dalton rosado
A AMEAÇA FASCISTA NO BRASIL
"Deus, pátria e família"
(Plínio Salgado)
Tal como as bactérias que crescem num corpo com baixa imunidade, o pensamento fascista se nutre da desesperança nos cânones civilizatórios em face da barbárie causada pelo capitalismo em fim de feira.
Tenho escrito amiúde sobre as causas primárias dos nossos infortúnios atuais, mas é preciso sempre lembrá-las aos leitores para que fixem nas suas consciências a certeza de que os motivos da debacle capitalista são estruturais, e gerenciais e administrativos.
Não se trata de boa ou má governabilidade estatal, mas da ingovernabilidade intrínseca de um aparelho de Estado que sucumbe com o objeto a que serve: o capitalismo.
Todo poder vertical havido na história da humanidade foi a ela nocivo; portanto, precisamos horizontalizar as decisões socais e transformá-las num contrapoder. Este certamente vai constituir-se no maior ganho civilizatório dos tempos atuais.
Será uma volta civilizada, graças aos ganhos do saber que sejam incorporados aos sentidos de solidariedade das sociedades primitivas que tudo partilhavam.
Nunca é demais afirmar que a substituição substancial e majoritária do trabalho vivo (trabalho abstrato remunerado pela mercadoria dinheiro) pelo trabalho morto (das máquinas, sem remuneração às ditas cujas), como bem explicitou Karl Marx e vemos agora se confirmar, representa o fim do ciclo de nascimento, vida e morte de um modo de relação social histórico, não ontológico.
O socialmente histórico se queda diante da dialética do movimento social e coloca de modo perceptível a exaustão daquilo que se tornou socialmente obsoleto. Tudo que é sólido desmancha no ar, disse Marx. Vivemos tal momento.
O fascismo tem base capitalista e nacionalista; a democracia burguesa tem base capitalista gerida pelos princípios iluministas da tripartição e descentralização do poder, que também é nacionalista, na medida que foi o capitalismo que formatou o conceito de nação como hoje conhecemos.
São dois cegos numa batendo na mesma porta, ainda que o primeiro seja militarmente beligerante e explicitamente genocida, e o segundo piedosamente opressor, tal como um antigo farmacêutico bem-intencionado que manipula remédios com insumos ineficazes.
No Brasil está em curso uma eleição sob esses dois parâmetros e que está explicitando um claro conteúdo antagônico de classes sociais.
Os embandeirados verde-amarelos, com seus carros luxuosos, representam a maioria visualmente perceptível dos veículos no trânsito e presente em restaurantes sofisticados e shoppings centers refrigerados, num vivo contraste com os moradores nas periferias dos bairros das cidades cindidas entre o luxo e o lixo.
Nos bairros pobres, principalmente do Nordeste ainda mais pobre, predomina um sentimento de classe entre os despossuídos identificado nas preferências subterrâneas por Lula, que é quem deles mais se aproxima, ainda que menos presentes entre os que frequentam as igrejas do pentecostalismo da prosperidade fake que apela para o paraíso celestial como recompensa conformista pelo sofrimento terrestre.
Nunca houve entre nós uma eleição com tais características, e isto se observa até de região para região, com os que detêm maior desenvolvimento econômico apresentando diferenciação de escolha (até mesmo no interior das regiões prósperas se observa tal divisão de classe).
O projeto fascista toma corpo despudoradamente mundo afora em face da falta de respostas da democracia burguesa para o combate ao sentido declínio social do poder de compra de mercadorias e da falência estatal no cumprimento das suas incumbências constitucionais de atendimento das demandas públicas básicas.
O Brasil segue esta trajetória de debacle econômico. agravada pelo fato de que aqui a desigualdade social é aviltante por termos uma elite política e econômica que tem a cabeça no colonialismo feudal (alguns confabulam às escâncaras sobre golpes de estado fascistóides).
Estamos vivendo uma ascensão fascista que já pode ser detectada independentemente do resultado das urnas do último domingo. No senado brasileiro os elitistas (com alguns fascistas despudoradamente assumidos tendo sido eleitos) já são maioria, de vez que obtiveram 44 cadeiras das 81 existentes.
O fascismo é cruel e insensível à vida humana. Para ele, só os eleitos pelos deuses, como se tivessem mentes e corpos aptos à purificação da humanidade, devem viver.
Como disse Jean-Paul Sartre em A Idade da Razão, "devemos combater o fascismo não pelo número de mortes que ele causa, mas pelo modo como ele mata". (por Dalton Rosado – continua neste post)
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