terça-feira, 8 de agosto de 2023

EM 8 DE AGOSTO DE 2008 NASCIA O BLOG NÁUFRAGO DA UTOPIA: CADA POST É UMA SEMENTE NO DESERTO DO MEU TEMPO.

Hoje (8) o blog Náufrago da Utopia  completa 15 anos. 

Com 7.750 posts publicados e quase 4,4 milhões de visualizações ao longo do tempo, foi criado com os objetivos de:
— priorizar, em pé de igualdade, as três principais bandeiras da esquerda (justiça social, liberdade e respeito pelos direitos humanos); e
— de ser uma tribuna sempre acessível para o exercício do pensamento crítico por parte dos cidadãos comprometidos com o avanço da civilização e a construção de uma sociedade igualitária e livre.

Trocando em miúdos, lancei o blog em 8 de agosto de 2008 porque nossa esquerda começava a inclinar-se cada vez mais para o autoritarismo, repetindo a trajetória das grandes revoluções que se desvirtuaram ao sacrificarem a liberdade e violentarem os direitos humanos em nome da justiça social. 

E que nem esta última foram capazes de entregar, pois acabaram cavando um fosso profundo entre o proletariado (que deixou na prática de ser o sujeito da revolução, tornando-se submisso objeto  da atuação de qualquer auto-proclamado guia genial dos povos) e a nomenklatura (que passou a exercer uma dominação de casta e a desfrutar de privilégios equivalentes aos das antigas classes proprietárias).
Dalton

Então, o blog do Náufrago se dispôs a resgatar a proposta original e jamais cumprida do marxismo, qual seja a de conduzir a sociedade a um estágio tão avançado de civilização que ela fosse capaz de governar-se por si mesma, sem a idiotia populista nem o sebastianismo  messiânico, muito menos classes, nações, fronteiras e exércitos. 

Isto equivaleria a darmos um fim à pré-história da humanidade, estabelecendo o sonhado reino da liberdade, para além da necessidade, no qual fossem proporcionadas a cada ser humano plenas condições para desenvolver suas melhores aptidões e potencialidades, dando, ao mesmo tempo, uma voluntária contribuição para o bem comum. 

Nunca tive a ilusão de que apenas um blog fosse capaz de corrigir o rumo que a esquerda brasileira vinha adotando há um século, com um breve intervalo em 1968 e anos seguintes, quando o sonho ameaçou tornar-se vida e foi esmagado pela pior repressão a que este país já foi submetido.

Eu pretendia apenas manter a lembrança daquilo que jamais deveria ser esquecido: 
— que o marxismo nasceu como promessa de liberdade, tão poderosa que, embora periodicamente extirpada pela manipulação das consciências e pela bestialidade da força, continua vindo à tona até hoje, vide as manifestações de 2013 no Brasil e de 2019 em vários outros países; e 
— preservar a memória dos companheiros que haviam ousado lutar e travaram o bom combate praticamente sem chance de vencerem, até para que seu sacrifício jamais parecesse ter sido em vão. 
Rui
Quanto ao pensamento crítico, constitui-se também num legado de 1968: defendíamos  o direito de todas as pessoas e forças políticas apresentarem livremente suas opiniões e vê-las discutidas, desde que não estivessem alinhadas com a desumanidade (ditaduras e/ou a exploração do homem pelo homem).

Serviria, portanto, como antídoto à voracidade de tendências ditas esquerdistas que, ávidas pelas migalhas de poder e por parasitárias boquinhas, combatiam os adversários de esquerda de forma mais encarniçada ainda do que aos inimigos de classe.  

De tudo que fizemos no blog ao longo destes 15 anos, destaco a luta pela liberdade de Cesare Battisti, talvez a batalha mais desigual que a nossa esquerda  já venceu, contra a tendenciosidade da grande imprensa brasileira e a enorme pressão exercida por um país do 1º mundo que, tangido por um devasso aspirante a duce, voltava a flertar com o fascismo. 

[Infelizmente, os seres humanos não são esculpidos em pedra. Então, após décadas de perseguição e sofrimento, o companheiro cedeu à chantagem dos inquisidores, negando a si próprio em troca da promessa –não cumprida– de receber tratamento carcerário digno.] 
David

E tenho especial orgulho da postura adotada pelo blog desde que o pesadelo bolsonarista se prenunciava no ano eleitoral de 2018 até sua derrota definitiva no 8 de janeiro.

Foram quase cinco anos sem nenhuma hesitação diante do bufão genocida, fazendo-lhe as críticas mais contundentes, pregando a todo momento o seu impeachment  e divulgando com grande antecedência a certeza de que cada uma das micaretas golpistas com as quais ele tentava virar a mesa e perpetuar-se no poder fracassaria miseravelmente, não só por causa de sua liderança insana e caótica, mas também da sua notória covardia pessoal. 

Por último, estendo um forte abraço:
— ao Dalton Rosado e ao Rui Martins, companheiros de jornada que produziram textos de imenso significado humano e político, suando a camisa sem interesse nenhum que não fosse o de espalharem suas ideias e criações, até porque, à maneira antiga, o blog sempre recusou vender espaço e jamais remunerou colaboradores (o segundo passo só seria possível se déssemos o primeiro); e
— ao David Emanuel Coelho, o benjamim  da turma, em quem depositamos nossa confiança para preservar e fazer crescerem as sementes que plantamos, quando não estivermos mais aqui para fazê-lo em pessoa.
Celso e Apollo
Foi emocionante vê-lo recentemente publicar uma
série de 11 lúcidos textos, esqueleto do livro sobre as jornadas de 2013 que adiante há de lançar. Nela se evidenciou o quanto ele tem para dar à esquerda brasileira, que carece desesperadamente de novos quadros, não só para a recomposição de suas fileiras, como também para resgatarem sua combatividade perdida.

Só lamento que o Apollo Natali, grande amigo e mestre cronista, não tenha esperado para comemorar conosco. Jamais o esqueceremos! (por Celso Lungaretti
"Hoje o verso é uma semente do meu peito num deserto. Verde
que te quiero verde, mas não há verde por perto" (Sérgio Ricardo)

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