A última polêmica nas hostes lulistas foi uma fotografia estilizada que saiu em edição da Folha de São Paulo da quinta-feira, 19 de Janeiro, de autoria de Gabriela Biló. Houve quem defendesse até mesmo intimação policial da fotógrafa e uma nota foi publicada pela Secretaria de Comunicação da Presidência criticando a publicação.
Coincidentemente, a grita petista lembra os arroubos bolsonaristas contra publicações da imprensa, shows de rock, mesmo peças de humor e, claro, montagens fotográficas. Ambos partem da velha confusão de identificar o cargo de Presidente da República com o de Soberano Monárquico. Caso soubessem um pouco de história, teriam consciência dos cartuns terríveis que circulavam à época do Império retratando Dom Pedro II de forma nem um pouco decorosa.
Contudo, o ponto nefrálgico aqui não é a discussão a respeito da fotografia em si ou do possível autoritarismo nas reações, mas na completa falta de noção entre as fileiras lulopetisas a respeito do que é essencial, pois a foto em um jornal é um elemento semiótico, do terreno simbólico, ocupando as últimas posições na fila das coisas importantes.
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Muito mais grave, é não existir, até o momento, a mais remota notícia governamental sobre o que seria feito quanto à roubalheira das Lojas Americanas. E, por fim, infinitamente mais grave é a total falta de plano do governo para retirar o país do buraco em que está metido, para além de repetir o que já não deu certo.
Tudo isso é muito mais grave, mas não conta com a mesma energia para ser enfrentado por parte dos lulistas. Tigrões com fotógrafas, viram tchutchucas com a turma do governo, mostrando bem o quanto estão pautados pelo inessencial.
De fato, condicionados a fazer política cosmética, sempre lidando com o superficial e nunca descendo à raiz dos problemas, passaram a acreditar ser a atividade militante circunscrita ao reino do simbólico, da representação. Daí se insurgirem contra fotografias, piadas, reportagens, etc. Compartilham nisso algo em comum com o bolsonarismo, também ele governado pelo simbolismo. Ambos estruturados pelo consenso neoliberal, onde o essencial não pode ser tocado.
Cabe à esquerda ir além de fantasmas, imagens, e tocar a nervura do real, em toda sua concretude. (por David Emanuel Coelho)
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