sexta-feira, 26 de maio de 2023

RACISMO CONTRA VINICIUS JÚNIOR EXPÕE PROPLEMA GRAVE NA SOCIEDADE ESPANHOLA

 

Milhares de torcedores num estádio cheio repetindo a altos brados, durante 70 minutos, xingamentos contra um jogador de futebol, por ser negro, equivalem a um linchamento. Inacreditável não ter havido uma suspensão definitiva do jogo com sua anulação ou a decisão de transferir a partida para outra data sem público. As declarações ou constrições posteriores pronunciadas e divulgadas pelo governo espanhol, diante da vergonhosa imagem exposta do país por esse escândalo mundial de racismo coletivo num estádio de futebol, chegam um tanto tarde.

O que esperavam a Liga Espanhola de Futebol, as instâncias esportivas do pais, o ministro de esportes, o governo espanhol no seu todo para intervir, já que não foi essa a primeira vez? A FIFA e a UEFA só interferem no caso de haver vítimas fatais, ou desconhecem ser o racismo um crime punido pela maioria dos países e, quem sabe, mesmo pela totalidade dos países europeus, sem se esquecer da ONU e dos órgãos internacionais de defesa dos direitos humanos?

E os patrocinadores dos clubes espanhóis toleram esse clima de arena, consideram normal a excitação lúdica racista para a promoção de seus produtos comerciáveis?

Haveria essa reação mundial sem a denúncia da imprensa? Talvez não, essa não foi a primeira vez que Vinícius Júnior foi alvo de racistas. Mas os dirigentes do futebol espanhol preferiam fechar os olhos… Uma mostra: o árbitro Ricardo de Burgos Bengoecheado, 37 anos, no encontro Real Madrid com Valência, registrou apenas um caso de torcedor chamando Vinícius de macaco, tendo interrompido o jogo por oito minutos por incidente racista. Na sequência, Vini Jr. acabou sendo expulso e sujeito a não participar nos próximos jogos do Real Madrid. Seria o caso da vítima ser punida?

Gianni Infantino, presidente da FIFA, diante das repercussões da crise criada, afirmou já existir um procedimento específico para se aplicar no caso de racismo durante o jogo. Deve ser suspensa a partida, os jogadores se retiram e se faz um anúncio no estádio informando que, se prosseguirem os insultos racistas, o jogo será suspenso e a vitória com seus três pontos será atribuída ao clube do jogador ou jogadores alvos de racismo. Infantino não disse por que esse procedimento ainda não é obrigatório, mas afirmou que deveria ser adotado por todos os países. E por que ainda não foi?

Por sua vez, embora também tardiamente, Luis Rubiales, presidente da Federação Real Espanhola de Futebol, reconheceu haver um problema de comportamento, de educação e de racismo no país, confessando-se consternado por atos que devem ser erradicados. O comitê de competição da Federação, dirigido por Rubiales, tem poderes para fechar tribunas, estádios e convocar uma Comissão governamental contra a violência, xenofobia e racismo nos esportes. Não se entende por que essa comissão ainda não foi convocada.

Não se pode esquecer estar uma parte do racismo espanhol ligada diretamente à extrema-direita fascista, vinda do antigo movimento fascista Fuerza Nueva, dentro da qual se destaca o partido Vox, ultraconservador ultranacionalista, militarista, racista, clerical, pró-imperialista, antifeminista e neoliberal. Partido que conta com o apoio do presidente de La Liga, Javier Tebas Medrano.

Essa crise do racismo espanhol no futebol lembra o velho franquismo e sua longa existência na Europa, mais longa que o salazarismo, como uma perniciosa doença cujas raízes permanecem vivas e, vez ou outra, afloram.

Esse cheiro do enxofre nazista não ficou restrito, na semana, ao episódio vergonhoso do racismo na Espanha. A pretexto de fazer um elogio familiar citando a atual guerra da Ucrânia contra a Rússia, o deputado federal Paulo Bilynskyj, do PL bolsonarista, citou o avô Bohdan Bilynskyj. Seu avô teria sido um herói por ter lutado aos 20 anos contra os comunistas soviéticos numa guerra mundial.

Ora, o deputado que era delegado, portanto deve ter feito curso universitário em Direito, deve saber que, na época do seu avô, havia uma guerra mundial dos aliados EUA, Inglaterra e União Soviética contra a Alemanha nazista. E que lutar contra os comunistas soviéticos equivalia a lutar com os nazistas de Adolf Hitler.

E que a 14.ª Divisão de Granadeiros da Waffen-SS Galizien, à qual pertencia seu venerado avô, era uma divisão nazista de ucranianos comandada por oficiais alemães. E que ao fazer o elogio póstumo do avô, emigrado ao Brasil em 1948, três anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, fez também o elogio da Waffen-SS e não dos ucranianos que hoje lutam contra a Rússia. Qualquer dúvida, perguntem ao Zelenski. (por Rui Martins

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