Há vinte anos George Bush júnior e Tony Blair lideravam a invasão ao Iraque em uma ação baseada em mentiras e claramente contrária ao direito internacional.
Muitos foram os impactos da guerra. O mais claro e nítido foi a destruição do Iraque com a morte presumida de mais um de milhão de iraquianos. O país, antes considerado um dos mais prósperos do Oriente Médio, foi reduzido a cinzas com seu povo vivendo em absoluta miséria.
Outro impacto, menos nítido, mas também decisivo, foi a ruína do sistema jurídico internacional, cristalizado na Carta das Nações Unidas, e que estabelecia ações bélicas multilaterais passíveis de serem autorizadas apenas pelo Conselho de Segurança da ONU. Ao ir para a guerra sem autorização do Conselho, EUA e Reino Unido sepultaram o ordenamento legal, deixando clara a mensagem de que quem tivesse a força poderia agir segundo sua vontade. Putin, já presidente à época, colheu as lições e as aplicou anos depois em seu ataque à Ucrânia. Se Bush pode, por que ele não poderia?
A justificativa oficial para a invasão era a posse de armas de destruição em massa pelo regime de Saddam Hussein. Não apenas isto nunca se comprovou, como tragicamente foram os próprios EUA os responsáveis pelo uso de armas proibidas na guerra, majoritariamente químicas, além do temido fósforo branco.
Massacres contra civis aconteceram às centenas, seja diretamente pelas tropas, seja mediante o emprego de milícias paramilitares. Em vídeo vazado pelo Wikileaks - e que transformou Julian Assange em inimigo número 1 do tio Sam - militares estadunidenses em um helicóptero atiram contra civis desarmados, matando 12 pessoas, sendo 2 repórteres da Reuters, e ferindo 2 crianças.
E também não se pode esquecer dos casos de tortura na prisão de Abu Ghraib, onde choques elétricos, asfixia, pauladas e outros tratamentos cruéis foram aplicados não para extrair informações, mas por puro sadismo dos militares contra os detidos. A maioria dos prisioneiros sequer possuía acusação formal e, muitos, nem participavam do movimento iraquiano de resistência.
O real motivo para a agressão estadunidense foi o controle dos campos de Petróleo do Iraque que haviam sido nacionalizados na década de 1960, justamente em detrimento das petrolíferas dos EUA e do Reino Unido. Desde então, os dois países lutavam uma batalha surda pela retomada da exploração do óleo, batalha acelerada após a desastrosa invasão iraquiana do Kuwait, em 1990.
Após a derrota das tropas de Sadam, os EUA conseguiram convencer o Conselho de Segurança a impor uma série de sanções a Bagdá, além de promover, rotineiramente, bombardeios ao país. Calcula-se terem as sanções custado a vida de mais de 500 mil crianças em uma década devido às dificuldades no acesso à comida e a remédios. Em 2003, o país já estava economicamente falido, fato que facilitou e muito a tomada do poder pelos estadunidenses.
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 deram a Bush avassalador apoio popular, rapidamente convertido em ações militares na chamada Guerra ao Terror. Tendo invadido o Afeganistão, após o Talibã não entregar Osama Bin Laden, o presidente estadunidense operou potente campanha política para ligar Sadam ao terrorismo, justificando a guerra e conseguindo sua aprovação no Congresso, inclusive com o voto de Joe Biden, à época senador.
Uma vez invadido, as companhias petrolíferas estadunidenses e inglesas reapoderaram-se dos campos de óleo, transformando os locais de exploração petrolífera, junto com os oleodutos, nos lugares mais seguros de um Iraque afundado no caos e no morticínio.
E assim segue até hoje. Após o fim da ocupação, o Iraque foi sacudido por sucessivas guerras civis, tendo sido o bastião do surgimento do Estado Islâmico. Mais recentemente, uma luta fratricida entre grupos étnicos irrompeu, deixando milhares de mortos pelo país. No entanto, os poços e os oleodutos continuam absolutamente seguros, agora também abastecendo a Europa após a imposição de embargos contra a Rússia.
A guerra do Iraque fica marcada na história como expressão eloquente da desumanidade capitalista e do desprezo imperialista por qualquer legalidade ou verdade. A prova cabal de que no capitalismo, a guerra é uma continuidade da economia. (por David Emanuel Coelho)
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