A palavra final sobre a eficácia das drogas milagrosas nas quais governantes de ultradireita andaram apostando durante a pandemia de covid 19 só foi dada agora, em dezembro de 2024.
E confirma o entendimento que este blog foi dos primeiros a assumir e do qual jamais abdicou: a sabotagem vacinal de Jair Bolsonaro causou um número mirabolante de óbitos que poderiam ter sido evitados caso o Brasil fosse presidido por um indivíduo mentalmente equilibrado e não por um fanático atrabiliário.
Lamentamos que muitos leitores duvidassem desta conclusão por provir de meros jornalistas e não de scholars com certificações imponentes para exibir. Mas, como se trata de uma característica habitual deste blog, é um bom momento para afirmarmos que isto não se deu por palpite ou sorte.
Bons profissionais de imprensa sabem tirar a conclusão correta quando se defrontam com posicionamentos diferentes assumidos por especialistas que divergem entre si. Foi o que aconteceu, com o blog se convencendo de que, como sustentavam grandes universidades estrangeiras, o desprezo pela evidência científica estaria ocasionando um descomunal massacre de brasileiros.
Leiam os trechos principais do artigo abaixo e tirem suas conclusões. (CL)
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O ERRO CIENTÍFICO QUE CAUSOU MORTES NA PANDEMIA
No dia 19 de março de 2020, quando o Brasil tinha 621 casos de covid e somente 6 mortes, foi publicado um trabalho científico que sugeria que a hydroxychloriquina combinada ao antibiótico azythromicina poderia curar a doença.
Apesar de o trabalho ter sido imediatamente criticado pela comunidade científica, muitos médicos se agarraram ao resultado preliminar e passaram a utilizar essa combinação de drogas. Meses depois, o estudo foi repetido com mais de 30 mil pacientes e foi demonstrado que essas drogas não curavam a covid.
A grande maioria da comunidade médica e científica abandonou o tratamento e tentou divulgar o erro. Mas, era tarde: políticos, como Bolsonaro e Trump, haviam comprado a ideia estimulados por médicos e cientistas incompetentes ou mal-intencionados.
Nos meses seguintes, centenas de milhares de pessoas foram tratadas com essa combinação em vez dos tratamentos comprovados que já estavam aparecendo. E pior, essa crença atrasou os investimentos governamentais em vacinas e a adoção de medidas de prevenção.
É difícil calcular o número de mortes relacionadas a esse erro, mas não é impossível que sejam dezenas de milhares. [Há fontes estrangeiras que falam em centenas de milhares!]
Uma investigação revelou que pacientes que morreram sob o tratamento foram omitidos das estatísticas. Além disso, o acordo dos pacientes para participar do teste não foi obtido. Com essas constatações, três dos autores pediram para ter seus nomes removidos da publicação.
Mas, o líder do laboratório, Didier Raoult, ainda se recusava a admitir os erros. Finalmente a revista, a revelia do autor, cancelou a publicação e Didier se aposentou.
Erros como esse ocorrem na ciência, mas raramente envolvem descobertas que têm um impacto tão imediato na sociedade, e dificilmente levam tantos anos para serem corrigidos. Agora, a comunidade científica embarcou numa busca dos motivos que levaram a adoção desses medicamentos inúteis...
Didier Raoult, o cientista obcecado com a cloroquina |
O desespero é uma reação normal do ser humano frente a uma ameaça desconhecida e letal. O triste foi a incapacidade da comunidade científica de separar o joio do trigo, ajudando os governos e a população a tomar medidas baseadas em evidências científicas e a abandonar tratamentos comprovadamente ineficazes ou prejudiciais.
Mesmo as vacinas, que no final resolveram o problema, saíram da pandemia com sua imagem e reputação arranhadas.
Da próxima vez precisamos fazer melhor. É inaceitável que demore quatro anos e meio para retirar definitivamente da literatura científica um trabalho com conclusões erradas. (por Fernando Reinach, biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil)
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