A DESGRAÇA QUE ASSOLA NOSSO BRASIL
Merece respeito toda religião que prega o bem, a paz entre os homens. Toda religião que considera iguais todas as pessoas, não importando a sua cor, seu gênero e suas opiniões. Toda religião que não usa o nome de suas divindades, os livros sagrados, para induzir pessoas a apoiarem um sistema político ou a darem seu voto a partidos ou homens políticos.
Ao mesmo tempo, num país democrático, os religiosos devem respeitar quem não acredita em deuses, santos, corão, bíblia, milagres, céu e inferno.
Evidentemente um e outro, o crente e o não crente, podem discordar, achar errado. Mas não podem perseguir, agredir ou marginalizar quem crê ou quem não crê. O direito de crer é assegurado pela constituição, o direito de não crer também é assegurado pela constituição.
O fanatismo, a ignorância podem levar a atos condenáveis e criminosos, como foi o atentado contra o escritor Salman Rushdie, cometido por um beato islamita talibã; ou como foram as perseguições a cristãos feitas por governos ateus; ou como foram as perseguições contra não crentes durante a Santa Inquisição. Deu pra entender?
Porém, a partir do momento em que se misturam água benta, versículos bíblicos, sermões ou missas com pregações políticas (ou se utilizam práticas e símbolos sagrados para simplesmente ganhar dinheiro), espalhando mentiras, maldições, a religião perde todo nosso respeito, porque deixa de ser religião para ser um partido político disfarçado, que usa batina, púlpito, bíblia, orações ou salmos e hinos para enganar os mais humildes, os menos instruídos, os que precisam de apoio psicológico.
A desgraça pela qual vem passando nosso país –cujo prestígio mundial acabou, cuja imagem de país amigo e gente boa desapareceu, engolidos por um gabinete do ódio, pela vulgarização do uso de armas, pelo justificação da tortura, pelo assassinato de nossas florestas, pelo genocídio com ou sem cloroquina– vem da eleição, há quatro anos, de um presidente sem qualquer formação, seja cultural, econômica, política, humana... ou mesmo religiosa!
Mas, paradoxo, tal presidente foi eleito com mais de 30% de votos vindos de pessoas que professam uma religião considerada como seguidora direta das mensagens de amor, de respeito, de paz, de honestidade, de verdade, e que se supõem inspiradas diretamente pelos evangelhos deixados pelos seguidores de Cristo.
Como pôde o Mal subverter, enganar, mentir e transformar a mensagem de paz do evangelho. dela fazendo uma linguagem de ódio, a ponto de pregar e justificar o rompimento da legalidade constitucional, a quebra das regras democráticas, e mesmo incitar cidadãos bons, honestos e pacatos a participarem de arruaças, atos violentos de agitações que poderão provocar mortes no 7 de setembro, como incita direta ou indiretamente o presidente Jair Bolsonaro, para se livrar com antecedência de uma derrota no 2 de outubro?
A resposta é simples, espertalhões bons de conversa mole (superficial e sem profundidade), gente que antigamente faria sucesso nos circos que existiam em todos os bairros e nas cidades pequenas, esses caras bons de conversa mole deturparam a mensagem bíblica e passaram a pregar o mal nas igrejas, numa espécie de anti-evangelho, um evangelho de extrema-direita, inspirado no Velho Testamento.
Eles substituíram os escritos de Mateus, Marcos, Lucas e João por um apócrifo Evangelho de Judas Iscariotes.
Quem são os pastores golpistas que espalharam pelas igrejas do Brasil a mensagem falsamente evangélica, a deslavada mentira de que, se Bolsonaro perder, os petistas vão destruir as igrejas e instaurar o comunismo no país? E o apelo, mesmo sendo indireto, de que os evangélicos devem lutar para impedir isso? Inclusive com armas?
No ano passado, às vésperas do Dia da Pátria, num sermão transmitido também online, o pastor Cláudio Duarte –uma espécie de showman de circo, misturando humorismo, piadas toscas e de mau gosto com evangelismo– excitava seus seguidores com a mensagem de que o Brasil estava à beira da guerra civil.
Ainda neste mês, convidado pela bancada evangélica, com a presença do Bolsonaro, levou sua mensagem fundamentalista tipo Deus, Pátria e Família (lema dos fascistas italianos) e, entre tolas piadinhas cristãs, bem adaptadas ao primarismo do público de deputados e senadores ao qual se dirigia, aproveitou para atacar o STF e o ministro Alexandre Moraes, tudo em nome de Deus, fazendo de conta ter esquecido que o Brasil é um país laico.
Só a criação de uma bancada evangélica já é excrescência num país democrático e não teocrático.
Quem são os principais líderes desse evangelho golpista? Vi esses nomes num site de jornalistas, com a seguinte identificação: representantes do Reino de Deus no governo Bolsonaro. Seriam, portanto, pastores embaixadores, mas sem terem mostrado credenciais divinas.
Além do pastor humorista Cláudio Duarte, estavam listados Marco Feliciano, um dos divulgadores do fake-news da destruição de igrejas no caso de vitória da oposição; Silas Malafaia; Edir Macedo; Magno Malta; Guilherme de Pádua; pastora Flordelis; pastor Everardo; Gilmar Santos; Airton Moira, etc.
Todos eles enganadores do povo humilde, pobre e sem instrução.
IRONIA DA HISTÓRIA – Foi o Partido dos Trabalhadores, mal orientado e esperando converter os evangélicos para o petismo, quem deu força a esses cristãos de fancaria.
Nem 10% na época, hoje são mais de 30%, tendo inclusive o PT ajudado na implantação dos evangélicos nos países africanos de língua portuguesa, onde hoje os ditos cujos estão derrubando os católicos herdeiros da colonização.
Ninguém deve esquecer a presença e o apoio de Dilma Rousseff na inauguração do Templo de Salomão de Edir Macedo. Os petistas bancaram os trouxas e foram redondamente traídos, em nome de Deus, por Edir Macedo, Malafaia e seu bando de falsos cristãos.
Bastaria saber como agem nos Estados Unidos, onde são trumpistas e de extrema-direita, esses evangélicos de importação. O PT entrou numa verdadeira canoa furada!
Espera-se que, com a anunciada derrota de Bolsonaro, ocorra também a queda da credibilidade dos evangélicos responsáveis pela eleição e sustentação do nosso pior presidente. Mas, se tal não ocorrer e os evangélicos continuarem a crescer, pode mesmo haver uma tentativa de teocratização do Brasil (recentemente, uma nova lei ampliou ainda mais a isenção de impostos para pastores, pretensos pastores e igrejas evangélicas).
Um exemplo é o programa do candidato evangélico Roberto Jefferson, do PTB, no qual uma das principais propostas é a da criminalização do que chama de cristofobia, criminalização dos culpados por terem aversão ao cristianismo, com processo e prisão para quem criticar ou falar mal dos evangélicos.
Trata-se de uma versão fundamentalista evangélica ligeiramente amenizada pois, nos países teocráticos talibãs, os hereges são executados em nome de Alá. (por Rui Martins – continua neste post)
3 comentários:
É por pessoas como Rui que Bolsonaro pode se reeleger. Preconceituoso com Cristãos, não engana ninguém. Depois de ler teu artigo acho que vou repensar muita coisa.
William, calma, vamos esperar o 2o capítulo para dizer que, fenomenologicamente e ontologicamente, crença é má-fé.
SF. Sou um um grande admirador teu. Fantástico
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