sexta-feira, 14 de março de 2025

DOIS DESAFIOS: O DO VELHO BLOGUEIRO E O DO PISTOLEIRO DESILUDIDO.

Depois de passar um constrangedor período de oito dias sem postagem nova, o blog Náufrago da Utopia levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. 

Não foi ainda desta vez que os ex-querdistas, ansiosos pelo esvaziamento do pensamento crítico e pelo abandono do combate intransigente ao capitalismo, livraram-se desta pedra no sapato deles. 

Mas, como não sou nem pretendo ser um homem de ferro, será aos poucos que atualizarei minhas análises sobre o estágio atual da agonia do capitalismo. 

O regime da exploração do homem pelo homem agora parece retornar aos contornos da distopia célebre de George Orwell, 1984, sobre três grandes blocos de poder disputando a hegemonia, mas priorizando, acima de tudo, usar os rivais como espantalhos para manter abúlicas as massas que exploram, intimidam e humilham.  

O retrocesso civilizatório se torna cada vez mais profundo e chocante, nos fazendo suspeitar de que chegaremos finalmente ao ponto de não-retorno. Mas disto trataremos em posts vindouros.

Por enquanto, vou me conceder a satisfação que sempre tenho em revelar aos leitores uma ou outra exceção no esgotamento do bang-bang como gênero cinematográfico. 

Isso me emociona desde que fui um dos poucos críticos a saudar no ato o surgimento do western italiano como um fenômeno importante na sétima arte. Isto eu fiz muito antes de Quentin Tarantino deslumbrar-se com a genialidade de Sergio Leone e Ennio Morricone, inclusive reverenciando em Kill Bill o clássico duelo na arena redonda...

O filme subestimado da vez é Desafio de um pistoleiro, que passou despercebido pelos cinemas mundiais em 1995 e só veio a ser notado a partir de sua inclusão nos pacotes das novas mídias.

Tal qual Keoma, de Enzo G. Castellari (1976), ora alçado a cultDesafio de um pistoleiro, de Larry Ferguson (1995) parece ser o desabafo de um diretor obrigado a entregar um montão de tralha cinematográfica até que, num afortunado momento, conseguiu  boas condições para realizar o filme com o qual sonhava. 

Algo tipo "vejam só o que eu poderia ter feito sempre se a indústria cinematográfica me bancasse".  

Também roteirista e ator, Ferguson não só soube criar uma história diferente do ramerrão dos westerns outonais que pululavam em fins do século passado, como descobriu seu intérprete ideal num eterno coadjuvante que aproveitou bem a chance de ombrear-se ao Clint Eastwood ou ao Franco Nero. 

Lance Henriksen tem um desempenho tão marcante que nos leva a indagar por que nenhum outro diretor pensara nele como anti-herói de faroeste.

Não se trata, evidentemente, de um novo Três homens em conflito, mas quem esperava muito pouco desse filme desconhecido teve uma grata surpresa. Foi o meu caso.

Duelista famoso do velho Oeste decepcionou-se com a vida que levava e procura manter-se incógnito num povoado mexicano para não ter de continuar matando os tolos que o provocavam, ansiosos por herdarem sua lenda.

Quando recebe um pedido de ajuda da única mulher que amara, faz longa viagem para ir atendê-la, com a esperança de reatar o antigo romance. Mas, como uma amarga ironia, ela não estava necessitada do homem cuja vida perigosa não quisera compartilhar, mas sim do atirador que pudesse salvar o marido marcado para morrer. 

E que, ao ficar conhecendo a filha que nem sequer vira nascer, é obrigado a escolher entre a retaliação (omitir-se) que até se justificaria num caso desses e o dever paterno de zelar pela segurança e felicidade da moça que outro homem estava criando no seu lugar. (por Celso Lungaretti)

 

2 comentários:

Neves disse...

Bem vindo de volta Celso
https://www.ihu.unisinos.br/649395-46-brasileiros-que-viveram-a-infancia-no-exilio-apos-serem-banidos-pela-ditadura-militar-revelam-memorias

Anônimo disse...

https://www.ihu.unisinos.br/649464-a-esquerda-virou-sistema-viva-a-revolucao-sem-sem-artigo-de-armando-coelho-neto

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