sábado, 27 de maio de 2023

O FUTURO VAI REPETINDO O PASSADO

Para além disso, a reorganização econômica do Brasil para um regime agromineral-extrativista segue em frente. Bolsonaro foi o representante mais bem acabado desta nova lógica porque ele simplesmente a colocava sem peias, sem duplo discurso e sem qualquer tipo de vergonha. Lula retorna para dar um verniz civilizado para esta nova lógica, mantendo-a, mas com uma capa racionalista.

Nisto reside outro ponto débil com potencial para engolir o novo presidente, pois quanto mais avança a nova matriz econômica, mais fortes ficam as forças do atraso e, correlatamente, sua expressão política no Brasil, o bolsonarismo. 

A precarização das relações de trabalho, a flexibilização das leis ambientais, a dilapidação da indústria e das empresas públicas, a crise urbana com a explosão da violência, tudo isso fortalece o tripé reacionário do agronegócio, igrejas evangélicas e militarismo. Terá Lula condições de mexer no nervo disto e reverter as condições regressivas no Brasil? Eu diria que não

Não apenas o agora presidente eleito ajudou neste processo quando de suas passagens pelo governo federal, como também está hoje afiançado de modo íntimo com os grandes capitalistas brasileiros que almejam justamente o avanço do dito cujo, embora, como dito, num ritmo menos irascível. Seria preciso romper e radicalizar à esquerda, mas isto seria dissolver o grande pacto e recolocar a luta de classes noutro nível. 

Então, o futuro se prenuncia tenebroso. A extrema-direita seguirá mobilizada e o novo governo, centrado no passado e acreditando ser possível uma conciliação já caducada, aprofundando o modelo de espoliação do pais, estará muito em breve em face de uma profunda impopularidade e frustração. Neste momento, o pior poderá acontecer e os derrotados de hoje talvez voltem reenergizados. 

Não há saída além da mobilização popular e do avanço de transformações efetivamente positivas para o Brasil, rompendo com o modelo extrativista e democratizando de fato a vida social. 

Mas, é provável que isto talvez esteja para além da capacidade de Lula. 

Este texto foi escrito por mim em 31 de outubro de 2022, dia seguinte à vitória de Lula no segundo turno da eleição para presidente. Passados quase oito meses e com quase seis de governo Lula 3 é possível afirmar a justeza dessas palavras. Pior, o governo dá sinais claros de dissolução acelerada, colocando por terra seus principais trunfos na proteção ambiental e indígena

Não poderia ser diferente, pois, ao contrário de 2003, hoje é impossível a existência da conciliação de classes dado contexto de crise capitalista acelerada e o profundo processo de mudança da base econômica do país para o neoextrativismo. Não é possível agradar ao mesmo tempo, o agro e os índios, o agro e os ambientalistas, banqueiros e trabalhadores, comerciantes e trabalhadores. Claramente é necessário tomar um lado e Lula 3 não vacila em se assumir em favor dos capitalistas, jogando o povo comum aos leões. 

Até quando se sustentará a popularidade lulista baseado nas reminiscências do passado é algo difícil de calcular. Mas o trem está descarrilhando de forma clara. (por David Emanuel Coelho) 



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