sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O DEBATE FINAL MAIS PARECEU UM FILME VELHO E RUIM DA SESSÃO CORUJA

dalton rosado
CANDIDATOS E O PONTO DE UNIDADE
T
odo debate eleitoral na democracia burguesa tem um ponto de unidade: todos devem restringir os seus discursos à governabilidade sob o capitalismo!

Como o capitalismo está entrando na sua fase de limite interno (a saturação da dinâmica da necessária e impossível reprodução aumentada do valor no atual estágio de sua incapacidade de expansão) e externo (os fatores climáticos que alteram a produção e a vida social), o discurso da governabilidade é falso.

Um candidato honesto e conhecedor da disparidade entre receitas fiscais e despesas correntes (aquelas que se constituem em custo fixo) teria de afirmar a ingovernabilidade do Estado é a razão pela qual seu país está cada mais endividado mundo afora  – e, no nosso caso, pagando taxas altas de juros.

Mas, se assim o fizesse, teria cassada a candidatura pelo seu partido; a resultante obvia de tal declaração seria o questionamento sobre o porquê de ter assumido uma candidatura previamente tornada inócua.

Assim, todos os candidatos são forçados a prometer o paraíso na terra. Os que já governaram tentam ressaltar os insuficientes aceertos, supostos ou reais, dos seus governos, omitindo que não alteraram substancialmente a realidade de vida social caótica, com todas as mazelas que conhecemos de cor e salteado.

É graças ao enquadramento prévio sob balizas constitucionais burguesas que o debate televisivo entre candidatos é desfocado da realidade e nele não pode ser abordada (e nem eles querem fazê-lo) a possibilidade de uma existência sob outros parâmetros de produção social e organização jurídico-constitucional de base, sem a verticalidade do poder estatal, que é serviçal da ordem capitalista e, consequentemente, opressor na sua essência constitutiva.

O capitalismo tem uma estrutura de descentralização das esferas de poder estatal entre poderes executivo, legislativo e judiciário que apenas servem ao verdadeiro senhor que é o poder impessoal econômico do capital e sua lógica autotélica (e que beneficia apenas os seus administradores empresariais e os segmentos intermediários da elite gerencial e institucional).

Mas os candidatos, que somente têm tal condição por aceitarem as regras do jogo, e uma vez eleitos devem jurar a constituição burguesa, não podem, evidentemente, sair das quatro linhas demarcatórias da constitucionalidade, ou seja, são aderentes implícitos ao anacronismo de um modelo social exaurido, que clama por um novo tipo de abordagem: a ruptura decorrente do seu ocaso histórico.

Enfim, como o foco deste artigo, na antevéspera do 1º turno, tem de ser uma análise sobre os perfis de cada candidato e seu desempenho no debate levado ao ar em TV aberta, vamos ao que viemos fazer.

Do ponto de vista eleitoral, o debate prejudicou a tentativa de Lula ganhar a eleição ainda neste domingo (2) , embora tal perspectiva continue viva.

Não que ele haja tido um mau desempenho, pois foi até melhor do que seu principal oponente, Boçalnaro, o ignaro. Mas porque, como ele já foi governo e seu partido o exerceu de 2003 a 2016 (quando a Dilma Rousseff foi impichada), o Lula se tornou alvo dos ataques generalizados dos demais candidatos.

Isto deve ter lhe tirado voto que, carreados para qualquer outro candidato, pode representar um decréscimo nas suas de liquidar a fatura no 1º turno. Não sei se isto provocará um 2º turno, mas considero que, neste aspecto, o debate lhe foi desfavorável.
Boçalnaro
mais uma vez demonstrou que os debates, mesmo sendo superficiais e nem sequer roçando nas causas da nossa tragédia, são-lhe desfavoráveis, expondo seu despreparo para o posto que lhe foi outorgado em 2018 pelo capital e seu aparelho governamental estatal.

É por isto que os donos do PIB já admitem que é melhor trocá-lo por alguém mais experiente e confiável como Lula, que governará, como tem afirmado, sob um programa de conciliação de classes próprio à social-democracia  e, como tem sido a tônica do seu partido trabalhista, reproduzindo tudo o que os partidos convencionais fazem mundo afora.

Mas a crise do capital pode levá-lo a um desgaste em 2023/2024, tal como ocorreu com Dilma Rousseff, e o establishment entender que é chegada a hora de o picolé de xuxu assumir o governo por manobra parlamentar e como forma de conter (mesmo que momentaneamente) a insatisfação popular decorrente da inviabilidade social de um sistema decrépito.

Ciro Gomes ficou isolado, ele e seu marqueteiro João Santana estão movido por ressentimentos pessoais e, em que pese a sua verve professoral e conhecimento da máquina administrativa, não teve tempo de discorrer com desenvoltura; aliás, mesmo que o fizesse, não seria entendido por eleitores desacostumados à uma linguagem rebuscada como a dele.

Tudo indica que Ciro vive o seu ocaso, inclusive no seu estado, o Ceará, com a família Ferreira Gomes rachada eleitoralmente e com a perspectiva de eleição de um governador petista. Deve perder pra Lula até no Ceará.

A grande beneficiária eleitoral é Simone Tebet que, de ilustre desconhecida senadora do MS, ganhou protagonismo eleitoral e se habilita para futuras disputas eleitorais, seja em seu estado ou mesmo nacionalmente.
Felipe D’Ávila e Soraya Thronicke, ambos de direita, são aqueles candidatos de uma nota só:
— o primeiro representa o liberalismo clássico ultrapassado do Paulo Guedes e crença no mercado como apanágio de solução para todos os males; e
— a segunda reapresentou a antiga crença em que a questão fiscal (imposto único) possa resolver substancialmente nossos problemas, os quais são estruturais e não pontuais. 

O padre Kelmon, é uma fake em pessoa. Nem mesmo padre ele é, com sua mitra dos sacerdotes da Idade Média. Não passa de um engenho conservador e despreparado do Roberto Jefferson para introduzir no debate um cabo eleitoral do presidente candidato. Uma lástima.

Fico por aqui, pois tive de aguentar com sono e tédio um debate que mais pareceu um filme velho e ruim da Sessão Coruja. (por Dalton Rosado)

Um comentário:

SF disse...

Lúcido!

Related Posts with Thumbnails