sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A DESBOZIFICAÇÃO ESTÁ GARANTIDA, MAS O RESTO VAI DEPENDER DE NÓS

N
a atual sociedade do espetáculo, é enorme o contingente de cidadãos que, mesmo sendo sofisticados, acostumaram-se a acreditar nas supostas tempestades de som e fúria da política. 

Não se dão conta de que,  como Shakespeare alertou mais de quatro séculos atrás em Macbeth, elas ora estão significando nada.

E a história não é mais contada por um tolo, e sim pelos que lucram mantendo viva a ilusão de que os desenlaces dos grandes acontecimentos estão em acirrada disputa, embora  salte aos olhos que, pelo contrário, eles já foram determinados pela correlação de forças econômica, tornando-se extremamente previsíveis. 

O que seria da nossa grande imprensa caso tivesse se generalizado a  minha conclusão de que, após não ter dado seu autogolpe quando as circunstâncias lhe eram propícias no seu primeiro ano de governo, Bolsonaro dificilmente lograria adiante seu objetivo? Quantos bilhões de  dólares a indústria cultural teria deixado de faturar em cima da paúra dos eternos torcedores? 

Pior ainda seria se os cidadãos manipulados de forma científica pela lavagem cerebral de nossos tempos percebessem a obviedade de que, desde janeiro de 2020, quando Donald Trump foi expelido da presidência dos EUA, o improvável se tornou impossível.

Por quê? Porque os acontecimentos políticos importantes do Brasil são decididos fora do Brasil desde 1500.  
Porque Portugal era um tigre de papel, mas o gigante deitado eternamente em berço esplêndido desperdiçou a chance de adiantar o calendário da História em mais de três décadas com os inconfidentes mineiros, só consumando a independência sob a proteção da pérfida Albion e pelas mãos do príncipe estrangeiro.

Porque o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravatura, apenas o fazendo quando ela já se tornara contraproducente em termos econômicos.

Porque a ditadura de Getúlio Vargas apenas teve fim quando os estadunidenses, após lutarem contra a Alemanha e a Itália campos de batalha da Europa,  decidiram que não queriam miniaturas de Hitler e Mussolini empoderadas no seu quintal.

Porque o golpe de 1964 já vinha sendo tramado e até tentado pelos mesmíssimos conspiradores desde a década anterior, mas só virou realidade quando os EUA lhes deram sinal verde e se comprometeram a intervir militarmente em favor deles caso necessário.

De resto, uma ditadura ultradireitista como a sonhada pelos irmãos Bolsonaro, com a complacência do pai coruja, afeta negativamente os negócios, então se tornou no presente século uma opção indesejável para o grande capital (não confundir com os vira-latas do capitalismo, como os predadores ambientais).

Com o fracasso de Trump, seu boquirroto apoiador bananeiro passou a ser discretamente torpedeado por aquele gigante de quem em muito dependia economicamente e cujos militares desde os tempos da Força Expedicionária Brasileira exercem influência poderosa sobre os oficiais superiores do nosso Exército. 

Apesar de contemporizarem com Bolsonaro, tais comandantes, se tivessem de decidir se ficariam a favor ou contra um autogolpe no nascedouro, se inclinariam inevitavelmente para a segunda opção.

Ademais, Bolsonaro jamais teve coragem pessoal, nem miolos, nem liderança, nem raciocínio estratégico para encabeçar qualquer virada de mesa institucional. Toda a sua trajetória –de mediocridade e pequenas trapaças, fanfarronices estridentes, blefes cínicos e humilhantes negaceios quando chegava a
hora H– o evidenciava. 

Então, apenas bisou o Hitler que conseguiu tomar a Áustria e a Tchecoslováquia apenas blefando, mas não conseguiu fazer o mesmo com a Polônia, pois ingleses e franceses haviam aprendido a lição com os recuos anteriores e lhe declararam guerra em setembro de 1939.

Com sua crassa ignorância histórica, Bolsonaro não percebeu que nem seus blefes. nem o apoio do centrão comprado a peso de cargos e verbas, lhe proporcionariam o poder absoluto. 

E não foi o Supremo Tribunal Federal quem realmente inviabilizou sua escalada destrambelhada, mas sim os verdadeiramente poderosos (os donos do PIB e os altos escalões militares), ao garantirem aos nada heroicos ministros do STF que poderiam honrar suas togas sem risco da chegada de um soldado e um cabo para fechar a corte.  

Já impotente para levar a cabo suas ameaças fantasiosas, Bolsonaro quis dar demonstração de força no 7 de setembro de 2021 e escancarou, isto sim, sua fraqueza, tendo de ir sentar-se no colo do tio Temer e implorar-lhe que consertasse sua lambança.

Excluída a hipótese do autogolpe, depositou sua última esperança de reeleição na capitalização do bicentenário da independência, cometendo em vão um rosário de crimes eleitorais, pois seu destino já estava selado e a sólida rejeição por ele acumulada pesou mais do que tais pirotecnias na enésima hora. 

O novo ano começará com um novo presidente despachando no Palácio do Planalto. A mudança vai ser para melhor, pois  pior seria impossível. 

Mas, não se iludam: devolvida a racionalidade ao governo e sanadas as aberrações mais óbvias, a pátria desalmada continuará não sendo mãe gentil para a maioria dos filhos deste solo

Isto não está nos planos de quem já assumirá comprometido com a perpetuação de um sistema que coloca a obtenção do lucro acima da satisfação das necessidades humanas, nem sairá das urnas eletrônicas, nem vai cair do céu .

Só ocorrerá se e quando a gente brasileira se tornar realmente brava e tomar em mãos o próprio destino. (por Celso Lungaretti)

8 comentários:

SF disse...

*
"pior seria impossível"... no Brasil, Celso, o pior é sempre possível.
***
Acompanho sua visão de que a eleição de Lula já está negociada.
As manobras foram tão descaradas que qualquer simulacro de vontade popular, no caso dele, não enganam nem sequer o povo.
***
A eleição serve para dar seis dias de folga para os funcionários públicos.E para a população se sentir um nada, ao ser obrigada a exercer um "direito" que nada mais é do que chancelar, ratificar, balançar a cabeça para o já decidido alhures de sua vontade.
***
A irracionalidade na condução da sociedade continuará.
Mas, por quanto tempo?
É difícil parar o progresso.
O erro continuado acaba em desastre, de inopino. (Linda palavra "inopino")
*
Ocorre que o gentio, face as mudanças tecnológicas, não é mais tão relevante e nem revolucionário.
Nunca foi, aliás.
O que havia antanho era a sua força de trabalho. Hoje praticamente desnecessária.
O horizonte está turvo e não consigo, ou não quero, ver o que está surgindo.
Vejo, por exemplo, a ameaça de peste devido às super bactérias resistentes a antibióticos, vírus criados em laboratório e guerra biológica.
E, por má-fé, creio ainda que escaparemos disso.
*
O equilíbrio é muito delicado mais as forças que o mantém são enormes.
Não serão os estratagemas dos caras ou do gentio que o alterarão.
O ser humano está diante de uma prova: ou se torna humanidade ou retorna a animalidade.
Por nossos frutos conheceremos a nossa natureza.
***
A fructibus eorum cognoscetis eos.
*
Carpe diem.
*

Anônimo disse...

Livro da semana

O gato perdido Capa 16 setembro 2022
por Mary Gaitskill (Autor), Izalco Sardenberg (Tradutor)
https://inews-co-uk.translate.goog/culture/books/mary-gaitskill-lost-cat-because-we-wanted-to-interview-770737?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es
OU
https://inews.co.uk/culture/books/mary-gaitskill-lost-cat-because-we-wanted-to-interview-770737
E
https://dauntbookspublishing.co.uk/book/lost-cat/

Anônimo disse...

Quais funcionários públicos Tem folga de 5 dias? Eu nunca tive,escolas nunca tiveram,sendo que as eleições sempre caem no domingo..quem trabalha como mesarios,fiscais,tem folga,sim,mas porque fizeram treinamento, e trabalham no dia da eleição, sem ganhar nada ,nem um Marmitex..

celsolungaretti disse...

Anônimo das 17h43,

desconheço em que se baseou a afirmação do outro comentarista. Fico devendo, só o próprio SF poderá te esclarecer.

Abs!

SF disse...

Quem for mesário e funcionário púbilico terá até seis folgas por trabalhar na eleição.

SF disse...

Ah, é! O link...

https://www.tre-sc.jus.br/eleitor/mesarios/folgas-e-declaracao-de-participacao

SF disse...

Quanto a animalidade provável..

"Têm lodo no fundo da alma; e coitados deles se o seu lodo possui inteligência!
Se ao menos fosseis animais completos!
Mas para ser animal é preciso inocência".
Friedrich Wilhelm Nietzsche - Assim falou Zaratustra - A castidade XIII.

Nem a animais volveremos... falta-nos a inocência.

Anônimo disse...

#13LULAPRESIDENTE
Minha bandeira sempre será verde e amarela, meu sangue sempre será vermelho e meu voto sempre será 13 !

Related Posts with Thumbnails