segunda-feira, 26 de setembro de 2022

HERDEIROS DE MUSSOLINI FAZEM NOVA MARCHA SOBRE ROMA APÓS 100 ANOS

"formou-se a ditadura-padrão dos ultradireitistas emergentes da 1ª Guerra Mundial... 
Os herdeiros políticos de Benito Mussolini retomaram, neste domingo (25), o caminho ao poder iniciado há um século pelo ditador italiano, responsável pelo termo fascista ter-se tornado xingamento da Europa ao Brasil de Jair Bolsonaro, ainda que com significados ao gosto do cliente.

A vitória da coligação ultradireitista liderada por Giorgia Meloni, apontada na boca de urna, impressiona no contexto: a ascensão de grupos extremistas na política institucional de países como a França e a Alemanha foi algo naturalizada devido aos acenos feitos por eles ao centro, mas de fato nunca tiveram chance de tomar o poder central.

Na Itália, o premiê mais duradouro do pós-guerra, Silvio Berlusconi, habita a faixa de frequência da direita meio fascistóide, meio fanfarrona, por assim dizer, mas seus governos foram controversos por outros motivos. Ele pode ter degradado a política, mas não tornou o país uma ditadura.

Temos assim uma nova Marcha sobre Roma, para ficar no paralelo com o movimento final da implantação do fascismo sob o ex-esquerdista Mussolini (1883-1945). 
...tornada experimento social aberrante sob Adolf Hitler na Alemanha"
No fim de outubro de 1922, os paramilitares Camisas Negras, que formavam a vanguarda violenta do grupo nacionalista, prepararam um golpe.

Eles ocupariam pontos estratégicos da capital naquele dia 28. O governo apavorou-se e quis decretar estado de sítio, o que foi negado pelo rei Vittorio Emanuele 3º (1869-1947), num episódio opaco: ele podia buscar evitar o derramamento de sangue, mas queria ficar no trono como figurante, o que conseguiu.

Seja como for, o rei não só deixou a cidade aberta a Mussolini, como o convidou para formar um governo. O resto é história: formou-se a ditadura-padrão dos ultradireitistas emergentes da 1ª Guerra Mundial  (1914-18), tornada experimento social aberrante sob Adolf Hitler (1889-1945) na Alemanha.

Se a tentação da comparação é grande, por óbvio comporta exageros. Dona de uma trajetória de guinada ambígua ao centro semelhante à da francesa Marine Le Pen, Meloni insinuou na campanha entender as regras do jogo. 
Berlusconi, o bilionário das orgias:
"meio fascistóide, meio fanfarrão"
 
Condenou a invasão da Ucrânia, ao contrário do problemático parceiro Matteo Salvini, cujo partido Liga uniu-se ao Força Itália de Berlusconi e apoia o Irmãos da Itália da próxima primeira-ministra.

Para governar na caudalosa política italiana, que troca de premiê como troca de camisa há décadas, a provável primeira-ministra Meloni terá de ser mais Berlusconi, a quem serviu como ministra da Juventude em 2008, do que Salvini, que chegou a vice-premiê mas gosta mesmo é da companhia de Steve Bannon e Eduardo Bolsonaro.

Mas, a cada assoprada dada pela política de apenas 45 anos, há uma mordida dolorosa: a Itália é uma das principais portas de entrada de imigrantes em situação irregular na Europa, e a xenofobia de seu discurso promete um embate cruel nesse campo. 

Além disso, ela é uma parceira do húngaro Viktor Orbán, que conseguiu fazer o Parlamento Europeu decretar seu país como uma democracia não plena. Adota o lema fascista português Deus, Pátria e Família, o mesmo macaqueado por Bolsonaro.
Enquanto a verdadeira Meloni não se apresenta, é possível ter motivos para sustentar a versão pós-moderna da Marcha sobre Roma. Aos 19 anos, ela concedeu uma entrevista já como líder destacada do antigo Movimento Social Italiano, principal agremiação neofascista do pós-guerra.

Nela, disse que Mussolini foi um bom político, e tudo o que fez, fez pela Itália. Claro, isso desapareceu de suas falas subsequentes, mas o seu antecessor na liderança do Irmãos da Itália, Ignazio La Russa, foi claro: Nós somos todos herdeiros do Duce.

Nada disso sugere que ela tomará posse de camisa negra e fazendo a saudação romana, que aliás ela pediu que fosse evitada por seus seguidores. Como a própria Meloni afirmou, a direita italiana hoje é pós-fascista –resta saber do que ela está falando na prática.
Meloni adota o lema fascista Deus, Pátria e
Família
, "o mesmo macaqueado por Bolsonaro"

Algumas dicas podem ser encontradas na política externa de Bolsonaro em seus dois primeiros anos, quando o Itamaraty virou
playground de terraplanistas ideológicos. 

Assim como o ex-chanceler Ernesto Araújo, Meloni vê o Grande Satã não só no islamismo de imigrantes, mas numa certa esquerda globalista, financiada por nomes como o do judeu-húngaro George Soros, não por acaso pária para Orbán.

A ascensão da ultradireitista na Itália assusta por outros motivos, como lembrou o escritor italiano Roberto Saviano. O país sempre foi um tubo de ensaio de políticas degeneradas: deu Mussolini antes de Hitler, o terror esquerdista das Brigadas Vermelhas antes da onda que varreu a Europa nos anos 1970, Berlusconi e o Movimento 5 Estrelas antes de Donald Trump.

O motivo de fundo, é possível argumentar, é o fato de a Itália estar num ponto de fratura civilizacional, perto de um Oriente Médio e de uma África turbulentos, e ao mesmo tempo tendo uma economia enorme, gerando tensões sociais. E as respostas simplistas do fascismo sempre encontraram eco em tempos de crise como o atual, com o inverno de Putin assombrando líderes europeus.
Nesse sentido, a nova Marcha sobre Roma tem um marco temporal, mas vem acontecendo há décadas, porque o fascismo, com diversas gradações, nunca deixou de fazer parte da paisagem política italiana. 
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(por Igor Gielow)
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TOQUE DO EDITOR – Estou pesaroso com a guinada à extrema-direita da Itália dos meus ancestrais, mas nem um pouco surpreendido. Já amargara tal decepção durante a repulsiva perseguição neofascista a Cesare Battisti, troféu que o pornográfico premiê Berlusconi moveu céus e terras para exibir como triunfo pessoal (e eu me orgulho imensamente de haver então ajudado a frustar sua extemporânea vendetta!).
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Expressei meu desencanto neste artigo do início de 2011 que, relendo-o agora, considerei até comedido. Mantenho a afirmação de que "existem italianos comuns, a exemplo do que ocorria durante o fascismo, submetendo-se docilmente a lideranças demagógicas e rancorosas", só acrescentando que eles não são uma aberração circunstancial, mas sim uma verdadeira e permanente legião.

E retiro a ressalva de que os mitos de lá "falam por si, e não pelas grandes massas". Infelizmente, comprovou-se neste domingo que esta não era a verdade. (por Celso Lungaretti

4 comentários:

Anônimo disse...

Do Financial Times de hoje
via site todayuknews, tradução google
https://todayuknews-com.translate.goog/economy/bolsonaro-supporters-reject-the-bad-news-from-brazil-election-polls/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Do El Pais de hoje

https://elpais-com.translate.goog/internacional/2022-09-26/lula-mantiene-su-ventaja-sobre-bolsonaro-en-la-recta-final-de-las-encuestas.html?_x_tr_sl=es&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

https://elpais-com.translate.goog/internacional/2022-09-26/ultimos-rezos-por-la-victoria-de-bolsonaro-oh-senor-deten-la-avalancha-del-mal.html?_x_tr_sl=es&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

SF disse...

"Só se repete como farsa".
Lembra de Marx?

Anônimo disse...

Bolsonaro promove garimpo em terras indígenas e “delega” mineração empresarial ao MDB, aponta dossiê

https://www.ihu.unisinos.br/622425-bolsonaro-promove-garimpo-em-terras-indigenas-e-delega-mineracao-empresarial-ao-mdb-aponta-dossie

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2022/09/As-Veias-Abertas-2022-PTBR.pdf

Anônimo disse...

Por que EUA estão observando de perto eleição no Brasil BBC Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=KApuwNbNqCo

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