sábado, 6 de agosto de 2022

ESTADÃO INICIA SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE O 'PERIGO' ESQUERDISTA

Cúmplice explícito do golpe de 1964, o Grupo Estado...
O
jornalão O Estado de S. Paulo mantém posição firme contra o governo genocida do Bozo.

O Estadão continua firmemente contrário aos governos e partidos de esquerda. 

Para os maniqueístas, que enxergam tudo sem nuances, estas duas afirmações podem parecer incompatíveis entre si. Mas, não o são.

Trata-se de um jornal conservador, mas não de extrema-direita. Quer que o jugo do capital seja mantido civilizadamente, sem execuções, câmaras de tortura, censura e abusos escandalosos de poder.

Assim, para ele é aceitável que o poder econômico, com boas maneiras, satelize o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, fazendo com que sirvam como biombos para a mão que manipula os cordéis nos bastidores.

Mas é inaceitável que o Executivo, com más maneiras, imponha sua vontade ao Judiciário, como o palhaço genocida tenta de todas maneiras fazer.

Tais sutilezas, que escapam aos cidadãos comuns, podem fazer grande diferença para os revolucionários.
...resistiria francamente à
ditadura a partir do AI-5.

Como travamos nossas batalhas em condições de enorme inferioridade de forças, temos de levar em conta as contradições entre os inimigos e aproveitá-las ao máximo para tornar menos impossíveis nossos êxitos. 

Então, conformemo-nos em ler, no mesmo jornal que lança editoriais extremamente contundentes contra o Bozo, uma série de reportagens como a iniciada pelo Estadão nesta 6ª feira, 5, sobre quais são os riscos da ascensão de governos de esquerda na América Latina.

O jornalão está aflito com a possibilidade de, elegendo-se Lula, a esquerda passar a controlar "13 dos vinte países da região, incluindo as seis maiores economias, estendendo os seus tentáculos de Tijuana, no México, à Terra do Fogo, no Chile e na Argentina".

Mas, mesmo assim, prosseguirá com suas contundentes pregações em favor da democracia burguesa e, portanto, contra o vezo ditatorial do preside(me)nte. Nessa mesma edição, o editorial exigiu, inclusive, que ele adiante responda na Justiça por seus feitos:
"Não há como reduzir a gravidade de tudo o que Jair Bolsonaro vem fazendo contra as eleições, assim como não há como ele ficar impune depois de tudo o que já fez".
E já se prepara para voltar sua metralhadora giratória retórica contra o vindouro Governo Lula (a tal série de reportagens é um aquecimento nesse sentido...), mas não cogita em tentar impedi-lo, pois aprendeu que conceder poderes excessivos a golpistas pode vir a ser um péssimo negócio.

Em 1964, conspirou com os militares para a virada de mesa, acreditando na promessa de que, depois de alguns meses de limpeza na casa com métodos não exatamente democráticos, os fardados devolveriam o poder aos civis. 
Contudo, verdade seja dita, quando a assinatura do AI-5 deixou evidenciado que não haveria redemocratização nenhuma, mas, pelo contrário, um terrorismo de Estado cada vez mais exacerbado, foi o grupo de imprensa que mais corajosamente combateu a ditadura.

Fez tudo ao seu alcance para mostrar a realidade dos fatos, o que transformou
O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde em verdadeiras colchas de retalhos (o primeiro substituía os trechos que censores vetavam por poesias e o segundo por receitas culinárias, mas o espaço nunca era preenchido por outras matérias com assuntos diferentes).

E seus proprietários se mantiveram altaneiros, não foram submissos à ditadura como  os concorrentes da Folha de S. Paulo. Quando os agentes do DOI-Codi tentaram entrar no prédio da rua Major Quedinho para prender alguém na redação, um diretor disse a célebre frase: "Lá fora ele pode ser comunista, mas aqui dentro ele é meu jornalista".

Mandou que os seguranças ficassem a postos para repelir qualquer tentativa de invasão e, com a intermediação do governador Abreu Sodré, ficou acertado que o ambiente de trabalho seria respeitado. Aí foi o próprio diretor que saiu do prédio com o procurado no porta-malas e o abrigou em seu sítio.

E, quando se deu o assassinato de Vladimir Herzog, foi o único grupo jornalístico que fez questão de que seus profissionais, ao serem intimados para depor no mesmo inquérito, fossem invariavelmente acompanhados por um
diretor da empresa. 

Isto não passou de repetição da postura adotada na ditadura anterior, a de Getúlio Vargas, quando o Estadão ficou sob intervenção cinco anos e meio, entre 1940 e 1945, tendo inclusive o diretor Francisco Mesquita permanecido preso durante 40 dias. 

Até hoje esses cinco anos e meio não são considerados pelo jornal como parte da sua história, já que lhe tiraram a liberdade para publicá-lo segundo os próprios critérios.

Noblesse oblige, assumiria a mesmíssima postura na ditadura dos generais e, agora, no desgoverno ultradireitista. 

O que nem então, nem agora, o impediu de criticar a esquerda incansavelmente. Mas, em todas essas situações, era mais fácil enfrentarmos quem travava contra nós batalhas de opinião do que quem nos queria exterminar fisicamente. (por Celso Lungaretti)

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