dalton rosado
BRASIL, GRANDEZA E PEQUENEZ
Deodoro da Fonseca dixit |
É claro que já seríamos naturalmente grandes:
— pela nossa magnitude territorial continental;
— por sermos grandes detentores e exportadores de commodities (minérios e alimentos); e
— pela nossa população (temos a metade dos habitantes da América do Sul e Central).
É por isto que em 1964, no auge da guerra fria, os Estados Unidos enviaram à costa brasileira uma frota bélica para ficar de prontidão; era uma força intervencionista de fazer inveja ao plutocrata russo (o qual, aliás, agora está parecendo ser apenas um leão velho e desdentado a miar...).
Os marines estadunidenses estavam estacionados no mar continental, nas proximidades do Espírito Santo, prontos para apoiar o golpe que os militares brasileiros incubavam desde a década anterior.
Baseados em análises equivocadas dos seus informantes diplomáticos e na própria fanfarronice do Luiz Carlos Prestes, os EUA temiam que nosso país se tornasse uma nova Cuba. Depois constataram que bastariam um cabo e um soldado para derrubar Jango, como diria o bolsominion zero à esquerda!
O Brasil tem uma tradição militarista na política, sendo tal característica um traço cultural da nossa pequenez bananeira.
A conservadora velha República do café com leite (já que São Paulo e Minas Gerais se revezavam no poder político) era tutelada pelos militares, até que, em 1930, após a quebra do pacto e a eleição de Júlio Prestes, o tenentismo tomou o poder pela via armada e entronizou Getúlio Vargas, o candidato derrotado, na Presidência da República.
O getulismo tenentista, que logo demonstrou ser simpatizante do fascismo italiano e de suas leis trabalhistas, durou 15 anos, até que os ventos da 2ª Guerra Mundial e a relutância inicial do ditador brasileiro em aderir aos aliados fizeram com que os Estados Unidos apoiassem a deposição de Getúlio no pós-guerra e promovessem uma eleição com dois militares, de modo que tudo ficasse em casa...
Terminada a guerra, Getúlio foi deposto à brasileira, ou seja, apoiou eleitoralmente quem o depusera do poder, ajudando a eleger o general Eurico Gaspar Dutra.
Como a memória populista de Vargas ainda estivesse presente como pai dos pobres, veio o processo eleitoral e a sua vitória em 1950, seguida de nova tentativa de golpe em 1954, que ele abortou suicidando-se com um tiro no peito.
Dez anos após, com o trabalhista getulista João Goulart no poder, as condições conjunturais da guerra fria propiciaram um novo golpe militar que durou 21 anos.
A história é incontestável: temos uma tradição militarista de poder, sendo isto o que nos assemelha às repúblicas bananeiras latino-americanas como aspecto da nossa pequenez político-institucional-democrática, e em contraste com a nossa grandeza natural (material e cultural).
Dentre nossos presidentes, dez deles foram membros das Forças Armadas, mas apenas três chegaram ao poder pela via das urnas e não das armas: Hermes da Fonseca, em 1910; Eurico Gaspar Dutra, em 1946; e Jair Bolsonaro, em 2018.
Contudo, apesar da nossa tradição de tutela militar (exercendo diretamente o poder ou influenciando o dirigente, o momento é de convergência para o respeito ao estado democrático de direito. Concordo com o Jânio de Freitas, quando ele (do alto dos seus 90 anos de vida e 67 como articulista de jornais) diz que a hora do golpe passou, mas acrescento: momentaneamente. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Um comentário:
https://www.ihu.unisinos.br/622498-brasil-contra-o-golpe-do-medo-artigo-de-boaventura-de-sousa-santos
https://www.ihu.unisinos.br/622508-eleicoes-reta-final-artigo-de-frei-betto
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