Como enorme parcela dos dados sobre contaminação e óbitos era manipulada nos estados e municípios, jamais teremos os números exatos da devastação que a covid causou, mas os modelos matemáticos de grandes universidades e centros de pesquisa estrangeiros nos permitem afirmar que as mortes superaram a casa de 1 milhão e as vítimas fatais que poderiam ter sido salvas não fosse a necropolítica do Bolsonaro ficaram entre 350 mil e 400 mil.
Então, concordo totalmente com o companheiro David Emanuel Coelho quanto ao caráter farsesco do evento propagandístico que o PT acaba de promover.
Mais do que as sedes dos Poderes vandalizadas, temos é de lamentar as vidas sacrificadas pelo pior presidente brasileiro de todos os tempos. Mesmo sendo principalmente de idosos, negros, indígenas e outros coitadezas, ou seja, aqueles que sempre foram menos chorados pelos sinhôzinhos desta Casa Grande.
Comemorar de forma tão cínica a sobrevivência da injusta e desigual democracia inacabada chega a ser um insulto aos brasileiros que não sobreviveram aos horrores do quadriênio 2019/2022. Ainda mais quando os culpados vips pelo 08.01 ainda nem começaram a ser processados, inclusive o pai do golpe.
"O putsch flopado foi mais uma sequência de trapalhadas" |
1. Bolsonaro passou o mandato presidencial inteiro preparando o golpe, mas sua incompetência e mediocridade o fizeram desperdiçar os três melhores momentos para obter sucesso: logo no primeiro ano de governo, entrando de sola com um pacote de medidas radicais como as do Milei, e nos Dias da Pátria de 2021 e 2022, quando convocou seus bovinizados seguidores para o grande momento, mas foi ele próprio quem amarelou na hora H;
2. Alertou o inimigo de tudo que foi jeito, culminando no bloqueio das rodovias no 2º turno, que equivaleu a uma atestado de (más) intenções assinado e com firma reconhecida;
3. Optou pelo ou vai ou racha tarde demais, quando já não escapava a ninguém tratar-se apenas de uma virada de mesa por ter perdido a eleição;
4. Mesmo percebendo que o Exército dificilmente faria o serviço sujo para ele, jamais pensou noutra coisa além de criar situações que talvez levassem os fardados a intervir. Não tinha plano B e seu plano A se chocava com a péssima imagem de sua passagem pela caserna e com a tradição de que os militares brasileiros só dão golpes de estado para empoderarem generais e marechais, não oficiais subalternos;
5. Já do lado do Lula, fica a forte suspeita de que brincou com fogo e quase se queimou;
"Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada nos planaltos" |
7. Ainda assim, parece que só os alertas da Janja impediram que ele facilitasse a vida dos golpistas decretando uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), conforme militares traíras aconselhavam.
O plano golpista era aparentemente idiota, começando pelo fato de que o ataque a prédios às moscas num domingo não só foi inócuo como contraproducente, pois forneceu imagens que causaram péssima impressão no Brasil e no mundo.
Contudo, como o objetivo do Bolsonaro era criar uma provocação para, mais uma vez, chantagear emocionalmente o Exército, tinha alguma lógica, do tipo tentativa desesperada para evitar a derrota no minuto final. Mas, como os tropicalistas cantavam, aqui é o fim do mundo, onde tudo pode acontecer.
Lembremo-nos na chanchada que foi o golpe de 1964. Os conspiradores o tramavam havia anos, quase conseguiram o objetivo em agosto de 1961 com a renúncia do Jânio Quadros, mas quando estavam prestes a deflagrá-lo, um general fascista com carteirinha assinada, que fora deixado fora do plano, furou a fila e colocou suas tropas na via Dutra.
O golpe de 1964 começou com este passeio de recrutas imberbes pela Dutra enlameada. Aqui é o fim do mundo. |
Se não fosse a Janja, talvez algo semelhante tivesse ocorrido no 08.01.
E não pode ser levada na galhofa a bomba que deu chabu no aeroporto de Brasília, em dezembro de 2023. Morreria muita gente se a extrema-direita não continuasse tão trapalhona nessa modalidade quanto o era quando do atentado terrorista igualmente fracassado ao Riocentro, em abril de 1981.
Quanto à tomada do poder por dentro, não devemos superestimar as antas do bolsonarismo: isso seria coisa para um Hitler ou Mussolini, não para o patético ex-tenente expulso do Exército por ser mau militar e planejar maluquices. A ideia fixa dele era mesmo um golpe militar à antiga.
No entanto, o fortalecimento eleitoral da extrema-direita e a tendência a obter cada vez mais o apoio dos fisiológicos (ou seja, a maioria) do Congresso são perigos reais.
Dependendo da performance da base aliada nos pleitos municipais deste ano, a opção pelo reformismo e pelo eleitoralismo poderá adiante se revelar desastrosa para nós, da esquerda.
por Celso Lungaretti |
Com a agravante de que a direita poderá voltar em 2027 ao poder com um líder bem mais eficiente do que Bolsonaro. Aliás, é difícil imaginarmos alguém capaz de dar tantos tiros no pé quanto ele...
8 comentários:
Boa noite Celso, tudo bem nesse calor "ensurdecedor"?
Aqui é o Hebert.
Achei que haveria uma crónica sobre a jovem Jéssica,
da Empresa de entretenimento, muito preocupada com
"democracia".
Se te interessar, "Sessão Bangue bangue" hoje,
toda a terça-feira, 22:00 horas.
Abração.
Tendo em vista isso, isto:
https://www.trtworld.com/opinion/end-of-wilsonianism-ukraine-gaza-wars-will-shape-new-global-order-16594254
Hebert, li sobre o caso da Jessica, mas tinha outros assuntos para abordar.
E é algo tão distante de mim que teria dificuldade para entrar no espírito da coisa. Uma lembrança distante é a de que, por influência da minha família materna, toda kadercista, frequentei por alguns anos um centro espírita.
Logo que comecei o primário (não fiz nenhuma pré-escola), havia aula de religião de orientação católica, mas quem tivesse outra fé podia não acompanhar. Preferi recusar.
Tinha 7 anos e os que preferimos passar aquele tempo no pátio, sendo insultados por uma servente carola, éramos apenas 4, de uma classe de mais de 40. Havia evangélicos que não tiveram coragem de declarar-se.
Foi a primeira vez na vida que me trataram como diferente, fizeram piadas, encheram meu saco. E isto só fez aumentar minha convicção e a minha raiva contra aquela intolerância.
Passei o resto da vida não tendo o menor receio de divergir da maioria, quando acreditava estar certo. Nunca me importei com a quantidade de pessoas que discorda de mim. Ou enfrento ou fico indiferente, mas isso não me abala nem um pouco.
Então, a fragilidade dessas novas gerações para as quais o mundo acaba se são zoadas nas redes sociais é algo estranhíssimo. Tenho um pouco de pena de quem é tão dependente da aprovação alheia, mas também um pouco de desprezo. Como cantou o Tomzé, "palavra de homem racha, mas não volta atrás".
O Massafumi faria 75 anos neste mês. A estigmatização o matou: tentou duas vezes o suicídio e, na terceira, conseguiu. É um caso que até hoje me indigna profundamente.
Como dizia Camus, "o inferno são os outros". Mas eu prefiro o Vandré: "Se for preciso, morena, na (pela) frente dá pra enfrentar".
Bom dia. Chama a atenção a pouca adesão ao governo e aliados na manifestação contra o golpe. 17 governadores não compareceram. Segundo pesquisa 82 % acham que não foi golpe. Deve se pensar oque vem por aí . Bolsonaro teve pouco "mais" de 49% dos votos. Acho que na eleição para prefeito a direita e extrema direita vão levar . Abraço.
Os estados-nação, suas burocracias e tiranetes estão igual o sapo na panela.
Os donos do mundo estão preparando o lançamento de ETFs de criptomoedas.
É um plano Collor a nível planetário.
Só que mais bem executado.
Zero relevância para o que acontece em pindorama.
Orth, bom dia. Essa pesquisa de um instituto do qual nunca tinha ouvido falar (um tal Atlasintel) é pra lá de fajuta.
Por força da própria polarização, a tendência era de pelo menos metade estarem cientes de que houve mesmo uma tentativa de golpe de estado, embora trapalhona e com um líder que bateu todos os recorde em distanciar-se da zona de perigo.
Deveriam indicar o Bolsonaro para o Livro Guinness: recorde mundial de brochadas nas tentativas de virada de mesa.
Já o instituto Quaest (este sim renomado) divulgou que eram 94% os que reprovavam o badernaço golpista e agora são só 89%.
Mantenho minha avaliação: a extrema-direita tende a crescer, mas o Bozo vai doravante fazer o papel de figurante, como o Collor depois de impichado. Nunca soube de um líder fascista tão covarde, para manter o respeito dessa horda de bárbaros precisa ter um pingo de valentia.
Oi Celso. Os Políticos que não foram sempre se baseiam em pesquisas próprias. Não conta ai institutos ou imprensa. Foram pesadas as ausências.
Não, Orth, quem articulou a coisa foi o Lira. Não passou de mais uma armação do dono do Centrão para arrancar mais concessões do Lula. O de sempre.
No nosso Legislativo não existem bancadas ideológicas. Com raríssimas exceções, o que há é uma bancada só: a dos fisiológicos.
O perigo para o Lula é outro: de tanto entregar os anéis e os dedos também para aplacar essa corja, não lhe sobram recursos para investir como precisaria na luta contra a miséria. Um dia a casa cai.
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