segunda-feira, 20 de março de 2023

152 ANOS APÓS A COMUNA DE PARIS, NOVAMENTE A FRANÇA E O MUNDO ESTÃO SUBLEVADOS CONTRA O CAPITALISMO

 


   Escrevo este artigo em homenagem aos revolucionários que tombaram no dia 18 de março de 1871 e dias seguintes sob as balas e sabres das forças militares regulares francesa e prussiana que, mesmo estando em guerra, juntaram forças contra a Comuna de Paris, há exatos 152 anos.

Aprendi, nas minhas leituras iniciais do Karl Marx da juventude, e corroborado pelos ensinamentos políticos revolucionários de Vladimir Ilyich Ulianov, cognominado Lenin, que a classe operária era o único e verdadeiro sujeito da revolução

A Comuna de Paris foi a primeira experiencia de revolução para derrubada do capitalismo e ocorreu quando Marx ainda estava vivo. Tratou-se de um levante popular das massas oprimidas pela fome da nova ordem capitalista, sem uma estrutura insurrecional capaz de dominar a emergente burguesia francesa e se afirmar enquanto poder instituído. 

A França vivia uma crise em face do declínio do poder bonapartista e da derrota na guerra franco-prussiana, pari passu à efervescência dos ideais socialistas - marxistas, anarquistas, socialistas utópicos, etc.-, com forte influência entre os insurretos do proletariado unido em torno da AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores

O governo da Comuna de Paris durou apenas dois meses - de 18 de março a 28 de maio de 1971 - e foi sufocada pelo exército francês reagrupado e ajudado pelos prussianos, que então tinham domínio político-militar sobre os derrotados na guerra.   

A história nos mostra que o capitalismo de então ascendente já detinha forças político-militares e institucionais para conter um levante de orientação comunista. 

46 anos depois, em 1917, inspirado nos preceitos marxistas tradicionais e na vasta obra doutrinária de Lenin, os bolcheviques agrupados politicamente numa Rússia devastada pela primeira guerra mundial, onde imperava a fome no decrépito regime czarista, e sob uma tenacidade bélica proletária, instituiu o primeiro regime governamental marxista-leninista do Planeta. 

É inegável a contribuição russa na segunda guerra mundial para a contenção do regime ultraconservador e genocida nazifascista, na qual se calcula que morreram cerca de 27 milhões de russos e a humanidade deve ao estoicismo deste bravo povo eslavo. 

Mas a Rússia, desde antes, e sobretudo após a segunda guerra mundial, agora como União Soviética, com seu capitalismo de estado, ao invés de caminhar no sentido da própria superação enquanto relação capitalista de estado, foi contaminada pela lógica do capital preservada e involuiu.

      Ao invés de superar uma a uma as categorias  capitalistas então vigentes - forma valor expressa no dinheiro e produção de mercadorias, e até com concessão privatista como a NEP (Nova Política Econômica)  adotada como medida emergencial e preservada após a morte de Lenin em 1924, mercado, partido político, trabalho produtor de valor com extração de mais-valia estatal, etc., -, preservou-as e fortaleceu um poder central estatal dissociado das bases que provocou a degeneração dos primados comunistas até  se quedar ao expansionismo de economia de mercado. 

Vladimir Putin é o resultado mais eloquente desta degeneração começada por Josef Stalin.   

A China e sua revolução de 1949, sob Mao Tse Tung, com sua adesão ao stalinismo, trilhou o mesmo caminho que se acentuou com Deng Xiao Ping, o qual abriu o país à economia de mercado e transformou este o gigante asiático numa potência capitalista em números nominais, mas não em termos relativos, vez que a maior parte da sua população chinesa padece sob baixos salários e condições degradantes de trabalho.

Tanto a Rússia como a China, além do mundo capitalista ocidental, se veem hoje às voltas com a falência do capitalismo por conta dos seus próprios fundamentos, e a população mundial está atônita com a perda de poder aquisitivo causado por um processo inflacionário decorrente da emissão de dinheiro sem valor e desemprego estrutural que apavora a juventude que está a dizer como nos versos de Belchior: o sinal está fechado pra nós, que somos jovens

Toda esta tragédia se soma concomitantemente a um processo de aquecimento global responsável por desastres ecológicos extremos mundo afora e desertificador de terras antes agricultáveis.

Diante disso se colocam duas perguntas: por quem e como se dará a ruptura, revolucionária ou gradual, para uma sociedade verdadeiramente humana e emancipada? 

Marx disse que os homens fazem sua própria história: contudo não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sobre as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram.

Podemos inferir desta frase de Marx que há uma certa irracionalidade no comportamento social humano, ou inconsciência social, mas, apesar disto, os seres humanos buscam saídas por conta do seu grau de racionalidade que lhes permite um certo pragmatismo diante da necessidade. 

Mesmo hoje a França continua tendo um ardor revolucionário, a se deduzir de fatos como este da recente convulsão social por conta da redução de direitos previdenciários, podemos pensar que tanto pode haver uma guinada à direita, com Marine Le Pen, como também pode se criar um novo modo de relação social, no qual a riqueza abstrata concentrada dê lugar à riqueza material partilhada e isto sirva de exemplo para o mundo, como já aconteceu com a revolução republicana francesa do final do século dezoito, hoje obsoleta. 

Acredito que a insatisfação das massas no hemisfério norte, onde se situa a acumulação capitalista da riqueza abstrata, que se desmancha como algo concreto que carbonizado virou fumaça, possa produzir um exemplo de ruptura emancipacionista, podendo se unir às insatisfações crescentes no hemisfério sul empobrecido e de emigrantes desesperados, sendo possível o surgimento de um levante social revolucionário capaz de se apropriar das riquezas materiais coletivas. 

     Não seria então um movimento organizado em partido político da classe operária pronta para instituir um estado proletário, mas, antes, uma convulsão social que formataria uma ordem social de base, horizontalizada, com produção social planejada e distribuída equitativamente conforme a necessidade de cada um e sob a regência popular organizada.

     Neste caso, o sujeito revolucionário seria a própria tomada de consciência social sobre a necessidade pragmática de sobrevivência, mas com os elementos subjetivos libertários de formadores de opinião a orientar tal comportamento.

Mas isto tudo se o capitalismo, na sua pulsão assassina, não nos destruir como retaliação suicida à sua autodestrutibilidade. (por Dalton Rosado




Um comentário:

Anônimo disse...

Já aqui...
https://gilvanmelo.blogspot.com/2023/03/ameaca-comunista-ronda-44-dos.html

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp7WPEKJDXmttCagr553iuNCKpBDHCrMAL0BbM979IM62h9wRSJv4Kz0v2KFmliSxLrpheTZoPF0Q73pRJw71NFHCrXYqH-tjfCzWHQO65q7eIEz157XQUiUSbstcs62d0PNptvKRNVcA-BE_09spDj6j4XVL1r2hi7Q4NpMag0ymcwo3XrhfPXx8zHg/s1509/info-comunismo-pesquisa-site.webp

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