quarta-feira, 12 de julho de 2023

OS SINOS QUE ORA DOBRAM POR GABRIELA ANELLI SERÃO CADA VEZ MAIS OUVIDOS

arena do Palmeiras jamais poderia estar em Perdizes, convulsionando o bairro e provocando enormes congestionamentos a cada partida, a cada show, a cada venda de ingressos. 

Já morei lá perto e ficava pasmo ao ver que as otoridade isolavam quarteirões inteiros e os transformavam em estacionamento (!), vendendo vagas. Além de estarem negociando o que não lhes pertencia, criavam mais obstáculos ainda para a circulação de veículos, além de infernizarem os moradores, obrigados a convencer os policiais a deixarem-nos acessar as próprias garagens.

Certa tarde de domingo eu descia com a minha caçula, que tinha então uns oito ou nove anos, caminhando pela rua Palestra Itália interditada para veículos. De repente, um primata que estava uns 100 metros adiante soltou um rojão na direção das pernas dos outros torcedores do Palmeiras. Para ele, causar estouro da multidão não passava de brincadeira. Ria.

Peguei a minha filha e corri para o portão de uma entrada do shopping Bourbon, que acabara de ser trancada pelos seguranças. Felizmente eles perceberam que o perigo ao qual uma criança estava sendo exposta era mais importante do que o cumprimento das mesquinhas ordens recebidas: destrancaram o portão e nos deixaram entrar.  
Futebol deveria ser só isto: risos e confraternização

E no sábado passado lá estava eu de novo com a mesma filha, que agora tem 15 anos. Levava-a para assistir à primeira peça de teatro adulto de sua vida,
Os miseráveis, no West Plaza. Antes, mais para fazer hora, vimos um filmeco de terror no Shopping Bourbon.

Só quando saímos para a avenida Francisco Matarazzo, que desceríamos a pé para chegar ao West Plaza, é que me lembrei do Palmeiras x Flamengo marcado para as 21h. 

Mas, com os dois joelhos detonados (terei de colocar próteses em ambos), preferi seguir adiante do que encompridar o percurso. E lá fomos nós, eu com uma muleta, arrastando-me com dificuldade por entre a massa de torcedores.

Irritei-me por encontrar tanta gente indo torcer para o Palmeiras num Brasileirão do qual ele já abriu mão. Só ingênuos não percebem que os comandados da Crefisul estão priorizando a Libertadores e a Copa do Brasil. Mas, nos 20 ou 25 minutos que levamos para percorrer aquele mísero quilômetro, violência não havia. 

Fiquei surpreso ao saber que nas redondezas se travou batalha de arremessos de garrafas e uma moça que tinha a vida inteira pela frente foi vítima da bestialidade que hoje grassa não só no futebol, mas na sociedade como um todo (e, por que não dizer, no planeta como um todo). 

Rua ou zona de combate?
Neste momento, o mundo capitalista desmorona e não se vê ainda o que poderá sucedê-lo, caso a espécie humana sobreviva à guerra, à fome, às pestes e à morte que a esperam ao longo deste século.

Alguns jornalistas berram que o futebol precisa ser parado, o que nada mais seria do que retirar o sofá da sala. É o capitalismo que tem de ser detido, antes que nos extermine a todos. 

Mas, não é nos veículos da indústria cultural que vocês lerão ou escutarão tal obviedade. (por Celso Lungaretti)

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