quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

DERROTA DO FLAMENGO NO MARROCOS É SÓ MAIS UM CAPÍTULO NA DECADÊNCIA DO FUTEBOL BRASILEIRO


 M
ais uma derrota do futebol brasileiro. Pouco antes de completarem-se dois meses da desclassificação do selecionado da CBF na Copa do Catar, foi a vez do Flamengo ser atropelado pelo poderoso Al-Hilal, da Arábia Saudita, na semifinal do Mundial de clubes da FIFA. 

O time carioca não está sozinho no vexame. Antes dele, Internacional (2010), Atlético-MG (2013) e Palmeiras (2020) também tinham sido eliminados na fase semifinal do torneio, sempre para times irrisórios de países de pouca expressão futebolística. Outros sulamericanos também caíram do mesmo modo: Atlético Nacional (2016) e River Plate (2018), somando, portanto, seis quedas na fase preliminar da competição. O último sulamericano a vencer o Mundial foi o Corianthians em 2012.

Tais derrocadas apontam para um fato claríssimo, se antes o futebol brasileiro, e sulamericano, já estava anos luz de distância do europeu, agora também  perde espaço mesmo para partes do planeta onde o esporte é quase semiprofissional.  E isto tem relação direta com a condição brasileira no capitalismo do século XXI. 

A decadência econômica nacional, com o Brasil reduzido à condição de fornecedor de comodities, levou à fragilidade financeira dos clubes e ao empobrecimento dos campeonatos nacionais. Incapazes de reter por muito tempo seus jogadores, as equipes nacionais foram obrigadas a se transformarem em fornecedoras de pé-de-obra para salvarem-se das constantes ameaças de falências. 

A isso, se juntou a transformação do futebol de pratica popular em entretenimento, tornando-se o esporte mais um ramo da Indústria Cultural com a consequente inversão de somas vultuosas de dinheiro. Hoje, um jogador custar o mesmo que uma grande empresa é algo corriqueiro, mas seria impensável décadas atrás. Com essa metamorfose em espetáculo midiático, os clubes brasileiros ficaram em situação ainda mais complicada, pois é praticamente impossível a eles concorrer com os valores astronômicos pagos a jogadores a título de salário, direitos de imagem e outros penduricalhos na Europa e em outros lugares.  

Futebol hoje é parte da Indústria Cultural. 
Cada jogador vale mais por sua imagem
do que pelo que faz em campo. 


O resultado é o rebaixamento técnico do futebol praticado por aqui, pois apenas jogadores de terceiro ou quarto escalão permanecem no país, indo os de ponta para a Europa ou para paragens inferiores, mas com maior poder financeiro. As poucas equipes que conseguem manter um plantel melhor - caso de Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo - o fazem ou com a ajuda de mecenas ou às custas de perigoso endividamento. 

O rebaixamento técnico implica na deterioração da própria formação dos treinadores, pois, na ausência de massa crítica competitiva, tendem a definhar na criatividade e no pensamento tático, repetindo, à exaustão, modelos preguiçosos e esquemões, além de copiarem porcamente as inovações feitas no centro europeu do futebol, assemelhando-se nisso aos bacharéis que iam para a Europa no século XIX e de lá voltavam repetindo frases feitas e filosofias cujo real sentido eles não dominavam. 

Por isso, mesmo quando os treinadores brasileiros possuem um grande time em suas mãos, o resultado é medíocre, como foi demonstrado na campanha do selecionado na última Copa. Certamente, Tite era o melhor técnico brasileiro à época, mas a nível mundial não estava nem na quinta prateleira. 

Para contornar a decadência técnica, muitos clubes seguiram o Flamengo e começaram a trazer treinadores estrangeiros, sobretudo portugueses. Mas, conforme a derrota no Mundial mostrou, nem todos os portugueses são iguais, sendo alguns tão ruins quanto os brasileiros. Isto para não considerarmos o fato de serem os treinadores da nossa ex-metrópole terceiro nível dentro do próprio continente europeu. 

A recente transformação dos clubes em SAF (Sociedade Anônima de Futebol) foi uma tentativa, ao menos no discurso, de alinhar o futebol daqui com as práticas mercadológicas europeias. Vendia-se a ideia de que Xeques, oligarcas e outros multimilionários estrangeiros desembarcariam em nossas praias e elevariam os campeonatos nacionais a Champion League tupiniquins.

 Com o baixíssimo poder de compra do trabalhador brasileiro, contudo, nenhum destes super capitalistas se interessou em investir seus dólares e euros, pois o retorno é irrisório. O Cruzeiro é o maior exemplo disso, pois após ter sido prometido a compra do clube por Magnatas Árabes do petróleo, a torcida teve de se contentar com o pé rapado Ronaldo, o qual, até hoje, mais de um ano após o negócio ser concretizado, praticamente nenhum centavo de seu próprio bolso investiu no clube. 

Jorge Jesus colocou os limitados treinadores brasileiros
no chinelo. Contudo, na Europa, ele não está nos primeiros
escalões e nunca treinaria os maiores clubes.

Fato é que o destino futebol brasileiro está ligado ao destino econômico e social do país. Estrangeiros podem elevar a medíocre situação técnica, mas muito pouco farão em um contexto onde o material humano é de baixa qualidade, ou onde os clubes vivem sempre à beira da bancarrota e, por fim, onde rapineiros se aproveitam de ideias impraticáveis no país para se apoderar dos bens das associações, agora empresas.   

Pelo caminhar da carruagem, o futebol brasileiro será reduzido por completo a força mundial mediana, lutando não mais contra os gigantes, mas contra os anões, com mais eliminações para equipes do baixo escalão a se repetirem. 

Tão pouco podem sonhar muito os hermanos, que também não se encontram tão bem, embora ainda desfrutem de clubes mais sólidos, um campeonato mais bem organizado, formação mais estruturada de técnicos e, sobretudo, de uma torcida mais aguerrida. Porém, tudo indica ter sido o título mundial mais uma moeda a cair em pé do que fruto de um sistema bem articulado, compartilhando a Argentina, no fim, o mesmo papel subordinado no capitalismo contemporâneo. 

Em toda América do Sul, o ocaso social, econômico e futebolístico segue a todo vapor. (por David Emanuel Coelho


2 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia. Para nosso orgulho o último sul-americano campeão é o CORINTHIANS. abraços

Túlio disse...

Olá, David
Realmente, o capitalismo engoliu esse belo esporte que é o futebol e o transformou em mais um entretenimento da indústria cultural.
E o velho Marx já previu que no capitalismo a tendência inexorável é de tudo virar mercadoria.
E obviamente que com concentração de renda para uma minoria de clubes.
E ficou tão distorcido que a Itália ficou de fora dos últimos dois mundiais.

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