terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A LIÇÃO QUE NÃO FIZEMOS DIREITO EM 1985 COMEÇA A SER REFEITA EM 2023

O
que mudou, desde a última vez?

Agora o bode foi retirado da sala num domingo. Já o dia 15 de março de 1985 foi uma 6ª feira.

O regime militar, que foi uma ditadura de verdade, durou 21 anos. O trem fantasma do Bozo, que não passou de um projeto de ditadura abortado pela incompetência e insanidade do aspirante a autocrata, quatro anos.

Aquele foi caracteristicamente um estado de exceção parido e mantido pela casta militar, com o respaldo do poder econômico e de apoiadores civis.

Este jamais teve o apoio incondicional da caserna, daí as brochadas ou amareladas dos últimos 7 de setembro, o de 2021 e o de 2022. 

Embora o Bolsonaro jamais se tivesse destacado pela coragem pessoal em toda a sua parasitária existência, o fato é que a chance de o golpe fracassar na primeira tentativa era enorme e na segunda, quase total. 
A posse de Sarney despertou grandes esperanças, mas maior ainda foi a frustração no final.
Não estava claro para ele o que receberia do
meu Exército na hora H, se um poder sem limites ou um merecido chega-pra-lá. Na dúvida, preferiu não atravessar o Rubicão. O que faz todo sentido, pois a quem não é César o destino dificilmente dá o que é de César.

Das duas vezes o pesadelo terminou com a viola em cacos: estagnação econômica, governança disfuncional e degenerescência crescente. Das duas vezes impôs-se como tarefa imediata a reconstrução do país.

A remoção do entulho autoritário foi pessimamente executada no Governo Sarney, que nem sequer revogou a anistia aos esbirros da ditadura, imposta pela dita cuja em 1979 como condição sine qua non para a Lei de Anistia sair do papel, ou a desmilitarização do policiamento urbano. Sobrou entulho suficiente para gerar novos conflitos durante décadas. 

Agora se espera, no mínimo, que o genocida responda pelas aproximadamente 400 mil mortes evitáveis que causou com seu negacionismo e sabotagem à vacinação durante a pandemia, bem como pela infinidade de crimes políticos e delitos comuns por ele cometidos. Se escapar ileso, conseguirá finalmente ombrear-se ao seu ídolo, o torturador-símbolo do regime militar Brilhante Ustra, cuja impunidade foi aberrante, escandalosa e desmoralizante ao extremo para o país.
A posse do Lula despertou grandes esperanças, mas isto não previne outra frustração no final.
A ditadura militar legou ao país turbulências econômicas que se prolongaram por mais de nove anos, até o lançamento do Plano Real em julho de 1994. O
trem fantasma tende a repetir a dose, pois o novo governo acaba de assumir sem apresentar nem sequer um esboço de política econômica digno desse nome. Apenas déjà vu e mais do mesmo. 

E o aflitivo é que não parece mesmo haver fórmula mágica capaz de reatar o desenvolvimento econômico no Brasil, pois o capitalismo como um todo está chegando ao limite de sua sobrevivência. Resta saber até quando conseguirá continuar empurrando com a barriga, para a frente, a depressão mundial que já se prenunciou na crise estadunidense dos subprimes em 2008.

Suspiramos aliviados em 1985 e aliviados suspiramos no primeiro dia de 2023. Mas, passado o auê, vale atentarmos para o fato de que, se estamos de volta ao ponto de partida, é porque a tentativa de construir por aqui um capitalismo humanizado fracassou por completo. Continuaremos insistindo durante outros 37 anos?!

Temo que, se não partirmos para solução diferente (a construção de uma alternativa ao capitalismo agonizante), nada de melhor obteremos. 

Não estando excluído o agravamento do pior: a briga de foice no escuro à qual nos conduziu a polarização política. (por Celso Lungaretti)

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