídia e do mercado. Vivia-se no Palácio do Planalto o mesmo clima pesado de 2005, quando estourou o escândalo do mensalão e foi anunciada a primeira morte política do metalúrgico que virou presidente da República prometendo acabar com a fome." (por Ricardo Kotscho, jornalista e escritor, duas vezes agraciado com o então prestigioso Prêmio Esso e outras duas com o Prêmio Vladimir Herzog)
Está certo o Kotscho, secretário de Imprensa do Lula no biênio 2003/2004, ao reconhecer que o ex-sindicalista, desde o início empenhado em apenas minorar as terríveis mazelas do capitalismo mediante o desvio de algumas migalhas a mais do banquete dos bilionários para a mesa dos pobres, dá a atual cambalhota ideológica como um sapo que engolirá no desespero de tentar reerguer seu exaurido governo.
Omite, contudo, que o Lula só se salvou de ser impichado a partir do mensalão porque os realmente poderosos o viam como uma força auxiliar da dominação burguesa, que às vezes os incomodava um pouco mas servia para evitar que os coitadezas se dessem conta de que mereciam uma parte bem maior do bolo que, vale dizer, há muito tempo o Delfim Netto já negaceava em repartir.
Entre a desculpa esfarrapada do ministro que colheu os louros pelo fugaz milagre brasileiro (Temos de esperar o bolo crescer para depois dividirmos) e a incontinência verbal responsável pelos sucessivos sincericídios do histórico defensor da perpetuação da exploração do homem pelo homem desde que maquilada em social-democracia (Nunca antes nesse país os banqueiros lucraram tanto quanto no meu governo) jamais houve a incompatibilidade apregoada pela propaganda enganosa petista.
E a minha avaliação é de que ambas as partes estão blefando, cada uma querendo obter mais vantagens do que a outra nas negociações que farão. Nem Lula vai virar Brizola, nem o Tarcísio, se eleito, sucumbirá ao extremismo brochado do Bolsonaro.
É óbvio que a nova postura petista é preferível à anterior. Tão óbvio quanto que Lula, até por estar desde os anos 80 desideologizando e endireitando o PT, não a levará às últimas consequências.
Se, para minha enorme surpresa, a classe dominante decidir descartá-lo de imediato ao invés de deixá-lo sangrando até a próxima eleição, duvido que ele saia atirando como Vargas e Allende. O estilo dele é mais de sair com o rabo entre as pernas, como o Jango e a Dilma. (por Celso Lungaretti)
"Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero/
Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém"
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